Imunizados: blumenauenses contam como vacina contra Covid-19 impactou suas vidas
Apesar do alívio, entrevistados relatam manter os cuidados para evitar contaminar os outros
Alívio. Esta é a palavra mais usada pelos primeiros vacinados contra a Covid-19 em Blumenau. Até esta terça-feira, 11, 63.654 blumenauenses já receberam ao menos uma dose da vacina. Ao todo, 97.828 vacinas já foram aplicadas no município.
Recentemente a imunização deixou de ser exclusiva dos profissionais de saúde e dos idosos e foi estendida para pessoas com comorbidades, deficiências permanentes e até gestantes e puérperas.
As pessoas que já estão imunizadas relatam que o sentimento é de tranquilidade. Porém, os cuidados continuam. Apesar de a chance de óbito cair drasticamente, eles continuam correndo o risco de serem contaminados ou passarem o vírus adiante. Especialmente quando a maior parte da população ainda não foi vacinada.
“Por mais que entendamos que precisamos continuar nos cuidando, saber que minha proteção é de quase 100% de que a doença se manifeste gravemente, mesmo com as novas cepas, não tem preço. E ser uma das primeiras foi uma honra”, conta Marianne Ramos de Lima e Silva.
A médica foi vacinada no primeiro dia, logo em janeiro. Aos 61 anos, ela é especialista em pulmonologia e Diretora Técnica do Hospital Santa Isabel, ou seja, atua diretamente com os pacientes na UTI Covid-19. Assim como suas colegas, ela conta que a melhor parte de estar vacinada foi a sensação de segurança.
Um mês e meio antes da vacinação, Marianne chegou a ser infectada pelo vírus. Apesar de ser do grupo de risco por conta da idade, ela felizmente teve poucos sintomas. “No primeiro dia tive febre baixa e um pouco de fraqueza e coriza. Tirando isso, só dor de cabeça. Fiquei de quarentena, mas consegui viver tranquilamente dentro da minha casa”, relata.
Imunizada com a CoronaVac, a pulmonologista conta que a alegria era tanta que nem sentiu dor durante a aplicação. “O alívio daquela agulha entrando é indescritível. Tive zero sintomas depois da aplicação. Senti menos estresse e ansiedade estando na linha de frente”, desabafa.
Rúbia Maria Prada e Hilário Prada, de 80 anos, tomaram a segunda dose no dia 22 de março. Moradores da Itoupava Seca, o casal ainda se recupera da infecção de Rúbia. Em novembro, ela acabou hospitalizada por conta do vírus.
“Fiquei esperando febre, como vi na televisão. Mas fiquei duas semanas sem comer nada porque não tinha olfato nem apetite. Depois de emagrecer 12 kg, passei um dia no hospital da Unimed. Me transferiram pro Santo Antônio para fazer tomografia, mas me mandaram para casa por não ter leito sobrando”, explica a idosa.
Durante essas duas semanas, o esposo dormiu junto dela. Mas se pegou o vírus, não apresentou sintomas. Rúbia sofreu uma tromboembolia e até sofre com fraqueza nas pernas e mantém o tratamento com medicamentos até o próximo mês.
“Agora está tudo entrando nos eixos e podemos rever nossos filhos e netos. Estamos muito mais tranquilos com a vacina. Foram tão amáveis com a gente na Vila Germânica que até agradeci a prefeitura. Tudo muito limpo e organizado”, comemora Rúbia.
A redução da preocupação da família também é comemorada pelos vacinados. Tanto dos que precisam atuar na linha de frente quanto dos que poderão novamente ver seus entes queridos sabendo que os riscos são menores.
“O medo não deve ser da vacina, mas sim de não ser vacinado. Pelo número de doses aplicadas mundo afora, se houvesse algum risco real já saberíamos. Vacina salva vidas. Espero que quanto antes alcancemos 70% da população brasileira vacinada”, aconselha Marianne.
“O cuidado continua”
O farmacêutico bioquímico Caio Cordova, de 48 anos, além de professor universitário é responsável técnico pelo laboratório do Hospital Santa Isabel. Ou seja, está sempre rodeado de pacientes com suspeita do coronavírus. Apesar de tudo, ele deu sorte: não chegou a ser infectado.
