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Josué de Souza

Cientista social e professor, é autor do livro Religião, Política e Poder, pela EdiFurb.

“A desigualdade e a pobreza é o nosso pior mal, maior que qualquer epidemia”

Colunista acredita que camada mais pobre será a mais afetada com o novo coronavírus

A maior tragédia é a desigualdade

Ontem fez uma semana que estamos em quarentena por conta do vírus Covid-19. O vírus que foi definido, pelo Secretário Nacional de Vigilância Epidemiológica, portanto, subordinado ao presidente Bolsonaro, como a maior epidemia do século.

No mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até ontem, 24, o Covid-19 já infectou 372.757 pessoas, sendo que destes, cerca de 16.231 morreram, e que só no dia de ontem, 1.722 morreram por conta da doença. No Brasil, já são cerca de 2.201 casos e 57 mortes.

O coronavírus encontrou um mundo dividido politicamente. Sim, o fenômeno da polarização política não é um privilégio nosso, mergulhado em uma crise econômica que é resultado de 20 anos de neoliberalismo.

Somado a isso, o enfrentamento da epidemia encontra a reação negacionista de algumas autoridades políticas, o que inclui o Presidente da República e lideranças empresariais. Preferem tampar os olhos com as máscaras de proteção e negar a realidade.

O argumento destas pessoas é que a morte de alguns idosos, não justifica a crise econômica produzida pelo período de quarentena em defesa do vírus. Devemos primeiro pensar na economia, depois nas pessoas, dizem eles. A pobreza e a desigualdade gerado pelo período de reclusão será pior que os efeitos da doença.

Concordo com este argumento, a desigualdade e a pobreza é o nosso pior mal. Maior que qualquer epidemia. Enganam-se portanto, que ela surgirá com os efeitos do Covid-19. Ela é uma chaga epidêmica que abate a humanidade e tem se ampliado nas últimas décadas.
Cerca de 1% dos mais ricos do mundo ficaram com 82% de toda riqueza global gerada em 2017, segundo estudo do próprio Fórum Econômico Mundial.

No Brasil, 6 bilionários concentram patrimônio equivalente a renda da metade mais pobre da população. Segundo este estudo, uma trabalhadora brasileira que ganha um salário mínimo levará 19 anos para receber o equivalente aos rendimentos de um super-rico em um único mês. Já 2/3 das fortunas mundiais são produtos de heranças, monopólios ou relações clientelistas com governos.

Portanto, não é fruto do trabalho ou da livre iniciativa. Aqui, por mais que, agora se preocupam com os efeitos da pobreza e da desigualdade, estes mesmos, calam-se em relação aos números acima

A verdade é que COVID-19 é uma tragédia em efeitos catastróficos. Suas consequências econômicas são inevitáveis, com ou sem medidas restritivas. Agora, do ponto de vista da proteção da vida humana, o melhor que temos de estratégia neste momento é ficarmos em casa. A OMS calcula que o vírus vai alcançar 10% da população mundial, equivalente a 21 milhões de pessoas, 10% podem vir a falecer, um total de 1 milhão de pessoas.

Talvez seja a hora de, no Brasil, debatermos um imposto sobre as grandes fortunas.

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