Geórgia Faust (PSOL) fala sobre meio ambiente, educação e reforma administrativa

Blumenauense já concorreu ao cargo de deputada estadual em 2014 e 2018

Idade: 38 anos
Naturalidade: Blumenau
Profissão: Professora de ensino fundamental
Grau de instrução: Ensino Superior completo
Número na urna: 
50

Confira o perfil completo da candidata. 

A blumenauense já morou nos bairros Garcia, Velha, Victor Konder, Ponta Aguda, Escola Agrícola e atualmente reside no Tribess com a filha Olívia, de 2 anos e 9 meses. Pedagoga e professora de inglês, Geórgia é mestre em Educação. Atualmente, ela atua como professora efetiva da rede estadual de ensino e coordena o Núcleo de Estudos de Gênero da Furb.

A candidata também é fundadora do Coletivo Feminista Casa da Mãe Joana e presidente do Instituto Feminista Nísia Floresta. Já concorreu a deputada estadual em 2014 e 2018. Seu vice é Joel Rodrigo Howe, também do PSOL.

Se preferir, ouça a entrevista no podcast do jornal O Município Blumenau no player abaixo:

Geórgia trouxe sua visão sobre as reformas administrativas necessárias no município, a implantação de um transporte coletivo com Tarifa Zero e a importância da questão ambiental para a cidade e a economia local.

“Blumenau sempre foi governada para beneficiar os grandes e ricos. A prioridade nunca foi o bem estar da população. Nós não temos rabo preso. Não devemos favores à ninguém. Somos usuários da educação, transporte e saúde pública. Temos a coragem e conhecimento para implantar o que é melhor para o público blumenauense”, defende a candidata.

Assista à entrevista na íntegra:

O desemprego e a informalidade são dois grandes problemas em Blumenau. De que maneira o seu governo ajudaria para melhorar esses índices e ampliar a geração de empregos formais?

Nosso plano de governo tem inúmeros projetos sociais que vão beneficiar a população como um todo, incluindo os pequenos produtores, pequenas empresas e empresas familiares. É até difícil dizer o ponto que vamos aplicar para fomentar a empregabilidade em Blumenau porque tudo no nosso projeto diz respeito à isso.

Como queremos implantar a Tarifa Zero e um meio de transporte mais acessível à população, vamos trazer mais pessoas ao Centro e aquecer o comércio local e a economia. Quando falamos em ampliar os programas de assistência social, valorizar mais os profissionais, diminuir as terceirizações, principalmente na educação e na saúde, estamos falando de uma qualidade maior do emprego.

Como pretendemos governar para o povo, e não para uma elite econômica, tudo no nosso plano de governo visa beneficiar a população que mais precisa, incluindo os desempregados, moradores das periferias e quem não tem acesso aos serviços públicos de qualidade. 

Você afirma que irá utilizar imóveis públicos vazios em programas de moradia popular. Como esse programa funcionaria e quais pessoas estariam aptas a morar lá?

Projetos de moradia popular nada mais são do que a aplicação do Estatuto da Cidade. Temos em inúmeras cidades do Brasil um problema sério de imóveis desocupados. Em Blumenau são em torno de 6 mil. A função social dos imóveis também prevê isso. Eles precisam estar sendo utilizados.

Pretendemos instaurar o IPTU progressivo de verdade. Revisar o que tem sido feito pela prefeitura até agora. Imóveis que não estiverem sendo utilizados por cinco anos, serão direcionados para moradias populares para pessoas que realmente precisam ao invés de ficar ao dispor do capital, do lucro e da especulação imobiliária.

Hoje a prefeitura gasta mais de 50% com folha de pagamento. A senhora propõe contratar mais funcionários públicos para fazer os serviços que a prefeitura presta na cidade. Não seria perigoso inchar ainda mais a máquina por ser um custo a longo prazo?

Temos vários planos relacionados a isso. Quando falamos em ampliar os funcionários públicos, estamos falando de funções essenciais. Hoje, a maioria dos professores que estão em sala de aula são contratados em caráter temporário. Isso é extremamente nocivo para a qualidade da educação.

Também prevemos concurso público para doulas certificadas. Isso tem uma relação muito importante com a saúde de Blumenau, pois as futuras mães precisam de um atendimento de altíssimo nível nesse momento tão delicado.

