Se a Praça Castro Alves é do povo, como belissimamente eternizada no frevo de Caetano Veloso, por que algumas praças de Blumenau não o são? Por que certas praças do município deram certo, enquanto outras, não?

O espaço aberto campeão de uso público na cidade, inegavelmente, é o Parque Ramiro Ruediger, junto ao Complexo Vila Germânica no bairro da Velha. Chega a ficar quase congestionado de tantos frequentadores, em certos momentos. Tudo indica que o Parque das Itoupavas, felizmente, seguirá caminho semelhante.

Entre outros sucessos de público podemos citar a Praça Getúlio Vargas, no encontro dos bairros Garcia, Glória e Progresso. Inserida numa rótula circundada por trânsito intenso por todos os lados, tinha tudo para dar errado. Com equipamentos adequados e mesmo sem bar ou restaurante a roubar espaços livres, nem invasor som ambiente, essa praça vive cheia de frequentadores de todas as idades, em todos os dias da semana.

Também a Praça das Gaitas, na Itoupava Seca, embora igualmente instalada sobre uma rótula de trânsito, é muito bem frequentada. Já a Praça Mascarenhas de Moraes, também, como as duas anteriores, inserida numa grande rótula no início do Reino do Garcia, é pouco frequentada. Por quê?

As praças centrais da rua XV costumavam ficar entregues às moscas, quando muito, às capivaras, como na Praça Hercílio Luz. Algo precisava ser feito e aí surgiram as propostas de concessões. Começou com a Praça Hercílio Luz, onde se permitiu uma edificação para abrigar restaurante, cerca de 25 anos atrás. Mais recentemente, tem este sido o caso das praças Dr. Blumenau e Victor Konder.

Há que se concordar com os esforços para trazer público a essas praças vazias da cidade, mas, precisava ser do jeito que foi feito? Princípios arquitetônicos e equipamentos instalados devem levar em conta os conhecimentos da psicossociologia ambiental ou algo que se aproxime disso, quando do projeto de uma praça.

Será que esses princípios foram seguidos na concepção da Praça Dr. Blumenau, por exemplo, que foi tomada em toda a sua largura por edificações do concessionário da mesma e por mesas e cadeiras com apertados espaços para se passar por entre elas, ocupadas por consumidores de comes e bebes no local? E os que não querem ou não podem consumir, como fica? Qual o povo que atualmente pode chegar lá e frequentar essa praça?

Como explicar o estupro da Praça Victor Konder, que perdeu a maior parte das suas árvores e cujas edificações pseudo-históricas roubaram significativa parte da área livre e a locomotiva Macuca foi restaurada de forma discutível enquanto peça histórica? Que projeto foi aquele que obliterou a sensação desse espaço outrora aberto, e se reduziu, quando muito, a uma mera calçada, um pouco mais larga que o normal das redondezas? Como explicar o sumiço do nome oficial dessa praça, substituído, na prática, por … NOME COMERCIAL? E a música em alto volume que invade os espaços vizinhos, tentando atrair público via poluição sonora?

Voltando para a Praça Hercílio Luz, como justificar que as vistas mais nobres para o belo rio Itajaí Açu ficaram reservadas, à esquerda de quem entra, para os que podem frequentar o restaurante que ali se encontra? No lado direito, como entender um prolongamento de muro ou parede do Museu da Cerveja – um bom museu, por sinal – que obstruiu também ali a janela paisagística dessa praça, diminuindo ainda mais a visão de amplo espaço, neste caso, para a região do morro do Aipim?

No outro lado da rua, temos a novíssima “Praça das Rosas”, que, torçamos que dê certo, mas, por enquanto, o que mais se vê ali são estacionamentos, concreto e brilhantes corrimões de aço inoxidável. Ao lado, o histórico Horto Edith Gaertner merece capítulo à parte.

Na margem oposta do rio remodela-se agora a praça Jucelino Kubitscheck, ainda não reinaugurada, mas que foi igualmente concebida sem valorização nem harmonização com o natural, deixando para quem ali chegar, a sensação de que colocaram o rio Itajaí Açu num buraco.

Nem a icônica Prainha, testemunha silenciosa de toda a pré-história e história de Blumenau escapou. Diante de uma sucessão de interferências nas margens e na própria curva do rio a charmosa prainha, simplesmente, sumiu, foi defenestrada.

Como se pode perceber, há espaços onde as estratégias de incentivo ao uso público foram infelizes e outros em que, mesmo instalados sobre rótulas de trânsito, sem necessidade da eliminação do espaço aberto com edificações que abrigam concessões, o uso deu certo.

No que diz respeito às praças do Centro tradicional de Blumenau, as intervenções tenderam a ser infelizes, desastrosas até. Exceção à belíssima praça do Teatro Carlos Gomes, recém renovada, espaço privado de uso público contrastando com espaços públicos de uso não tão público.

Que o poder público acorde para evitar a repetição de erros e fazer a coisa certa. Temos essa grande chance nos grandes e importantíssimos espaços recentemente incorporados ao município, como o Parque Carlos Curt Zadrozny, no Grande Garcia e o complexo do Sesi, no Vorstadt.

E por que não, também, incorporar para uso público um belo bosque junto ao rio Garcia, próximo à empresa Bella Janela / Bella Co, antiga Souza Cruz, mais de 30 mil metros quadrados, estrategicamente localizado numa das regiões mais densamente habitadas do Garcia?

Vista do Capela de Nossa Senhora do Bom Socorro, no alto do Morro da Onça, nome original, depois substituído para o despersonalizado “Morro da Cruz”. Há 50 anos esse morro já apresentava floresta relativamente bem conservada. Aos fundos, uma coluna de chuva caia sobre a cidade de Nova Trento. Foto Lauro E. Bacca, em 25/12/1974.


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