Realizar intervenções cirúrgicas para prevenir ou tratar problemas de origem traumática ou patológica é algo comum na medicina, mas nem sempre é encarado com naturalidade pela sociedade.

A estomia intestinal é um desses casos, uma modalidade de cirurgia geral para a abertura do órgão interno até a superfície do corpo, a fim de auxiliar na saída de fezes e urina.

Os pacientes que realizam esse tipo de procedimento precisam conviver com a bolsa de estomia e também com o preconceito.

Segundo dados obtidos pela Associação Brasileira de Ostomizados, estima-se que no Brasil haja uma população de aproximadamente 50 mil estomizados. No entanto, muitas pessoas costumam ficar com os aparelhos escondidos por baixo das roupas, evitando a presença de olhares preconceituosos.

Para quebrar esse tabu e conscientizar sobre o procedimento, o ator e modelo Luciano Szafir desfilou na edição da São Paulo Fashion Week de 2021 exibindo sua bolsa de estomia. O artista precisou ser submetido a uma cirurgia para retirar a alça intestinal e colocar o aparelho no cólon após apresentar complicações oriundas da Covid-19.

Luciano Szafir desfila na São Paulo Fashion Week com bolsa de estomia quatro meses após receber alta. (Foto: Carla Carniel/Reuters)

Cabe ressaltar que desde 2015 pessoas que realizam esse procedimento e utilizam a bolsa de estomia são consideradas PCDs por lei em todo o território nacional (Lei 13.146/2015).

O que é a cirurgia de estomia intestinal? 

A estomia, segundo a Associação Brasileira de Estomaterapia, é uma palavra de origem grega que apresenta o significado de “abertura”, “boca” e “orifício”. Na medicina, o nome é utilizado para se referir a uma abertura de um órgão interno para o ambiente externo.

De acordo com a Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde, quando esse procedimento ocorre no intestino, a finalidade é construir um novo caminho para que o organismo elimine urina e fezes.

Além disso, as estomias podem ser definitivas, em que os pacientes precisarão conviver com ela durante toda a vida, ou temporárias. No último caso, o período de uso da bolsa depende do quadro do paciente. A abertura é fechada por meio de uma nova intervenção cirúrgica, segundo a Associação Brasileira de Estomaterapia.

Quando esse procedimento é indicado?

Os motivos que levam um paciente a realizar esse tipo de intervenção cirúrgica são diversos. Segundo a Biblioteca Virtual em Saúde, alguns casos podem estar associados a doenças crônico-degenerativas como câncer, doenças inflamatórias, malformações congênitas, traumas abdominoperineais, doenças neurológicas e outras.

Cabe ressaltar que as condições que podem resultar em uma estomia não se restringem a faixa etária, sendo assim, o procedimento pode ocorrer desde neonatos até idosos.

Segundo o Guia de Atenção À Saúde da Pessoa com Estomia, elaborado pelo Ministério da Saúde, essa intervenção cirúrgica e o uso da bolsa podem ser desafios para a maioria das pessoas e, por esse motivo, é necessário assistência e orientação sobre os cuidados.

Conforme explica o Ministério da Saúde, os pacientes que possuem essa condição precisam receber auxílio da equipe médica, com informações seguras sobre o autocuidado. Além disso, essas pessoas também necessitam de equipamentos coletores que ajudam no processo de reabilitação, que variam de acordo com a faixa etária, tipo de estoma e outras características.

Embora seja algo que proporcione mais qualidade de vida, a adaptação no início pode ser complicada. Segundo o Ministério da Saúde, é importante que esses pacientes tenham uma rede de apoio com familiares, profissionais da área da saúde e psicólogos.

Preconceito é a principal barreira dos pacientes estomizados

Lidar com um objeto novo no corpo não é uma tarefa fácil no começo da adaptação da bolsa de estomia, principalmente diante dos olhares da sociedade, carregados de preconceitos.

Para essas pessoas, além de políticas públicas e apoio de qualidade, falta a conscientização da população sobre esse tipo de procedimento. Uma das medidas tomadas para auxiliar no combate ao preconceito por meio da informação foi a criação do Dia Nacional dos Ostomizados, em 16 de novembro, pela Lei nº 11.506/2007.

Além disso, oo tema em plataformas digitais também vem sendo abordado pelos ostimizados para levar conhecimento às pessoas. A influenciadora Lorena Eltz, por exemplo, utiliza seus canais de comunicação para falar sobre o assunto.

Lorena Eltz compartilha fotos com sua bolsa de estomia e fala sobre autoestima. (Foto: Reprodução/Instagram)

A jovem de 22 anos possui doença de Crohn, uma condição autoimune que afeta todas as camadas da parede do intestino. Nas redes sociais, ela compartilha seu dia a dia com a bolsa de estomia, conscientizando seus seguidores sobre o procedimento e combatendo o capacitismo.

Em uma publicação no Instagram, para celebrar o Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência, Lorena falou sobre sua relação com a estomia. A influenciadora contou que sua primeira cirurgia aconteceu aos 12 anos de idade, mas que, por não se reconhecer como uma mulher com deficiência, escondeu a condição durante muito tempo até decidir que precisava aprender a se olhar com mais afeto.

“Cansei de não ser eu, cansei de esconder. Foi quando decidi com medo mesmo mostrar minha bolsinha. Eu entendi que valia mais a pena eu ser livre para mostrar quem eu era do que ficar dependendo do julgamento dos outros. As pessoas podem falar, comentar, julgar ou até elogiar. Mas eu não ligo mais, eu realmente não me importo. Porque eu sou quem eu sempre quis ser”, contou Lorena, mostrando sua bolsa de estomia em um vídeo.