Por outro lado, também queremos a redução dos cargos comissionados. Manter somente primeiro e segundo escalarão, com diretores e secretarias, e o restante sendo funcionários de carreira. Isso acabaria também com o troca troca da politicagem. Somos contra esse tipo de negociata.

Além disso, os cargos de primeiro e segundo escalão terão paridade de gênero. No mínimo 50% de mulheres. Somos 52% do eleitorado e temos competência de ocupar 52% dos cargos de poder e decisão da cidade.

Uma das nossas primeiras metas é reorganizar essas contas, pois a prefeitura gasta muito dinheiro com investimentos ruins. Como, por exemplo, isenções fiscais. Quem ganha isenção em Blumenau é quem não precisa, a elite econômica. Se alguém for ter, tem que ser o pobre, que precisa de ajuda financeira.

Outra questão que queremos combater nos gastos públicos são as subvenções para ONGs. Com o fortalecimento da educação pública, esses quase R$ 5 milhões não vão precisar ir para creches privadas ou ONGs confessionais.

E a própria questão da licitação e da concessão do transporte coletivo. Blumenau gasta demais por um transporte coletivo que não nos atende. É um gasto que pretendemos cortar. Blumenau pagou quase R$ 8 milhões para BluMob  quando praticamente não tivemos serviço de transporte.

Poderíamos ter construído quase oito novas creches. É muito simplista dizer que não tem dinheiro para investir em educação e contratar professores efetivos ao mesmo tempo em que com uma sessão na Câmara de Vereadores eles conseguem aprovar esse repasse.

A senhora pretende implantar a Tarifa Zero em Blumenau. Mas o transporte coletivo já é desconfortável, não tem ar condicionado, os ônibus demoram. Isso não quebraria a empresa?

O serviço é mal prestado justamente porque a empresa privada tem como prioridade o lucro e não o bem estar das pessoas. Eles justificam que os ônibus não têm a qualidade adequada porque a população optou pelo Wi-Fi ao invés do ar-condicionado. A empresa ganha muito bem para poder fornecer todo o conforto.

Os veículos são muito ruins, não trazem conforto nenhum, cada vez menos linhas cobrindo cada vez menos locais, horários proibitivos. Mas quanto mais lotado estiver o ônibus, mais feliz a empresa fica. Porque é mais dinheiro por menos. Então é óbvio que não é do interesse da BluMob colocar mais veículos na rua e dar mais conforto pros usuários.

Quando você municipaliza o transporte coletivo, você inverte essa lógica. A empresa do município vai poder privilegiar o bem estar do cidadão ao invés do engordamento dos cofres. Hoje em torno de 50% da renda da BluMob vem do vale transporte. Esse valor pode continuar indo para o Fundo Municipal de Mobilidade Urbana e ajudar a financiar a Tarifa Zero.

Estamos estudando outros planos, como a própria questão do IPTU progressivo e redirecionamento de dinheiro de multas ou propaganda em ônibus pode ir para o Fundo, que viabilizaria a Tarifa Zero. Mas não é um projeto que se implanta da noite pro dia, podemos até fazer aos poucos paralelamente à BluMob.

Durante a pandemia, o trade turístico foi um dos setores mais afetados. De que maneira o seu governo contribuirá para retomada do turismo e grandes eventos da cidade?

Temos bastante claro no partido que Blumenau precisa ampliar seu leque de alternativas para o turismo. Hoje tudo está muito focado no Parque Vila Germânica e eventos de tradição alemã. Faz parte da identidade de Blumenau e não vamos descontinuar isso, mas queremos trazer alternativas para a cidade.

Isso envolve uma reforma na cidade como um todo, pois toda ela precisa ser pensada nesse sentido turístico. Hoje, Blumenau concentra as atividades econômicas e o turismo numa região central muito pequena. Apenas essa região recebe atenção dos nossos governantes. Tanto na decoração para os eventos quanto para urbanização.

Acreditamos no potencial turístico de Blumenau como um todo. Temos um carinho especial com o ecoturismo e questão ambiental. Isso envolve sair do Centro e repaginar os bairros. Não apenas para questões turísticas, mas pensando na cidade para todos. Se for atraente e transitável para os moradores, será para os turistas.

Blumenau fica num vale com belezas naturais incríveis. Eu, como ciclista, já fiz muitas trilhas e sei como a cidade tem lugares para conhecer e passear que são subutilizados. O turismo de aventura e ecológico movimenta muitos turistas e a economia.

