Josué de Souza

Cientista social e professor, é autor do livro Religião, Política e Poder, pela EdiFurb.

“Investir na economia solidária é, sem dúvida, uma saída inovadora para a crise”

Colunista aposta em modelo como uma alternativa viável para recuperação econômica

Economia solidária como saída para a crise

Nos últimos vinte anos, o mundo ocidental viveu o reflexo da crise do fordismo. O descenso da chamada idade do ouro na relação entre capital e trabalho. O fordismo é muito mais de que uma organização da produção ou do trabalho. Foi o modelo de desenvolvimento encontrado pelo mundo, tanto capitalista, como socialista, para sair da crise resultante da Segunda Guerra Mundial.

Um paradigma industrial é um contrato de trabalho social aceito por ambos os lados, capital e trabalho, dirigentes e trabalhadores e que se estende e influencia outros campos da vida social, podendo contribuir para a evolução da própria vida social.

Essa crise iniciou na década de 70 com a globalização que faz surgir na economia mundial problemas estruturais de lucratividade no sistema produtivo capitalista. Estas dificuldades não sugerem o fim do capitalismo, mas o aprofundamento deste sistema de produção.

A globalização permite que grandes empresas tenham maior mobilidade e obtenham maiores vantagens com as fronteiras políticas e sociais mais permeáveis e flexíveis. Um processo turbulento que é marcado pelo intenso nascimento de empresas, mas que condena à morte aquelas que não conseguem adaptar-se à concorrência global, caracterizada pela elevação e queda de setores inteiros de atividade e pela disputa entre regiões e países.

A consequência é a concentração de mercado na mão de grandes corporações, resultando em um processo de desestruturação financeira e concentração de riquezas.

Cerca de 1% dos mais ricos do mundo ficaram com 82% de toda riqueza global gerada em 2017, segundo estudo do próprio Fórum Econômico Mundial. No Brasil, cinco bilionários concentram patrimônio equivalente à renda da metade mais pobre da população.

Propostas e saídas para essa engrenagem de concentração de riquezas e de socialização global da pobreza são urgentes e necessárias, sobretudo em um cenário em que cerca de 13% encontram-se desempregados.

Desde os anos 80, no Brasil já existem experiências de produção, organização e distribuição de mercadorias e serviços com base em uma lógica econômica solidária. A economia solidária não busca apenas a relação de preços justos na produção econômica, mas, como consequência, um projeto alternativo de sociedade, em que todas as pessoas possam ter iguais condições de vida, revertendo a lógica de exclusão presente na forma de produção capitalista.

Empreendimentos de economia solidária possuem diversas formas de organização, porém, de forma geral, organizam-se a partir dos princípios da autogestão. Todos os que trabalham são donos do empreendimento e todos os que são donos, trabalham no empreendimento. Da mesma forma, os resultados são distribuídos de forma justa e solidária.

O estado de Santa Catarina possui, desde janeiro deste ano, uma lei que estabelece princípios e diretrizes para a construção de uma da Política Estadual de Economia Solidária. Investir nesta forma de organização econômica é, sem dúvida, uma saída inovadora para a crise.

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