Hotel de Blumenau se pronuncia após MC Trans acusar empresa de transfobia
Nota é assinada pelo advogado da empresa
O Hotel Salto do Norte se manifestou publicamente neste sábado, 15, sobre a acusação de transfobia da cantora e apresentadora MC Trans. Ela alega que não conseguiu se hospedar no hotel de Blumenau na última quinta-feira, 13. Segundo ela, o assessor teria feito a hospedagem, mas quando chegou no local a empresa teria dito que não hospedaria uma transexual.
Em nota divulgada no Instagram neste sábado, assinada pelo advogado Felipe Tribess, o hotel afirma que está apurando a situação e defende que o caso não teria ocorrido conforme narrado pela MC.
“A apuração preliminar dos fatos aponta para grande divergência entre a narrativa da ofendida e o que aparenta ser a verdade”, diz a nota.
Conforme o hotel, teria sido informado por telefone que haveria disponibilidade de um quarto, com acomodação para duas pessoas e check-out obrigatório às 12h do dia seguinte, por conta da lotação da Oktoberfest. “Após a ligação, estacionou um carro no pátio externo, e então somente o assessor da ofendida desembarcou do automóvel e se dirigiu à porta do hotel para fazer o “check-in”, relata.
A nota do hotel afirma que o assessor informou que as três pessoas da reserva pelo telefone chegaram e perguntou o valor para três pernoites. De acordo com o hotel, o funcionário afirmou que não poderia atendê-los nessas condições, “por questões de responsabilidade pelo conforto, segurança e estrutura”, alega o hotel.
A administração do hotel alega que não houve transfobia. “A negativa se deu sem o conhecimento prévio das características de gênero individuais das pessoas recém-chegadas, porque somente o assessor teria se apresentado até aquele momento. Há imagens de câmeras do circuito interno de segurança neste sentido”, defende.
Ainda segundo a nota, depois de ser informada sobre a não possibilidade de hospedagem, a MC Trans teria saído do carro e ido até o atendente para pedir esclarecimentos e ainda acusa a cantora de agir de “forma ríspida” e que fosse revisto o posicionamento sobre a lotação.
“Conservadores”
Em determinado momento, o atendente utilizou o termo “conservadores”. No vídeo publicado pela cantora, ela entende que não poderia se hospedar porque o dono do hotel seria conservador. Em defesa, o hotel afirma que o atendente teria utilizado o termo para “justificar o respeito da casa pela inviolabilidade das reservas desde o ano de 1996”.
A nota também diz que o homem, de 70 anos, “não sabia da politização da expressão”. E, conforme o hotel, quando o uso da palavra “conservador” que aparece no vídeo da MC, “veio através de nova tentativa desesperada do atendente, em estado de extrema ansiedade com toda a confusão, em explicar que desde 1996 a casa funciona sem privilegiar alguém”.
No vídeo publicado nas redes sociais, MC Trans conta que foi a pior transfobia que sofreu na vida e que vai processar o hotel. “Passei a pior transfobia da minha vida. Estou acabada, na chuva, sem hotéis livres, sem dignidade, me sentindo um lixo.”
Confira a nota na íntegra:
O Hotel Salto do Norte vem, através deste expediente, esclarecer, para todos os fins de direito e a quem possa interessar, que lamenta profundamente os episódios noticiados em plataformas sociais sobre fatos supostamente ocorridos em seu estabelecimento comercial e que tiveram repercussão a nível nacional. O Hotel Salto do Norte esclarece ainda, que não coaduna nem tolera qualquer tipo de discriminação, e repudia toda e qualquer violação aos princípios fundamentais constitucionais, principalmente o da isonomia [tratamento igualitário).
A administração informa ainda, que, ao menos até o fechamento desta nota, sequer pode contar com 24 horas para apurar com profundidade os fatos noticiados, e que segue [e seguirá] à disposição das autoridades e da justiça [se for o caso), para contribuir com o esclarecimento pormenorizado de todo o episódio, inclusive disponibilizando acesso integral e irrestrito às imagens do circuito interno de segurança e de outros elementos de prova – como o relatório do software de apoio que registra as reservas, os check-in e check-out.
Registra, entretanto, que a apuração preliminar dos fatos aponta para grande divergência entre a narrativa da ofendida e o que aparenta ser a verdade.
Quanto à “reserva” supostamente realizada pela ofendida, a verdade é que a hotelaria recebeu uma ligação 30 minutos antes da presença dos hóspedes na recepção, oportunidade em que foi questionado sobre a disponibilidade de um quarto que comportasse um casal. Em resposta foi informado que haveria disponibilidade de um quarto, com acomodação para duas pessoas, com check-out obrigatório às 12:00 horas do dia seguinte – lotação decorrente da Oktoberfest. Após a ligação, estacionou um carro no pátio externo, e então somente o assessor da ofendida desembarcou do automóvel e se dirigiu à porta do hotel para fazer o “check-in”.
Assim que adentrou ao recinto, o assessor informou que as três pessoas da reserva pelo telefone chegaram, e perguntou o valor para três pernoites. O funcionário – que até então só tinha visto o assessor, sendo impossível a ele àquela altura praticar qualquer ato racista à ofendida – informou que a casa não comportaria aquela nova condição informada – por questões de responsabilidade pelo conforto, segurança e estrutura (café da manhã, por exemplo).
