“Já existiam piadas na família de cunho racista”, diz delegada sobre suspeito de ameaçar vereadora de Joinville
Existe a suspeita de que haja grupos neonazistas por trás desta ação
Em coletiva de imprensa na tarde deste domingo, 22, a delegada Cláudia Gonçalves de Lima Gonzaga, titular da Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (Dpcami), confirmou que o suspeito de ameçar de morte a vereadora Ana Lúcia Martins (PT) é esquizofrênico e vem de uma parte da família de origem alemã.
“Já existiam na família umas piadas de cunho racista, pegando depoimento, percebemos isso”, afirmou a delegada.
Além disso, conforme Cláudia, a partir do momento que o jovem, de 22 anos, passou a estudar em uma escola específica da cidade, começou algumas amizades com pessoas que tinham como características exaltar o neonazismo.
Outra característica do suspeito é que suas relações são construídas de forma virtual e ele aprecia jogos.
“O que a gente percebeu é que ele tinha um perfil de violência antes de ser diagnosticado com a doença. Ente os colegas, ele tinha uma postura agressiva, de sempre arrumar problemas”, conta a delegada.
Família se surpreendeu com a ação
Após depoimento, a família do jovem se mostrou surpreendida com a ação. De acordo com a delegada, os famíliares sabiam de seu comportamento violento, sabiam que ele mantinha amizades virtuais, mas alegaram não ter conhecimento de suas publicações na internet.
“Só sabiam que falava algumas coisas de cunho racista detro de casa. A pessoa responsável por ele disse que antigamente tentava combater isso, mas como entrava em atrito e como ele, que foi diagnosticado com esquizofrenia, tentaram amenizar e não entrar em conflito”, conta.
Ele já tinha dois boletins de ocorrência registrados em seu nome, mas, de acordo com a delegada, não por crimes de racismo.
Ainda conforme depoimento da família, a semana das eleições foi atípica para ele, que teve comportamento alterado e se mostrou feliz com o resultado das eleições. No entanto, na quarta-feira, 18, após o assunto sobre a vereadora ter sido ameaçada de morte ter saído na imprensa, ele ficou mais agitado.
“Ele engoliu o chip do celular, não sei se foi a mando de alguém. As investigações têm que continuar pra ver se tem um grupo atrás disso”, diz.
Como chegaram ao suspeito
A Polícia Civil, através do setor de Inteligência, iniciou as investigações buscando por perfis que se posicionavam de forma racista e com publicações de cunho neozanista nas redes sociais.
A partir disso, foi diminuindo a quantidade de usuários suspeitos, segundo Cláudia, e chegaram algumas denúncias que ligavam ao perfil do jovem.
“O perfil batia com o posicionamento de uma determinada pessoa, o jeito que a pessoa escrevia. Tinham frases em outra língua específica. Ele usou, inclusive, a mesma foto do perfil fake em seu perfil pessoal”, aponta.
Na casa do suspeito foram apreendidos o celular dele, um CPU de computador e outros dispositivos em uma memória de HD. O celular estava sem chip e sem WhatsApp instalado. No entanto, conforme a delegada, a polícia pode obter estes dados através da perícia.
Investigações continuam
Cláudia disse que as investigações devem continuar no sentido de averiguar se há um eventual mandante do crime ou se o suspeito teria agido sozinho. A priori, de acordo com a delegada, neste caso específico, o jovem agiu sozinho.
“Veja, pra mim acho que ele confessou o crime. Ele mostrou mais debilidade que teria. Ele falou, na verdade que não tinha sido ele, ele apontava pra cabeça, como se recebesse um comando da cabeça dele”,disse a delegada, após ouvir o suspeito nesta manhã de domingo.
Com relação à “juventude hitlerista” que o suspeito cita em suas postagens, Cláudia disse que a Delegacia Geral da Civil já trabalha com com este caso para averiguar uma possível liderança neonazista que esteja coordenando esses ataques.
“Pode ser que ele seja uma peça desse quebra-cabeça, ele não parece líder de nada. Mas não foi instaurado nada especifico ainda, é apenas uma suspeita”, afirma.
Caso seja confirmado que o jovem é o responsável pelas postagens, ele pode ser indiciado pelos crimes de ameaça, injúria racial e racismo, já que, a princípio, os ataques foram direcionados à Ana Lúcia pelo lugar que ela passará a ocupar na Câmara de Vereadores e por ser negra. Por ser esquizofrênico, ele pode cumprir pena em internação.
“O problema não era a vereadora em si, se qualquer negro estivesse ali naquela posição, ele reagiria da mesma forma. É uma quesão genérica, ela estava ali. Não conseguimos linkar até então uma relação entre os dois”, explica.
A Polícia Civil segue ouvindo familiares do suspeito e a delegada reforça que, até o momento, não há como saber se existe um grupo motivando essas ações. Caso seja confirmada a existência de mais pessoas envolvidas nestes crimes, o caso pode ser passado para outra delegacia.