Irmã Aloysianis: a enfermeira que atendeu Blumenau por 50 anos e serviu na Primeira Guerra Mundial
Ela é considerada uma das mais importantes personalidades da saúde blumenauense
O nome talvez seja familiar para os moradores do bairro Velha. Em uma via da região, o “apelido” foi escrito com outra grafia bastante comum: rua Irmã Aluysianis. Catharina Tielkes chegou da Alemanha em agosto de 1920 em companhia do doutor Julio Jungbluth.
O médico alemão foi acionado para assumir o Hospital Santa Isabel, que estava sem atendimento especializado. Na época, havia apenas 44 leitos. Jungbluth exigiu vir acompanhado de uma enfermeira. Juntos, os dois trouxeram o primeiro aparelho de raio-x de Santa Catarina.
“Para um hospital pequeno que o Santa Isabel de então era, foi o ponto de partida para melhoramentos, tanto assim que hoje, 50 anos após, estamos fazendo a quinta ampliação. O hospital cresceu, desenvolveu e se aperfeiçoou por causa do espírito de cooperação do povo blumenauense”, declarou a enfermeira em uma entrevista dada em 1970.
Aloysianis, que havia entrado na Congregação das Irmãs da Divina Providência um ano antes, foi selecionada para acompanhar o médico ao Brasil por sua experiência com a Cruz Vermelha. À época com 27 anos, ela perdeu dois irmãos na guerra. Além disso, sofreu um ferimento na mão esquerda durante atendimentos para o fronte russo.
Mais tarde, uma de suas irmãs foi vítima da Segunda Guerra Mundial. O pai da enfermeira faleceu 14 dias antes do embarque dela para o Brasil e a mãe em 1945. Vinda de uma família com 10 filhos, a Irmã nunca mais reencontrou a família após vir a Blumenau.
Entretanto, teve sua importância na saúde blumenauense reconhecida. Além de ser a superiora das irmãs que moravam no local, entre 1928 e 1933 ela dirigiu o Hospital Santa Isabel. Frederico Kilian, colunista da Revista Blumenau em Cadernos, se referia a ela como a figura mais importante de toda a história da casa de saúde.
Além de operar a máquina de raio-x, sua especialidade, ela também prestava assistência em cirurgias e atendimentos. “Dotada de inesgotável parcela da abnegação, amor ao próximo, caridade, zelo apostólico e operosidade”, descreveu Kilian.
Em uma entrevista em comemoração aos 50 anos de sua atuação, a Irmã admitiu que tinha um sonho antigo de atuar como enfermeira na África. Entretanto, ela manteve seu espírito missionário, dando assistência e compartilhando seu conhecimento mesmo fora do Hospital Santa Isabel.
“Estes 50 anos foram repletos de grandes acontecimentos. Aprendi a sentir com os blumenauenses. Várias inundações com suas consequências se gravaram profundamente. Grandes e marcantes foram as alegrias que tive com o reestabelecimento de cada paciente”, lembrou a enfermeira.
Irmã Aloysianis não aceitou a determinação, pois não queria parar de atender. Um dia antes da cirurgia que removeria todo o membro e parte da clavícula, ela abandonou a clínica gaúcha e veio para Blumenau. Preferia morrer trabalhando a ficar incapaz de atuar.
Após implorar ao doutor Hoess que ele fizesse uma operação menos agressiva, ele aceitou o desafio. De acordo com Frederico Kilian, o médico afirmou que esta foi a atuação mais difícil de sua carreira. Começou com lágrimas nos olhos, porém conseguiu salvar a vida da Irmã e amputar apenas metade do antebraço.
Apesar de ter ficado incapacitada de operar a máquina de raio-x ou atender, ela continuou a prestar seus serviços ao hospital. Ela se tornou conselheira e supervisora da direção. Com a mão que lhe restava, a direita, chegou até a costurar. Como religiosa, nunca recebeu remuneração pelo seu trabalho.
“Vim para Blumenau esperançosa de cumprir o meu ideal de servir a Deus e ao povo como enfermeira. Isso só foi possível graças à compreensão e à colaboração geral. Vi crescer Blumenau e seus filhos nestes últimos quarenta anos, compartilhando do seu sofrimento e, também, elas suas alegrias”, agradeceu às autoridades.
A Irmã faleceu na noite de 29 de abril de 1974, aos 80 anos. Em agosto, completaria mais um. Destes, 54 foram dedicados ao Hospital Santa Isabel e à saúde dos blumenauenses.