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“Nosso destino pode ser o mesmo da Argentina”

Colunista compara medidas tomadas por Macri com governos de Temer e Bolsonaro

A Argentina de Macri é nosso espelho

No mês de outubro a Argentina elegerá seu próximo presidente. Se confirmada as pesquisas eleitorais, Alberto Fernández deve superar com folga o atual presidente Mauricio Macri.

A eleição presidencial dos gringos é importante não somente porque a Argentina é nossa terceira maior parceira comercial, mas porque as medidas econômicas colocadas em prática lá pelo governo Macri podem servir de espelho para o caminho que o Brasil tem tomado desde 2014, com os governos Temer e Bolsonaro.

O atual presidente da Argentina assumiu a presidência sendo saudado pela imprensa brasileira como o modelo de gestão a ser adotado pela América Latina após o período de monopólio de governos de centro-esquerda região.

Macri, um filho de família de empresários na Argentina, executivo de futebol e apresentado como nova política, implantou uma radical agenda liberal. Quatro anos depois, os resultados são desastrosos.

Cerca de 1,5 milhões caíram na pobreza durante os últimos dezoito meses, chegando a 35% da população, sendo que 7% são considerados indigentes. Por volta de 66% dos argentinos ganham menos do que uma cesta básica e 20% das crianças sofrem de desnutrição.

Em 2018 esteve em Blumenau participando de um programa de intercâmbio de professores a historiadora argentina Carla Sangrilli. Carla é de Mar del Plata, e ficou em Blumenau por duas semanas graças a um programa da AFS Intercultural Programs. Uma organização global que promove o intercâmbio de lideranças no mundo todo. Em Blumenau ela dedicou-se a dar aulas em escolas públicas.

Em uma das conversas que tive com ela, era semana de véspera da eleição presidencial brasileira, lembro de uma pergunta que Carla me fez: Josué, porque vocês brasileiros não conhecem a história do nosso país? Nós olhamos muito pra vocês, as decisões que o Brasil toma têm um impacto direto em nosso país.

Naquela noite, voltei para casa lembrando as palavra do cientista social e político brasileiro Darcy Ribeiro. A América Latina é um imenso mosaico cultural e está nisto a nossa força. Sofremos um processo de colonização que subjuga a sociedade pré-existente, paralisa a cultura original e converte a população em uma força de trabalho submissa.

Primeiro através do saque e pilhagens da riqueza dos povos originários, depois regidos por uma elite oligárquica exportadora que atua aqui como uma feitoria. O resultando é a opulência de elite econômica, que por vezes, chega a ser os mais bem sucedidos do mundo, com a pobreza e penúria da população em geral.

Carla e Darcy Ribeiro tem razão deveríamos prestar mais a atenção nos nossos vizinhos. Não só nosso passado é comum, nosso destino pode ser o mesmo.