A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 15 milhões de pessoas morreram em todo o mundo por conta da covid-19. No entanto, enfrentamos diariamente outro mal que mata mais de 8 milhões de pessoas todos os anos: o tabagismo.
Para alertar sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao consumo de cigarros, a OMS criou em 1987 o Dia Mundial Sem Tabaco, celebrado em 31 de maio.
Este ano a campanha traz o tema “Tabaco: Ameaça ao Nosso Meio Ambiente”, para gerar uma conscientização pública sobre o impacto ambiental do tabaco desde o cultivo, passando pela produção, a distribuição e os resíduos pós-consumo.
Além disso, a fumaça do tabaco contribui para níveis mais altos de poluição do ar e contém três tipos de gases que provocam o Efeito Estufa.
Doenças causadas pelo tabagismo
O tabagismo causa aproximadamente 50 doenças diferentes e é responsável direto por mais de 80% dos casos de câncer de pulmão e mais de uma dezena de outros tipos de câncer, como esôfago, estômago, pâncreas, rim, bexiga, boca, laringe, faringe, garganta e mama.
“Doenças do coração como infarto, angina, acidente vascular cerebral (AVC), envelhecimento celular da pele, resultando no surgimento de rugas, também são provocadas pelo consumo de cigarro”, alerta a médica pneumologista do Hospital de Pulmão de Blumenau, Dra. Caroline Uber Ghisi.
E se consumo faz tão mal, por que é tão difícil deixar de lado? Entre as dificuldades para largar o tabagismo estão a questão do hábito e do vício químico.
“Cerca de 40% daquilo que nós fazemos no nosso dia a dia não são decisões reais nossas, são ações empurradas pelos nossos hábitos. Um exemplo clássico disso é a forma como prepararmos nosso café pela manhã. Peça a alguém que, todos os dias, prepara seu café em filtro para que mude o preparo para a cafeteira: este preparo precisará ser ‘repensado’, não sai de forma automática. E assim funciona com quase tudo aquilo que já é um hábito: a forma como arrumamos a cama pela manhã (ou não arrumamos), se lemos algum jornal pela manhã (caso a pessoa pare de ler, parece que ‘falta’ algo na manhã), e assim por diante. O hábito também vale para o consumo de cigarro. Imagine pedir para alguém que está acostumado a acender seu primeiro cigarro da manhã logo nos primeiros 10 minutos em que acorda para que, simplesmente, pare de fazer isso: o fumante sentirá falta (e muito!) deste hábito que já cultiva anos a fio. Tirar um hábito da rotina diária e trocá-lo por outro mais saudável é algo complicado, que exige esforço e disciplina”, lembra a Dra. Caroline.
Além do hábito, há o vício químico. A nicotina é a principal substância que existe dentro das diversas apresentações do cigarro, seja ele o tradicional, eletrônico (vapes), narguilé, charuto, cachimbo, dentre outros.
“A nicotina possui efeito importante a nível cerebral, pois produz dopamina de forma muito rápida. Em questão de três minutos a nicotina é capaz de inundar o nosso cérebro de dopamina. E porque ela é tão importante no nosso dia a dia? Ela age no centro neurológico responsável pelo prazer e motivação. Existem dois neuro-hormônios que são muito importantes para nossa sensação de prazer diária: a serotonina e a dopamina. Quando obtemos sucesso em algo, como um projeto novo no trabalho, por exemplo, ficamos felizes e liberamos a serotonina. Mas antes disso acontecer, precisamos estar motivados a buscar, a realizar, a fazer acontecer e quem proporciona essa motivação é a dopamina. Toda vez que alguém fuma o cérebro se sente ‘motivado’ pela busca em realizarmos coisas que vão nos gerar prazer futuro”, enfatiza a pneumologista.
Quem deseja largar o vício precisa encontrar novas formas de substituir a obtenção da dopamina na rotina.
“Quando o paciente entende isso, que quando ele parar de fumar ele tem que repor essa dopamina no cérebro para gerar motivação nas atividades diárias, ele começa a criar novos hábitos que também possam gerar produção de dopamina no lugar do cigarro. É fundamental adicionar algo diferente do que o paciente costumava ter na rotina, como aprender um novo instrumento musical, iniciar um novo exercício físico, estudar e aprender culinária, ou algo relacionado à artesanato, por exemplo – cada paciente vai procurar buscar aquilo que faz mais sentido para ele, qual atividade é mais prazerosa e cabe em sua rotina”, sugere a pneumologista.
Além disso, o médico especialista também está preparado para auxiliar no processo, com a inclusão, se necessário, de medicação orientada para combater o vício e a ansiedade gerada pala falta do cigarro.
Conheça os benefícios de parar de fumar para o organismo:
- Após 20 minutos – A pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal.
- Após 2 horas – Não há mais nicotina circulando no sangue.
- Após 8 horas – O nível de oxigênio no sangue se normaliza.
- Após 12 a 24 horas – Os pulmões já funcionam melhor.
- Após 2 dias – O olfato já percebe melhor os cheiros e o paladar já degusta melhor a comida.
- Após 3 semanas – A respiração se torna mais fácil e a circulação melhora.
- Após 1 ano – O risco de morte por infarto do miocárdio é reduzido pela metade.
- Após 5 a 10 anos – O risco de sofrer infarto será igual ao das pessoas que nunca fumaram.