O transtorno dismórfico é frequentemente identificado por cirurgiões plásticos de todo o Brasil no dia a dia dos atendimentos aos pacientes.

A denominada “síndrome da feiura imaginária” ganhou holofotes nos últimos dias devido a declaração da atriz Megan Fox, de 37 anos, que reconheceu sua dismorfia corporal durante uma entrevista.

A atriz norte-americana Megan Fox, de 37 anos, reconheceu sua dismorfia corporal durante uma entrevista recente. Reprodução/Internet/Getty Images

A condição de Megan é recorrente e de acordo com o cirurgião plástico da face e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), Yuri Moresco, ainda mais fácil de ocorrer no rosto após o início da utilização dos filtros digitais e o fácil acesso aos procedimentos estéticos não invasivos.

“Se antes os pacientes chegavam no consultório com a folha da revista que constava uma atriz ou um ator famoso, atualmente eles chegam com uma foto completamente modificada de si mesmos. Até mesmo a assimetria, que é algo natural da face, tem incomodado”, diz.

Dismorfia facial é impulsionada por filtros nas redes sociais. Saiba mais. Divulgação

O cirurgião explica que grande parte das pessoas de fato não se enxergam como são, já que a grande maioria das fotos de hoje são por celular, que distorcem a imagem, mas que isso, até certo ponto, é natural.

Contudo, o dismorfismo ocorre quando a pessoa começa a buscar defeitos onde não existem ou se incomodar demais com características que acabam levando à baixa autoestima e até mesmo ao isolamento.

“A face é a região mais exposta do corpo e a que causa mais impacto. Como médico, tento salientar que a beleza está nos aspectos naturais. A cirurgia plástica precisa ser um aprimoramento e não uma mudança exagerada”, argumenta Moresco.

Quando o transtorno dismórfico corporal (TDC) é identificado em consultório, o paciente é encaminhado para um acompanhamento psicológico.

“Nesses casos eu acabo optando por não seguir com a cirurgia e solicito ao paciente que primeiro faça um acompanhamento psicológico. Isso porque o paciente com dismorfia dificilmente vai ficar satisfeito com o resultado cirúrgico porque nem ele mesmo sabe o que de fato está incomodando. Já tive casos de solicitação de transplante de face porque o paciente realmente queria ser uma outra pessoa completamente diferente”, revela o cirurgião.

De acordo com os últimos dados sobre o assunto, o TDC atinge cerca de 4 milhões de brasileiros e aproximadamente 2% da população global.

“Os filtros digitais, assim como o acesso aos procedimentos estéticos não invasivos, de menor complexidade, com toda certeza elevaram esse número nos últimos anos. Faz parte do papel do cirurgião plástico conscientizar sobre os parâmetros de perfeição que na verdade não existem”, finaliza Yuri Moresco.