A negativa se deu sem o conhecimento prévio das características de gênero individuais das pessoas recém-chegadas, porque somente o assessor teria se apresentado até aquele momento. Há imagens de câmeras do circuito interno de segurança neste sentido
Com a negativa, o assessor se dirigiu para fora do hotel e informou às demais pessoas que permaneciam no carro que a hotelaria não teria como abrigá-las por três noites. Neste momento a ofendida desembarcou do automóvel e entrou no hotel, irresignada, buscando
“esclarecimentos” pela negativa do acolhimento do hotel. Sem gravar, agiu de forma ríspida com o atendente, e o informou repetidas vezes de que ela se trata de pessoa “famosa”, trans, sugerindo a ele fosse revisto o posicionamento sobre a lotação. A ofendida parecia ciente de que não havia leitos disponíveis na cidade.
O atendente relata a ela que não teria como abrigá-los naquela formatação proposta. A ofendida insiste em suposto direito à privilégio decorrente da fama. Foi então que o atendente, para a infelicidade de todos, para justificar o respeito da casa pela inviolabilidade das reservas desde o ano de 1996, utilizou pela primeira vez a expressão “conservadores”. O termo “conservadores”, porém, teve um efeito inesperado. O atendente, senhor com mais de 70 anos e que não sabia da politização da expressão, viu a ofendida solicitar a ajuda dos companheiros, a sacarem os celulares e, partindo dela, iniciou a gravação narrando então quer dizer que o senhor não quer me atender porque eu sou trans? É isso? e assim seguiu, sucessivamente, apesar de nada a esse respeito ter sido mencionado até aquele momento. A menção seguinte à palavra “conservador (esta que aparece na gravação], veio através de nova tentativa desesperada do atendente, em estado de extrema ansiedade com toda a confusão, em explicar que desde 1996 a casa funciona sem “privilegiar alguém.
Sendo assim, o hotel lamenta que o contexto inicial dos fatos tenha sido ignorado pela ofendida nas narrativas dela. Note-se, que, no primeiro vídeo gravado e divulgado a questão do gênero – como impedimento ao abrigo pelo hotel – parte da ofendida, atribuindo aquela “justificativa” ao atendente como se tivesse partido dele. A questão do gênero foi presumida pela ofendida que buscava a todo custo a confirmação do atendente. Aliás, há indícios graves de que os vídeos divulgados foram selecionados em pontos específicos, cortados e divulgados fora de ordem para desvirtuar o foco da “lotação máxima excedida e do “excesso de hóspedes por quarto” para “transfobia” – o que, à princípio, não ocorreu.
Quanto à lotação da casa, além das gravações de vídeo do circuito interno de segurança, a hotelaria coloca à disposição das autoridades o relatório do software de apoio que registra as “reservas e check-in /out” dos hóspedes. O relatório do software aponta que, apesar de 23 quartos existentes no hotel, a casa operava com 27 reservas antecipadas. O hotel também coloca à disposição das autoridades os dados pessoais de cada um dos hóspedes que reservaram e fizeram check-in / check-out no período. Por fim, referente ao episódio narrado pelo atendente, sobre supostas desavenças passadas com outras pessoas trans, esclarece o hotel, para toda a população brasileira, que a localização de sua sede comercial fica estabelecida as extremidades da cidade, perto de rodovia federal (BR-470), em notório ponto de prostituição e tráfico de drogas. Esse cenário leva profissionais dos arredores a buscar as dependências do hotel para usá-las como motel. O hotel, que não tem estrutura para servir como motel, vê-se forçado a ser inflexível em relação ao limite de hóspedes que cada quarto comporta.
Registra-se que o hotel foi coagido por suposto advogado, do Rio de Janeiro (DDD 021), ordenando que a hotelaria “desse um jeito de acolher a famosa”. Registra-se que o hotel ofereceu abrigo a todos, ainda que de forma improvisada (ao menos para um dos hóspedes). para evitar que eles ficassem na rua àquela madrugada (o que foi recusado).
O hotel sempre acolheu pessoas trans, e nunca houve em sua história quaisquer incidentes de discriminação. Registra-se, que tanto o atendente quanto o administrador possuem idade acima de 70 anos, sendo que o administrador possui quase 90 anos de idade, e nenhum deles possuem antecedentes criminais ou respondem a processos judiciais.
Também não possuem viés partidário, e estão dispensados da obrigação de votar. O hotel lamenta profundamente o episódio, e se compromete a seguir apurando os fatos em busca da verdade. O hotel também se coloca à disposição de toda e qualquer autoridade para esclarecer ou contribuir com informações complementares. Independente de qualquer desfecho que se dê ao caso, o Hotel Salto do Norte desde já pede desculpas aos hóspedes por todo e qualquer inconveniente decorrente do episódio, e ratifica o seu compromisso com o tratamento igualitário, sem qualquer distinção, independente de cor, origem, religião ou identidade de gênero etc.
Cordialmente, Administração.