Chega a ser exagero chamar de sorte, algo que também é fruto do cuidado intenso do profissional. O blumenauense conta que sua vida pouco mudou após a vacinação, já que continua usando todos os aparelhos de cuidado possíveis e mantendo as medidas sanitárias recomendadas.
“Uma das lições que a pandemia traz é que não basta pensar no próprio umbigo. Está na hora da humanidade pensar coletivamente, em vários aspectos. Na sua relação com o planeta Terra e com o meio ambiente em que vivemos”, defende.
Ele recebeu a primeira dose da vacina AstraZeneca em meados de janeiro e a segunda na metade de abril. Ou seja, só foi considerado completamente imunizado recentemente. Ele conta que o agendamento e o atendimento da Secretaria de Promoção à Saúde foram muito tranquilos.
“Continuo me cuidando para evitar qualquer contato com o vírus, até porque sabemos que a vacina não protege 100% e podemos ter variantes mutantes com a doença muito descontrolada em algumas regiões do país e do mundo. Ela reduz nossos riscos, mas não podemos nos descuidar”, reforça.
Por manter a mesma rotina de antes da vacina, Caio não sentiu muita mudança no estado psicológico. Ele conta que sempre esteve tranquilo por manter os cuidados. O único alívio foi saber que teria menos chances de passar o vírus para a esposa, que não está entre os grupos prioritários para vacinação.
Dentro da família, ele viveu a angústia de ver os pais idosos e o irmão mais novo infectados. Os três moram juntos e se recuperaram bem da doença, mas sofreram com a dor no corpo e sintomas de uma gripe forte.
Vacina é segura
Apesar de não ter sofrido nenhum efeito adverso com a vacina, Caio relata que conhece colegas que tiveram sintomas de gripe forte e febre. Mas reforça: “este é o máximo que pode acontecer. Não existe absolutamente nenhum risco”.
Sobre casos graves que fizeram com a vacinação fosse temporariamente suspensa, como ocorreu essa semana com o caso de gestantes que não reagiram bem à AstraZeneca, o bioquímico explica que as medidas são apenas protocolares.
“Faz parte para qualquer vacina ou medicamento. Quando se percebe que não há relação de causa entre a vacina e esses raros efeitos adversos, a vacina logo é liberada. É o que acredito que é o que vai acontecer com esse caso das gestantes também”, opina.
Não existe uma espécie de acompanhamentos dos blumenauenses após a aplicação da vacina. A recomendação da Prefeitura de Blumenau é que pessoas que apresentem dor no corpo, febre ou outros sintomas gripais procurem a unidade de Estratégia Saúde da Família (ESF) de sua referência.
Caso necessário, o caso irá para a Notificação de Reação Adversa, que será analisada pela Diretoria de Vigilância do Estado (DIVE). A reportagem questionou se o município já contabilizou noticiações do tipo, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.
Exame detecta se o corpo está imunizado
Pensando no público que quer garantir a imunização, um laboratório de Blumenau oferece um exame que detecta se o corpo produziu os anticorpos após a vacina contra Covid-19. O teste também analisa se a pessoa desenvolveu uma imunidade natural após ser exposta ao vírus.
A recomendação é que a coleta de sangue seja feita 30 dias após a primeira dose da vacina ou 15 dias após a segunda. A exceção é o imunizador da Pfizer, que leva 90 dias para a segunda dose. Neste caso, a recomendação é fazer o teste após encerrar a vacinação.
O exame Covid-19 Ab Plus da InterBlu é recomendado para pessoas que receberam doses de qualquer vacina. O teste detecta as proteínas produzidas tanto pela CoronaVac quanto pela Oxford-Astra Zenica, Pfizer, Sputinik e Moderna. O resultado leva cerca de 15 minutos
Entretanto, o teste deve ser feito com consciência. Uma pessoa vacinada que não apresenta anticorpos não necessariamente está desprotegida, porque a defesa pode ser produzida apenas quando a pessoa entrar em contato com o vírus. Da mesma forma, quem possui os anticorpos deve manter os cuidados, já que ainda pode ser contaminada e transmitir a doença mesmo sem apresentar sintomas.