Josué de Souza

Cientista social e professor, é autor do livro Religião, Política e Poder, pela EdiFurb.

Josué de Souza: “O Brasil sofre de uma patologia social”

Colunista discute formação da crise política e a resistência das instituições

Estamos vivendo um processo de anomia social

O Brasil vive uma processo de anomia social. Anomia é um termo usado pelo sociólogo francês Emile Durkheim para explicar ausência de normas, de regras ou de leis. Uma patologia social, resultado da carência temporária de uma regulamentação social, capaz de assegurar a cooperação entre os indivíduos.

A crise econômica de 2008 colocou o mundo e suas instituições políticas em cheque. No mundo todo assistimos o crescimento da desigualdade. Uma desigualdade que dividiu o mundo em dois. Uma minoria que concentra cada dia mais a riqueza em suas mãos e uma grande maioria que dia a dia luta para sobreviver.

No Brasil, esta crise, que no princípio foi tratada como marolinha, nos colocou em nossa maior recessão, resultando em mais de 12 milhões de desempregados.

O nível dessa concentração é gritante. As seis pessoas mais ricas do Brasil concentram a mesma riqueza que 100 milhões de brasileiros, quase a metade da população do país. Nesse nível de concentração de riqueza, não há processo de socialização ou organização institucional que consiga manter o mínimo de garantia de ordem ou civilidade, sobretudo, em um país onde a educação não é igualitária e nem todos acessam.

Juntando a isso, nossas instituições políticas nos últimos anos foram sequestradas pelo poder econômico, se é que um dia foram livres. Reduziram-nas a serem conduzidas por pesquisas de opinião de intenção de voto e de imagem. Depredam a luta partidária, que se tornou algo irrelevante. O debate político gira apenas em torno de escândalos derivados de corrupção.

Na tentativa de nos salvar, o poder Judiciário iniciou um vale-tudo pelo combate à corrupção e, na ânsia de resolver, atropelou uma regra de ouro de uma República: a de tratar igualmente a todos. Comportamento que ampliou ainda mais a descrença nas instituições.

Em todo o mundo, a crise fez ressurgirem, cada qual ao seu modo, respostas autoritárias e sectárias para o problema da desigualdade. Bretix, no Reino Unido, Donald Trump, nos Estados Unidos, Marine Le Pen, na França. Assim como a crise econômica, a crise política chegou ao Brasil não apenas como uma marolinha, mas como tsunami. A pergunta que fica é se teremos instituições ainda resistentes para suportar tantos solavancos.

Josué de Souza escreve sempre às terças-feiras.

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