Intercambistas de Blumenau são forçadas a voltar da Índia por conta da pandemia

Fernanda e Heloíse realizavam intercâmbio cultural pelo Rotary quando coronavírus começou a se espalhar

As blumenauenses Fernanda Berti, de 17 anos, e Heloíse Bieger, 16, estavam do outro lado do globo quando o coronavírus começou a se espalhar pelo mundo. Junto de outros 16 adolescentes, elas realizavam um intercâmbio cultural na Índia.

A viagem começou em agosto de 2019, muito antes da pandemia começar. O plano era ficar até junho deste ano, mas eles foram forçados a voltar. O Rotary indiano decidiu cancelar o programa de intercâmbios e eles tiveram uma semana para se preparar para viagem de volta.

A viagem com mais de 328 brasileiros repatriados da Índia e do Nepal desembarcou em São Paulo na última quarta-feira, dia 15 de abril. Bancada pelo Itamaraty, a viagem também trouxe 16 estrangeiros residentes no Brasil e 7 uruguaios, que seguiram viagem para Montevidéu.

Itamaraty/Divulgação

“Não queria voltar de jeito nenhum, porque estava amando a experiência. Mesmo presa dentro de casa, queria ficar com a minha família de lá, aprendendo a cozinhar comida indiana, praticando yoga e vendo filmes indianos com eles. Foram os melhores meses da minha vida”, desabafa Fernanda.

A Índia está em confinamento total desde o dia 25 de março. As fronteiras foram gradualmente fechadas e havia muita restrição para sair de casa. Fernanda conta que os amigos tinham medo de serem agredidos na rua por serem estrangeiros.

“As normas eram muito restritas. A quarentena funcionava com base na força da polícia. Eu tinha medo de ser apreendida, mas meus amigos meninos tinham medo até de apanhar deles. Só para chegar no ponto de ônibus, que ficava a 20 minutos da casa, precisamos de umas cinco páginas de autorizações”, diz.

Fernanda se apaixonou pela cultura (e pela comida) indiana. Foto: Arquivo pessoal

As adolescentes levaram 22 horas para chegar ao Brasil. Segundo elas, dois intercambistas do Rotary, um colombinano e um mexicano, ainda estão na Índia por falta de suporte do país natal.

Ambas estavam em Pune, uma cidade grande e com acesso à tecnologia e informação. Entretanto, outros intercambistas que estavam no interior do país, estavam alheios à situação do coronavírus no restante do planeta.

“Meus dois pais tinham faculdade e minha irmã estava no ensino médio. Como eles eram informados, as informações chegavam até mim. Mas quem estava em vilas às vezes não tinha nem acesso à internet”, conta Fernanda.

Um dia antes do isolamento começar no país, os intercambistas fizeram uma viagem para o norte da Índia. “Visitamos o Taj Mahal no domingo e na segunda fechou tudo. Se não tivéssemos voltados naquele dia, ficaríamos presos naquela região longe das nossas famílias. Foi um susto muito grande”, lembra.

Isoladas das famílias

Para Fernanda, a parte mais difícil de ter voltado antes da hora é não saber quando poderá ver suas famílias novamente. Tanto a indiana quanto a brasileira. A adolescente se deu tão bem com a família que a recebeu que pediu para o Rotary que não precisasse mudar de casa durante o intercâmbio, como é o habitual.

Fernanda com os pais e irmã indianos. Foto: Arquivo pessoal

“Parece que eu acordei e foi tudo um sonho. Não está sendo fácil voltar pra realidade e ficar em casa. Eu imaginava que quando voltasse poderia rever todos meus amigos e família. Até agora só vi meus pais de máscara no aeroporto”, conta.

A adolescente mora apenas com a mãe, que trabalha fora. Portanto, passa a maior parte do dia sozinha. Por conta do fuso horário com diferença de oito horas e meia, nem sempre ela consegue conversar com a família indiana, mas eles continuam em contato.

Único encontro que Fernanda teve no Brasil foi com os pais. Foto: Arquivo pessoal

“Quando me despedi dos meus pais, avós e amigos, sabia que tinha data pra ver eles de nós. Mas me despedir da minha família de lá foi um adeus sem saber quando vou rever eles. Alguns amigos nem consegui me despedir”, explica.

Já a mãe de Fernanda, Nadia Meenken, conta que o alívio quando reencontrou a filha foi imenso. Apesar da preocupação dos riscos na viagem, já que ela estaria em contato com várias pessoas, o que ela mais queria era ter a filha por perto.

“As videochamadas amenizavam um pouco e a host family sempre deixava claro que estava tudo bem. Mas a certeza de que tudo ficaria bem só veio quando recebi ela no aeroporto, em Florianópolis. Agora é esperar os 14 dias de quarentena para ela reencontrar os familiares”, relata.

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