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“Os índios e seus filhos sentem ainda na pele o impacto do preconceito”

Colunista discute sobre a luta dos indígenas brasileiros na semana em que haverá concentração em Brasília

Dia do Índio 

Entre esta quarta-feira e sexta-feira, dias 24 a 26 de abril, acontecerá em Brasília, o 15° Acampamento Terra Livre. Diferente do que o presidente da República tem espalhado em suas redes sociais, o evento autofinanciado é promovido pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), uma organização que congrega grupos e movimentos indígenas de todo o Brasil.

O evento acontece todos os anos, porém, ganha relevância por conta do cenário nebuloso que povos indígenas enfrentam após a ascensão ao poder do bolsonarismo. Ainda em campanha, Jair Bolsonaro (PSL) prometeu que, se eleito, não haveria nenhum centímetro de terras indígenas demarcado no Brasil.

Depois de eleito, já no primeiro dia do governo, por medida provisória, determinou o desmonte da Fundação Nacional do Índio (Funai) e transferiu a responsabilidade de demarcação de terras para o Ministério da Agricultura, ministério este que está a cargo da bancada ruralista. Já a Funai foi transferida para o Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos, que é tocado pela bancada evangélica.

É claro que a ameaça à cultura e aos direitos dos povos indígenas não começou no governo Bolsonaro. O genocídio indígena iniciou há 519 anos quando os europeus ancoraram no litoral brasileiro. Aqui buscavam ouro e matéria-prima para financiar a ampliação do capitalismo europeu.

Como justificativa, diziam catequizar e modificar as crenças e o modo de vida encontrado nas Terras de Vera Cruz. Em nome do progresso e da evangelização, somente no primeiro século de colonização, assassinaram 4 milhões de indígenas. Morreram resultado de extermínio e doenças trazidas pelo colonizador. Até o século XX, cerca de 80 povos indígenas foram extintos.

No Vale do Itajaí a história não foi diferente. Encarados pelo colonizador como um empecilho para a colonização e para o progresso, foram caçados e mortos. Os que sobraram, foram “pacificados”, palavra que tem como significado a quebra de sua cultura e do seu modo de vida.

O retrato gritante da realidade indígena no Vale do Itajaí é que os Laklãnõ-Xokleng hoje, encontram-se enclausurados em suas terras. Por cerca de 40 anos, lutam contra o impacto da construção da Barragem Norte que, para resolver o problema das cheias na cidade de Blumenau, alaga suas terras a cada enchente.

Seu povo e seus filhos sentem ainda na pele o impacto do preconceito. Um exemplo disto foi a morte de Marcondes Namblá, no réveillon de 2018. Namblá foi espancado até a morte no município de Penha. Além de professor, era uma liderança indígena. Tinha saído da terra dos Laklãnõ-Xokleng para aproveitar a temporada no litoral e trabalhar como ambulante levando o sustento para seus filhos. Foi morto pelo preconceito e pelo racismo.

No último dia 19, os índios brasileiros não tiveram nada para comemorar. Nesta semana e nos próximos anos, terão muito mais por lutar.