“O centenário de Florestan Fernandes”
No dia de hoje, 22 de julho de 2020, comemoramos o centenário de Florestan Fernandes. Rememorar o centenário de vida de um intelectual é um exercício que pode parecer petulante e piegas, sobretudo, em um país onde a educação básica ainda é uma conquista distante para parte da população. Se lê em média 2,43 livros e 30% da população nunca comprou um livro. Faz sentido porém, se este intelectual, buscou com sua vida e obra denunciar este cenário.
Em um dos seus estudos mais famosos “A integração dos negros em uma sociedade de classe” de 1964. Aponta que o racismo é estrutural da sociedade brasileira. Que raça e classe se sobrepõem em uma ordem social e que no cotidiano se expressa por legitimidades construídas de forma cultural e legal. Demonstra que o racismos existe, e é institucionalizado e constituinte de nossas mazelas.
Filho de uma empregada doméstica não alfabetizada, começou a trabalhar ainda cedo, conseguiu escolarizar-se na vida adulta. Graduou-se nas Ciências Sociais da USP em 1944, nas primeiras turmas, depois fez mestrado e doutorado na mesma instituição. Sua militância política destaca-se na luta pela escola e pela universidade pública. Por uma educação de acesso a todos.
Assim como outros intelectuais brasileiros, foi cassado pelo Ato Institucional nº 5, aposentado compulsoriamente, exilou-se no Canadá, onde foi o primeiro professor brasileiro naquela universidade. Sua vasta obra é marcada um padrão metodológico rigoroso e por uma originalidade teórica. Foi um dos principais responsáveis pela institucionalização das ciências sociais no Brasil. É considerado o pai da sociologia brasileira. Sempre comprometido com a visão “dos de baixo”.
Há uma obra lançada em 1975 que o sociólogo aponta a realidade política brasileira contemporânea: “Sempre que o povo melhora a sua posição de barganha política, ou conquista posições fundamentais para a sua emancipação, os grupos e classes dominantes, articulados com setores da Forças Armadas, da Igreja e do imperialismo, rompem o processo democrático. A dominação burguesa não só avançou até o controle autocrático do Estado. Ela passou a irradiar-se, de autoproteção e auto realização.” (A revolução burguesa no Brasil, Rio de Janeiro 1975).