Maurício Avi foi muito mais que um leal funcionário, foi amigo, companheiro e braço direito num dos mais fascinantes empregos que tive na vida, o de gerente-geral do Parque Ecológico Artex por cinco anos, entre 1988 e 1992. Assustou um pouco pensar que aqueles 5.296,16 hectares, área maior que alguns municípios catarinenses, estavam sob minha responsabilidade.

Entre os inúmeros desafios, assumi a perspectiva de zerar a erosão nos mais de 25 quilômetros de estradas internas dentro daquela enorme área, num prazo de quatro anos. Para isso continuamos a instalar uns 250 desaguadouros destinados a drenar as águas das chuvas para fora da estrada. Isso diminuía bastante o volume que escoava por aqueles trechos de estrada declivosos, diminuindo, na mesma proporção, a erosão. Isso era fundamental, mas, não bastava.

Percebemos que a erosão também se iniciava nos “inocentes” sulcos deixados no barro pelas passagens do valente Toyota Bandeirante do Parque, além de eventual tráfego de outros veículos, como os usados por pesquisadores da natureza do local. Acontece que a água das chuvas se encaixava e escorria por esses sulcos, iniciando-se, então, nos mesmos, o processo erosivo que poderia terminar em enormes vossorocas.

Decidimos, então, não mais permitir a formação desses sulcos longitudinais ao longo das estradas. A norma era simples: salvo em caso de emergência, nunca trafegar em dias de chuva. Além disso, jamais trafegar sempre sobre o mesmo “trilho” marcado pelas rodas, mas, sim, ora mais para a esquerda, ora mais para a direita, passando sobre a relva que crescia central e lateralmente e que precisava ser mantida roçada, como em qualquer outra estrada de raro tráfego, nas mesmas condições.

O problema foi fazer com que o Maurício, experiente motorista naquelas condições nada fáceis, se adaptasse a essa nova norma, completamente oposta ao instinto natural de dirigir, que seria o de trafegar sempre sobre o mesmo “trilho” sulcado no barro.

Vendo que não tinha jeito do Maurício se adaptar, pedi para o Amilton Berckenbrock, o excelente e não menos dedicado Educador Ambiental do Parque Ecológico, providenciar 25 cartazes com os dizeres: “Sai da trilha, Maurício!”, para serem fixados a cada quilômetro da estrada.

Amilton acabou revelando isso ao Maurício e então, finalmente, sem necessidade das placas, ele conseguiu incorporar o “sair da trilha” ao seu hábito de dirigir e os sulcos deixados pela passagem do veículo deixaram aos poucos de existir.

Com o desaparecimento dos sulcos atingiu-se o controle máximo possível da erosão, uma melhoria de mais de 99 por cento, se comparado com a situação de uso dos proprietários anteriores nas mesmas estradas.

De quebra, como o veículo passou a transitar sobre toda a largura do leito daqueles caminhos, ele mantinha a vegetação sob controle, economizando mão de obra de roçadas de manutenção, sem gastar uma gota a mais de combustível por causa disso. Passados quatro anos o resultado ficou bem visível nas próprias águas que deixavam o Parque Ecológico Artes depois das chuvas, que raramente se tornavam turvas.

Este foi mais um exemplo de que, com inovação e criatividade, o controle ambiental pode ser alcançado sem que isso implique necessariamente aumento de despesas. Ao contrário, aqui também (vide artigo publicado em 23 de abril) o custo final foi negativo, proteção ambiental com diminuição de custos.

O Doutor Paulo Nogueira-Neto, segundo a partir da esquerda, mais tarde ministro de meio ambiente de quatro presidentes da república, em visita ao Morro Baú em Ilhota, dentro de uma programação de três dias pelo Vale do Itajaí, com seus alunos de mestrado no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. Desta visita e de contatos feitos, o apoio do Dr. Paulo foi decisivo para o surgimento da Acaprena, a ONG ambientalista mais antiga de Santa Catarina, criada em 05 de maio de 1973. Foto Lauro Eduardo Bacca, dezembro de 1972.


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