Quais são os projetos e políticas públicas que a candidata irá adotar na coleta seletiva, hortas comunitárias, restauração dos rios e açudes poluídos?

Este assunto me interessa muito. Sou uma mulher vegana, ciclista urbana, pratico esportes e reivindico o ecossocialismo. Uma preocupação global com o meio ambiente e o bem viver – a integração dos seres humanos com a natureza, de onde nunca deveríamos ter nos desligado.

Certamente a coleta seletiva precisa ser fortalecida. Não cobre toda cidade e não acontece na frequência que gostaríamos. Temos uma ideia para complementar, que é a revolução dos baldinhos. Um projeto de muito sucesso em Florianópolis, que instala composteiras comunitárias. Todo rejeito orgânico acaba indo na sacolinha de mercado para o aterro sanitário, o que para nós é um desastre ambiental.

As hortas comunitárias também são de fundamental importância para nós. Elas melhoram a qualidade de vida nas comunidades que são implantadas, podem ser trabalhadas junto das composteiras e melhoram a integração entre as pessoas e o meio ambiente. Alimentando a comunidade, a unidade escolar e de saúde.

Há muitos anos a Prefeitura de Blumenau tem duas dívidas graves: com o ISSBLU e a Furb. Como resolver?

Como comentei, a primeira coisa que pretendemos fazer é organizar as gavetas da prefeitura. Tem muito dinheiro indo para onde não deveria ir, como empresários, e pouco dinheiro indo para onde realmente precisa ir. Quitar essas dívidas é uma das nossas prioridades.

Nós respeitamos os servidores públicos municipais. Eles precisam dessa segurança para previdência deles. E o mesmo para os funcionários da Furb. Precisamos priorizar e valorizar nossa universidade.

Você quer reduzir a medicalização e psiquiatrização, pois “nem todas queixas devem ser tratadas como doença e com remédios. Dando autonomia ao paciente”. Isso tiraria autonomia do médico? Como a prefeitura pode dar mais voz ao paciente?

Não tiraria a autonomia do médico. O que eu vejo hoje, com meus alunos e mulheres que atendo no instituto feminista Nísia Floresta, é que se tornou muito simples resolver todos os problemas de qualquer pessoa com medicamentos.

Blumenau uns anos atrás foi considerada uma das cidades que mais faz uso de Fluoxetina no Brasil. As mulheres são as principais usuárias, até por conta de sua situação precária na sociedade. Elas buscam o médico reclamando de inúmeras situações que poderiam ser resolvidas com uma qualidade de vida melhor e muitos médicos receitam o medicamento.

Crianças com dificuldade de aprendizagem são encaminhadas ao neurologista e medicadas com Ritalina, remédio para deficit de atenção e hiperatividade. Temos uma parcela muito grande da população constantemente medicada com remédios muito fortes.

Nossa proposta não é proibir nenhum medicamento. Sabemos que são necessários em muitos casos. Pregamos a atenção básica via ESF. Somos contrários aos AGs, esse é um formato que é uma aberração blumenauense que não faz parte do programa do SUS. Não visa a prevenção e vida em comunidade como os ESFs.

O NASF também é fundamental, Núcleo de Apoio à Saúde da Família, e Blumenau é uma das únicas cidades de Santa Catarina que não tem. Consiste em uma equipe multidisciplinar que presta assistência aos ESFs, que é um time pequeno de trabalhadores. O NASF oferece fisioterapeuta, pediatra, nutricionista, arte-educador… Um arsenal de profissionais que pensam em soluções para a comunidade.

Quais suas propostas referente aos impostos municipais? Haverá alguma redução ou alteração?

O único imposto que estamos debatendo é o IPTU. Como falei anteriormente, queremos revisar a questão do IPTU progressivo em Blumenau. Ele já acontece, porém, de um jeito que considero deficitário. Queremos aprimorar dentro daquilo que estabelece o Estatuto da Cidade.

Quem tem mais dinheiro precisa pagar mais. Quem tem imóveis desocupados, ainda mais. De acordo com o Estatuto da Cidade de 2001 já previa essa função social da propriedade. Se não estiver em uso, o IPTU será progressivamente aumentado durante cinco anos e, ao final desse tempo, as providência serão tomadas.

