“Defender que índios ocupem Unidades de Conservação não é solução para ninguém”
Índios sim, natureza também.
Em meados de outubro último, um grupo de índios Xokleng, anteriormente acampados na rua Itajaí, em Blumenau, resolveu ocupar área de treinamento do Exército no Encano Alto. Induzidos a sair de lá, acabaram ocupando, de forma irregular, uma área delimitada dentro do perímetro de duas Unidades de Conservação da Natureza (UC): o Parque Natural Municipal Nascentes do Garcia e o Parque Nacional da Serra do Itajaí.
Santa Catarina possui 28 Terras Indígenas (TI), algumas medindo milhares de hectares, outras bem menores. Em termos de Brasil as TI somam 991.000 km² o que equivale à soma de 10 estados de Santa Catarina. Alguns, como o ex-presidente que terminou o mandato, acham um exagero.
Para outros, os índios merecem mais, pois, afinal, até o ano de 1500, os povos originários ocupavam praticamente 100% do território nacional antes da chegada dos colonizadores europeus, incluindo muitas das atuais valorizadíssimas áreas centrais urbanas, pois a maioria dos lugares bons para o homem moderno morar também eram bons para os indígenas.
As populações e as culturas indígenas foram ambas destroçadas pelos europeus aqui aportados nos últimos 500 anos. Também a natureza foi devastada pelos nossos bisavós e trisavós. No caso da Mata Atlântica brasileira, restou apenas 10% da área original e mesmo assim, nestes 10%, vai ser difícil encontrar um hectare sequer em que possa se dizer que seja igual ao que era originalmente. Índios e florestas, portanto, foram ambos dizimados pelos europeus e precisam de muitíssimo mais apoio do que têm recebido até o momento.
A situação, tanto para os povos indígenas quanto para a preservação ainda é por demais frágil e delicada. Sabemos que, assim como é impossível devolver os 100% do território aos indígenas, também é impossível tudo voltar a ser coberto com as florestas e demais ecossistemas originais.
Impossível também aos povos indígenas voltar a viver como viviam originalmente em aparente harmonia com a natureza, mesmo que eles queiram, pelo menos em nosso estado e em boa parte do Brasil extra-amazônico, dadas as características do que aqui restou de ambiente natural.
Santa Catarina possui menos de quatro por cento de seu território protegido por UC, enquanto a recomendação da ONU é a de que pelo menos 17% de todos os ecossistemas terrestres sejam protegidos.
Neste contexto, a ocupação dessas poucas e frágeis áreas por indígenas só contribui para enfraquecer ainda mais as duas partes e não resolve, pelo contrário, só piora tanto a situação dos povos originários quanto a da preservação da natureza, da qual todos nós dependemos, sejamos índios ou não índios.
Diante dessas circunstâncias, defender que índios possam ocupar áreas protegidas por UC soa tão absurdo e inviável quando propugnar que eles tomem de volta as áreas mais valorizadas dos Centros de nossas cidades. Assentamento indígena? Sim, mas, jamais, ocupando as poucas e frágeis Unidades de Conservação existentes! Há espaço para tudo e para todos.
Que se resolva, portanto, o quanto antes, essa esdrúxula situação criada aqui na região, sabe-se lá por quem e com quais interesses. Com isso, todos serão beneficiados.
Na primeira publicação do quadro “Baú ambiental”, na qual mostraremos sempre antigos e históricos registros da causa ambiental na região, o destaque é para o descarte do lixo urbano antigamente. Caso de Gaspar, na margem esquerda do rio Itajaí Açu. É possível ver pela foto que o lixo era descartado às margens do rio e também queimado. Foto L. E. Bacca, em 28/02/1983.
– Assista agora:
Como surgiu o projeto Caridade Sem Fronteiras e ligação com Irmã Lúcia