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“O jornal nos coloca como extremamente racistas, o que não é verdade”

Vice-prefeita de Pomerode avalia que jornalista alemão não compreendeu o contexto político nacional ao tratar de extrema direita e nazismo

A reportagem do jornal alemão Süddeutsche Zeitung que relaciona Pomerode à extrema direita e ao nazismo gerou descontentamento entre moradores da cidade. O assunto, abordado nesta quarta-feira, 2, por O Município Blumenau, provocou repercussões nas redes sociais e também na administração municipal.

A vice-prefeita Gladys Sievert (PSDB) foi uma das pessoas entrevistadas pelo jornalista Boris Herrmann. Ela ainda não teve acesso a todo o texto do periódico alemão (a reportagem está em uma área para assinantes), mas afirmou que o autor não compreendeu o contexto nacional da eleição de Jair Bolsonaro. Gladys garantiu que imigrantes não são um problema para Pomerode.

A reportagem faz uma descrição justa da cidade?

A primeira parte que li, pelo o que entendi, ele nos coloca como extremamente racistas, o que não é verdade. Novamente, né? Porque essa reportagem já circulou em nível nacional por conta de uma ação que uma pessoa fez dentro do imóvel dela, colocando a suástica no fundo da piscina. Isso não pode ser colocado como uma ideia da população. Não é o pensamento da comunidade e muito menos da gestão municipal.

Nós temos muitos imigrantes do Brasil inteiro, do Nordeste, que vêm em busca de trabalho e conseguem. Temos imigrantes do exterior, como por exemplo os haitianos, que vivem aqui e construíram sua família, têm seu emprego e se integram a nossa comunidade, acabam se adaptando a nossa cultura. E não há problema nenhum.

A senhora acredita que a vinda de pessoas de fora prejudica Pomerode?

Não, acho que não. Dificulta para nós o trabalho da manutenção da cultura alemã herdada, das tradições. Mas isso acontece no mundo todo. A miscigenação faz com que a gente tenha que trabalhar cada vez mais na preservação da cultura, mas isso é um trabalho que fazemos, nas escolas, nos clubes de caça e tiro. Até as pessoas que vêm pra cá acabam absorvendo isso e vivem isso no seu dia a dia sem problema.

Então a senhora não relacionou a criminalidade e a sujeira nas ruas aos que vêm de fora?

Eu me lembro bem o que disse. Eu falei o seguinte: Pomerode está entre duas cidades muito grandes, entre Blumenau e Jaraguá do Sul, que são polos emissores de contraventores, por serem cidades maiores. E nós, aqui no meio, recebemos esse pessoal, e eles vêm pra cá. Então, claro, são pessoas de fora. Eles vêm pra cá e nós sofremos juntos os problemas de Blumenau pela proximidade com a Itoupavazinha e Jaraguá também. Mas eles não vivem aqui. Eles vêm, praticam os crimes e vão embora. Mas são crimes pequenos, como furtos. Não são pessoas daqui, são pessoas que moram fora. O jornalista deve ter entendido que eram migrantes, que vêm pra cá e moram aqui.

Eu li a primeira frase (da reportagem), que diz que somos extremamente racistas, pelo fato de ter votado em massa na extrema direita e ter aquele cidadão com a suástica na foto. O problema é o seguinte: ele (o jornalista) se esquece que esse contexto da eleição do Bolsonaro é uma revolta nacional contra a situação de corrupção no Brasil como um todo e na Alemanha, infelizmente, eles não entendem essa questão.

Inclusive o nosso prefeito, na época da eleição do Bolsonaro, estava na Alemanha, acompanhou a mídia lá e eles colocaram o Bolsonaro como uma pessoa racista, de extrema direita. Pintaram um quadro do Bolsonaro totalmente diferente do que ele é. E eu acho que é isso que esse jornalista tentou identificar e também passar aqui. Não confere com a realidade. Ele não leu o contexto nacional da eleição do Bolsonaro.

Como a senhora analisa a preferência massiva por Bolsonaro em Pomerode?

É uma tendência de insatisfação com esse momento político de corrupção, esse quadro nacional na política… Também essa questão do socialismo, que através do PT tomou conta do Brasil e que gera descontentamento na população como um todo. Pomerode não é uma ilha, estamos dentro desse contexto e por conta disso todo mundo se abraçou e votou contra os vermelhos, contra o socialismo e contra a esquerda. Abraçamos a causa do Bolsonaro. Não era pensando em votar na extrema direita, mas sim votar contra a esquerda. E era a opção que a gente tinha.

A senhora pretende enviar algum tipo de resposta ao jornal alemão?

Vamos ver. Eu primeiro preciso entender bem certinho o que está acontecendo.