Proteção do meio ambiente com custo negativo

Como já faz muito tempo que publiquei o assunto de hoje, não custa relembrar. Há cerca de 45 anos, foi feita uma enorme escavação de alto a baixo em todo o morro nos fundos do Hotel Himmelblau, no Centro de Blumenau, e o resultado foi uma enorme encosta desnudada, com o dobro da altura do prédio do hotel, exposta às intempéries.

Com a chegada das chuvas fortes do verão (ainda não se falava em mudanças climáticas), a quantidade de material erodido foi tanta, que a lama e pedregulho arrastado pelas águas entupiu completamente a canalização da rua Sete de Setembro defronte ao hotel. A via pública teve que ser aberta, a tubulação retirada e substituída por novas galerias, num trabalho de muitas semanas. Atividade particular que causou enormes prejuízos ao erário público.

Enquanto isso, ali perto, na época em que tal fato aconteceu, todo o material roçado no talude da avenida Beira-Rio no Centro, era simplesmente jogado nas águas do rio Itajaí Açu. A então Aema – Assessoria Especial de Meio Ambiente, determinou mudança de procedimento e o material roçado passou a ser destinado ao aterro controlado do lixo municipal (que depois evoluiu para aterro sanitário) e foi essa a situação que herdei quando assumi a chefia da Aema.

Um novo proprietário que adquiriu aquele terreno herdou o “pepino”, mas, concordou em colaborar, sem necessidade de notificações e intimações administrativas ou judiciais. Feito o acordo da Aema com a Secretaria de Serviços Urbanos, todo o material roçado da Beira-Rio não foi mais destinado ao Aterro Controlado, mas, sim, àquele terreno.

A família do novo proprietário entrou com a maior parte da mão de obra e, em pouco tempo, todo aquele solo estava coberto com uma camada média de 15 centímetros de relva roçada do talude da Beira-Rio, além de restos de roçadas e galhadas de podas de árvores da região central, bem como de outros terrenos do novo proprietário. Nas várias voçorocas existentes foram depositados galhos e pedaços de troncos de árvores que ajudavam a reter a matéria orgânica ali mesmo no local.

A camada de vegetação que cobriu aquele solo estéril, ao mesmo tempo, protegia o solo contra o impacto direto das gotas de água das chuvas e retinha a umidade em dias secos e ensolarados, impedindo que esse mesmo solo ressecasse.

Junto com as gramíneas e demais vegetais roçados vieram milhões de sementes das mais variadas espécies. Com a proteção do solo contra o impacto das chuvas e com a manutenção da umidade, quem escolheu quem iria nascer ou não nascer ali foi a própria natureza, que selecionou, dentre as inúmeras sementes, as mais adaptadas àquelas rudes condições. Nenhuma muda foi plantada.

O resultado foi o rápido crescimento de vegetação em toda aquela encosta, o estancamento da erosão e o surgimento, com o tempo, de exuberante floresta que hoje cobre aquele morro nos fundos do Hotel. O resultado foi tão natural que engana quase todos que observam aquela mata, pensando tratar-se de floresta nativa que ali sempre existiu.

Cristóvão Vieira/O Município Blumenau

Por quase dois anos, o material roçado do talude da Beira Rio deixou de ser transportado mais de sete quilômetros até o aterro controlado para ser depositado ali perto, a menos de um quilômetro de distância, reduzindo para menos da metade os custos desse serviço municipal.

Foi um bom exemplo de que muitas vezes é possível recuperar e proteger o meio ambiente sem que isso implique necessariamente maiores custos. Pelo contrário, os resultados foram obtidos com custos negativos. Recuperação ambiental com economia de recursos.

A impactante e gigantesca movimentação de terra nos fundos do Hotel Himmelblau em Blumenau, deixando o subsolo estéril exposto à erosão, inadmissível nos dias de hoje, foi recuperada com técnicas simples e a custo negativo. Foto Lauro Eduardo Bacca, do alto do edifício Brasília, em 27 de julho de 1979.


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