“Não elegemos políticos, mas figuras mitológicas para nos salvar dos nossos próprios atos”
Colunista compara relação de Bolsonaro e Lula com seus eleitorados
A dominação carismática de Bolsonaro
As eleições deste ano, sem dúvida, serão objeto de estudo e debates entre cientistas políticos, sociólogos e jornalistas que têm o tema como objeto de estudo. Há várias agendas de pesquisas que podemos tirar do pleito de 2018. Redes sociais, fake news, pesquisas eleitorais, populismo, autoritarismo etc.
Tenho a impressão de que estamos assistindo a um divisor de águas na esfera política brasileira. Não somente na forma de fazer política ou na relação entre os políticos e os eleitores, mas na distribuição das forças políticas, dos partidos políticos e até de alguns medalhões que, com a chegada de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto, tendem a se reagrupar em torno do ex-capitão.
Voltaremos ao cenário da eleição de 1989, quando tínhamos mais ou menos definidos, no espectro político brasileiro, os partidos de direita, esquerda e suas variações de centro-direita e centro-esquerda. A Bolsonaro e à direita, o principal desafio, além de resolver a crise econômica, será conviver com a democracia e com as oposições. Não podemos esquecer que, a última vez que esta força política esteve no poder no Brasil, foi por meio de um regime autoritário e que é louvado pelo novo presidente.
O poder que Bolsonaro exerce sobre os eleitores pode ser definido por dominação carismática. O sociólogo alemão Max Weber define no livro Economia e Sociedade que dominação carismática é “… baseada na crença, na veneração extraordinária da santidade, do poder heróico, ou do caráter exemplar de uma pessoa e da ordem por esta revelada ou criada”.
Neste sentido, a dominação exercida por Bolsonaro sobre os seguidores é muito similar à exercida por Luiz Inácio Lula da Silva. Esta é, sem dúvida, uma das características marcantes da forma de exercer o poder no Brasil. Não elegemos políticos, mas figuras mitológicas para nos salvar dos nossos próprios atos.
Josué de Souza escreve sempre às terças-feiras