Cannabis promove avanços no tratamento de sintomas para autistas
Dia 2 de abril é o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo.
A data, estabelecida em 2007, tem por objetivo difundir informações para a população sobre o autismo e assim reduzir a discriminação e o preconceito que cercam as pessoas afetadas pelo transtorno.
Segundo dados do CDC (Center of Diseases Control and Prevention), órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, existe hoje um caso de autismo a cada 110 pessoas.
Dessa forma, estima-se que o Brasil, com seus 200 milhões de habitantes, possua cerca de 2 milhões de autistas.
O transtorno
O autismo é um transtorno de desenvolvimento que compromete as habilidades de comunicação e interação social.
O grau de comprometimento é de intensidade variável e devido a essa variabilidade hoje é chamado de Transtorno do Espectro Autista (TEA).
É por volta dos dois anos de idade que pais de crianças do espectro autista notam os primeiros sintomas: introspecção, agressividade e dificuldade de comunicação.
Porém, essa condição normalmente segue para a vida adulta. As pessoas afetadas pelos TEAs frequentemente têm condições comórbidas como epilepsia, depressão, ansiedade e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
A médica integrativa Dra. Caroline Fontes, da clínica Gravital – especializada em tratamentos com cannabis medicinal, explica que os sintomas, os sinais e a gravidade do autismo variam de pessoa para pessoa.
“Existem vários níveis. Muitos conseguem viver de forma independente e outros precisam de auxílio, de ajuda e um tratamento multidisciplinar é fundamental nesses casos, que envolve psicoterapia, suplementação e mudanças no estilo de vida”, explica.
TRATAMENTOS COM CANABINOIDES
Inúmeros estudos (links ao final) começam a indicar a terapia à base de cannabis como uma terapêutica eficiente para o tratamento do TEA.
É o caso do menino Sebastian Bichet Flies Breves, de quatro anos, diagnosticado com autismo com um ano e dois meses, em grau moderado e também com epilepsia.
A mãe dele, Daniele Bichet Flies Breves conta que ele sofria muito com insônia e agressividade, chegando a dormir apenas 3 a 4 horas por dia, o que interferia muito na qualidade de vida do filho.
“Por conta disso, ele tinha crises nervosas durante o dia, e elas duravam 45 min a 1 hora. Ele se agredia batendo a cabeça na parede e nos agredia também e ficava extremamente agitado. Ele também se alimentava muito mal”, relembra a mãe.
Daniele acrescenta que procurou assistência médica multidisciplinar, incluindo terapia ocupacional, fonoaudiologia e musicalização e em seguida ficou sabendo sobre o tratamento com cannabis medicinal.
“Como descobri a epilepsia dele mais cedo, ele era medicado com remédios alopáticos, mas conheci a terapia canábica pela internet assistindo a lives e fóruns na internet. Entrei em alguns grupos para buscar informações e saber a sua eficácia”, relembra.
Resultados
Logo depois ela descobriu Gravital, clínica especializada em cannabis, e marcou a primeira consulta. Segundo ela, o tratamento com o óleo de CBD no início foi difícil, mas depois de 3 meses tudo mudou.
“Ele ficou bem mais calmo, passou a dormir a noite inteira e a se alimentar muito melhor, aumentando a quantidade. Ele está mais curioso sobre os alimentos, experimentando tudo. Não respondia aos nossos chamados, e agora responde quando a gente chama. Também melhorou as respostas da terapia e as atividades caseiras como banho e brincadeiras. Antes ele pegava os brinquedos e jogava, agora, ele entende a função do objeto. Ele sabe como brincar com cada um deles. Ele tinha medo de pula-pula, por exemplo, e hoje ele pula na cama.”, comemora.
“O Sebastian diminuiu bastante a agressividade, o que é um alívio. E como ele é não verbal agora já consegue apontar para as coisas que ele quer e com isso eu fico muito mais tranquila e feliz. Meu sonho é que ele seja o mais independente possível e ir para a faculdade, ter um relacionamento. Por isso, nós fazemos questão deste tratamento e indicamos para todas as famílias com crianças autistas”, conclui.
A Dra. Caroline Fontes afirma que tem observado na prática, que o uso de cannabis para autismo atua nas mais diversas formas, principalmente comportamentais.
“Tenho visto uma grande melhora na socialização, nos níveis de ansiedade, qualidade do sono, e até mesmo na seletividade alimentar que costuma ser muito comum nesses casos. As mães costumam se surpreender em muitos casos com rapidez das respostas ao tratamento e consequente melhora na qualidade de vida desses pacientes”, afirma.
ESTUDOS
O canabidiol demonstrou ser benéfico para crianças com autismo. Em um estudo de 2021 com 60 crianças que utilizam a cannabis rica em CBD, surtos comportamentais foram melhorados em 61% dos pacientes, problemas de comunicação em 47%, ansiedade em 39%, estresse em 33% e comportamento disruptivo em 33% dos pacientes.
Também foram avaliados qualidade de vida, do humor, assim como a capacidade de realizar atividades cotidianas, antes e após seis meses de tratamento com cannabis. Boa qualidade de vida foi relatada por 31,3% dos pacientes antes do início do tratamento, enquanto, após 6 meses, boa qualidade de vida foi relatada por 66,8%.
O autismo severo traz enormes desafios tanto para o paciente como para seus cuidadores. A medicina canábica pode ser de grande ajuda no tratamento dessa condição tão impactante.
Referência(s):
Bar-Lev Schleider L, Mechoulam R, Saban N, Meiri G, Novack V. “Real life Experience of Medical Cannabis Treatment in Autism: Analysis of Safety and Efficacy.” Scientific Report. 2019 Jan 17;9(1):200.