Michele Lamin/Prefeitura de Blumenau
“Há boa intenção no projeto da Prainha, mas está anacrônico do ponto de vista ambiental”
Um elogio vale mais que dez críticas, diz a sabedoria popular, mas, nem sempre isso é possível.
No caso do projeto da praça da ex-Prainha da curva do rio na Ponta Aguda em Blumenau, reconheça-se a boa intenção dos que a conceberam e projetaram há uns 10 anos ou mais, então não é coisa apenas de hoje.
No entanto, que esse projeto, junto com a urbanização da margem esquerda, está urbanisticamente anacrônico do ponto de vista ambiental, não há como negar.
Especificamente sobre a charmosa Prainha, ela não existe mais na curva mais icônica do rio Itajaí-Açu. Sumiu. Foi morta por assassinato perpetrado pelo poder público de Blumenau de várias administrações e não apenas da atual e sob os olhares complacentes de muitos.
Se a Prainha não foi assassinada, no mínimo, foi defenestrada, porque, simplesmente, ela não está mais lá. No seu lugar, plantaram um horroroso enrocamento de pedras toscas, numa curva em arco tão perfeito quanto antinatural para qualquer curva de rio.
Para o cidadão desligado, tudo bem, tudo estará bonito na nova praça. Muitos certamente até apreciarão a concepção desta praça com espaços aplainados e delimitados por muros verticais junto à margem.
Quem tem um mínimo senso estético, porém, pelo menos na chegada, olhando para a direção da Av. Beira Rio, vai ter a sensação de que o rio Itajaí ficou num buraco. Não terá mais aquela harmoniosa visão de perspectiva, de ampliação da paisagem com o rio ao fundo, a não ser em ocasiões de cheias e enchentes, quando o rio sobe e aparece. Em situações normais, a visualização do rio passa a ser possível somente depois de certa aproximação dele.
Não havia necessidade nenhuma de aplainar os espaços da prainha defenestrada. Prova disso era a frequência de público que chegava aos milhares de pessoas quando de eventos artísticos tendo por palco a Concha Acústica ali existente ou quando de alguma atividade esportiva nas águas do rio. Todos se acomodavam bem, mesmo naquele terreno declivoso.
Em todo bom teatro ou casa de espetáculos o espaço da plateia não é plano, mas, sim, em aclive curvo, de formas que todos, mesmo os sentados bem atrás, possam ter boa visão do que acontece no palco. A praça da prainha, como está ficando agora, mais parece uma plateia de teatro plana, em que só os que estarão nas primeiras filas poderão ver bem o “espetáculo”, ou seja, a paisagem em perspectiva tendo o rio ao fundo.
A nova Praça Juscelino Kubitschek nem foi inaugurada e já foi danificada pela pequena enchente de 2022 e pelas também relativamente pequenas enchentes do ano passado, a maior delas não atingindo a cota de 11 metros.
Coisa de quem não sabia que em Blumenau ocorrem enchentes, como já comentado aqui. Imagine-se quando ocorrerem enchentes maiores, da ordem de 13 a 15 ou mais metros de altura. Se já deram um “kaputt” na Prainha, no caso de uma enchente grande, “kaputt” também para a praça!
Quem sabe, depois de destruída por uma grande enchente, que mais cedo ou mais tarde acontecerá, a ocupação daquele lugar seja feita da maneira certa, considerando um urbanismo com respeito e valorização do natural e que obedeça a uma visão de planejamento moderno e ambientalmente mais correto, visão esta que precisa estar sempre presente nas mentes dos planejadores urbanos de nossas cidades.
Uma das incursões de dois a quatro dias de caminhada floresta virgem adentro e longe da civilização, visando o conhecimento das Nascentes do Rio Garcia em Blumenau, promovidas por grupo de pessoas ligadas à Acaprena. Antes desses ambientalistas apenas profissionais ligados à Agrimensura ou caçadores clandestinos percorriam a área, todos do sexo masculino.
Quase que certamente pela primeira vez, embora não aparecendo nesta foto, pessoas do sexo feminino percorreram aquelas matas. O conhecimento gerado foi fundamental para a posterior criação do Parque Nacional da Serra do Itajaí em 2004. Foto Lauro Eduardo Bacca, em 15/07/1980.
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