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Josué de Souza: “Ainda não somos uma democracia racial”

No Dia da Consciência Negra, colunista aponta consequências do período de escravidão no Brasil

Ainda não somos uma democracia racial

Em 20 de novembro é comemorado em todo o país o Dia da Consciência Negra. A data é comemorada neste dia por conta do aniversário de morte de Zumbi de Palmares. Zumbi foi o último líder do quilombo de Palmares, localizado onde hoje fica o estado de Alagoas.

O Quilombo de Palmares é famoso por sua resistência contra a escravidão e por tentar construir em terras brasileiras um território livre do tratamento desigual por conta da cor da pele. Zumbi, por sua vez, é relembrado pela capacidade de liderança e de estratégia militar.

Palmares não foi o único quilombo, estes acampamentos de negros que fugiam da escravidão. Havia quilombo por todo o território nacional. Segundo levantamento da Fundação Cultural Palmares, do Ministério da Cultura, existem hoje mapeadas cerca de 3.524 remanescentes de quilombos, porém, calcula-se que esse número possa chegar a 5 mil.

Palmares e Zumbi, caíram em 1694, Palmares lutou 100 anos. Como lembra Darci Ribeiro, venceram as batalhas por 100 anos, sabendo que não podiam perder nenhuma.

A escravidão no Brasil terminou somente em 1888, durou 300 anos, porém, suas consequências ainda carregamos e, quem sabe, precisaremos de mais 300 anos para expurgarmos completamente da sociedade.

A população negra recebe em média R$ 1,2 mil a menos que os brancos, e esta diferença continua mesmo em grupos que possuem a mesma formação. Por outro lado, os negros possuem chances 23,5% maiores de serem assassinados em relação a brasileiros de outras raças, atualmente, de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras.

Os negros também são subrepresentados nos espaços de poder e de influência na sociedade. No Brasil os negros representam 54% da população brasileira, porém, na Câmara Federal que irá tomar posse em janeiro, apenas 20% se autodeclaram negros.

Entre os deputados estaduais de Santa Catarina não haverá nenhum negro, apesar de que 15% dos catarinenses se declaram pretos ou pardos. Entre os candidatos a deputado federal ou estadual lançados pelos partidos políticos em Blumenau, nenhum se declarava negro.

No legislativo municipal, o fenômeno também persiste. Entre os 15 vereadores titulares, não há nenhum negro, apesar de 6,8% dos blumenauenses se declararem negros. O único vereador titular negro foi Romário Conceição Badia, em 1959. Na atual legislatura, Lenilso Silva (PT) assumiu como suplente.

Florestan Fernandes, sociólogo brasileiro que estudou a temática, ensinava que, o grau de inserção dos negros na sociedade brasileira seria sempre o melhor ponto de referência para determinar que o Brasil não é uma sociedade democrática. A julgar pelos dados acima, entramos longe disto.