A senhora é favorável para que os terminais urbanos da cidade ofereçam outros serviços, como Procon, marcação de consultas ou rematrícula de escolas municipais?

Não planejamos isso. Não vejo problema. Serviços públicos municipais devem sim ser descentralizados. É muito difícil para a população acessar determinados serviços quando o deslocamento é muito grande, tem muita fila, parece que tudo é muito dificultado. Mas eu não concordaria se fossem outros tipos de serviço, como questões privadas. Um centro comercial em uma parte do terminal, por exemplo.

A pandemia mostrou que podemos evoluir na Secretaria de Educação, por exemplo. Existem outras maneiras de se levar educação para as crianças, como as plataformas de ensino e o home schooling. O que a senhora acha isso?

É um assunto muito complexo. Eu, como professora da rede estadual, também fui pega de surpresa e tive que me adaptar ao ensino remoto, aprender a ser youtuber em 24 horas e aprender a usar várias ferramentas que não estava habituada a usar. Esse discurso de que a educação remota deu certo é uma falácia. Quem é pai ou mãe de crianças da rede pública e até particular sabe que é mentira que a educação chegou em todos os lares.

A própria Secretaria de Educação se contradiz, porque, ao mesmo tempo em que ela garante que todo mundo aprendeu, ela também diz que não vai ter boletim e todos serão aprovados. Se todas as crianças tivessem aprendido, poderia ter algum tipo de avaliação no fim do ano. Eu até acho que é certo as crianças não reprovarem, a questão é a mentira que tem sido contada.

Há três meses o Estado lançou uma notícia dizendo que o ensino remoto era um sucesso. Que estava atingindo 97% das crianças. Eu estou em sala de aula e nem 10% dos meus alunos são atingidos de maneira adequada. Mais da metade da minha turma não está usando o sistema, está pegando as atividades impressas.

Nossas crianças não têm acesso de qualidade à internet, banda larga ou celular, computador e tablet. As aulas ao vivo não estão funcionando. O ensino remoto não vai funcionar sem toda uma infraestrutura que a prefeitura não dispõe de caixa para bancar a tecnologia para todos alunos.

Essa é uma educação excludente. Muitos alunos meus se quer conseguiam baixar o aplicativo Google Sala de Aula porque o celular é ultrapassado. O ensino remoto foi um fracasso completo, mas não foi por falta de esforços dos professores, mas por questões sociais.

Já o home schooling é um debate muito complicado. Não vou negar que já flertei com a educação domiciliar e com o movimento unschooling uns anos atrás. Vejo inúmeras falhas na escola, mas reconheço hoje que o home schooling veio de fontes fundamentalistas conservadoras religiosas. A maioria dos defensores quer privar suas crianças do convívio com o diferente.

A função social das escolas é ensinar às crianças não só português e matemática, mas também a serem cidadãos, conviverem com o diferente, debater politicamente, tratarem com respeito quem pensa diferente. Pra isso é fundamental uma escola pública de qualidade.

Em seu plano de governo você afirma que irá garantir as condições de atendimento da Delegacia de Polícia de Proteção à Mulher, à Criança e ao Adolescente, ampliando para abranger também a proteção e atendimento especializado à população negra, povos originários, pessoas com deficiência e vítimas das demais violências de gênero e LGBTQIA+. De que maneira seu governo pretende interferir em uma delegacia que faz parte das atribuições do estado e não do município?

Sabemos que as delegacias são competências do governo estadual. Mas no governo vamos fazer essa articulação e essa pressão para que o serviço prestado pela delegacia seja a contento para as necessidades da população blumenauense. É mais um projeto de articulação política do que algo que podemos fazer entrando no governo.

Eu trabalho com atendimento de mulheres vítimas de violência doméstica e sexual. Na Delegacia de Proteção temos funcionários e delegados que têm muita boa intenção, porém, são violentados por um descaso do governo estadual em relação à delegacia.

As instalações são indefensáveis, não tem acessibilidade, não tem sequer bebedouro. Os funcionários da delegacia precisam fazer vaquinha com o próprio salário para trocar lâmpada. Por melhor que seja o atendente que tome o depoimento da mulher, a sala não tem divisória, apenas um biombo. A mulher que sofreu uma violência não tem sequer privacidade para relatar seu caso para o escrivão.


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