Erosão, mal que precisa ser enfrentado

O tema de hoje, continuação das duas semanas anteriores, é dividido em três partes:

1) Um amigo que viu a foto publicada no “Baú Ambiental” desta coluna no dia 30 de janeiro, achou que aquelas dezenas de deslizamentos de terra eram fenômenos causados pelas chuvas de forma natural.

Conheço bem aquela área e posso afirmar que TODOS os deslizamentos de terra que aparecem na foto foram resultado não das chuvas, mas, sim, da imprevidente ação humana, que jamais deveria ter rasgado estradas naquelas encostas íngremes e frágeis, que só a intrincada e complexa trama de raízes da floresta nativa consegue proteger.

Qualquer professor pode demonstrar a importância dessa trama de raízes aos seus alunos. Rasgar com as mãos um pedaço de pano, exige muita força. Um pequeno corte com a ponta de uma tesoura faz com que o pano rasgue com muito mais facilidade. Um trator que rompe a trama de raízes faz o mesmo que o corte da tesoura num tecido. Feita a ruptura, as chuvas não precisam fazer tanta “força” para “rasgar” a floresta e fazer desabar o solo que está abaixo dela.

2) Estradas mal planejadas e mal executadas à parte, quando uma encosta é desmatada, as coisas pioram a médio e longo prazo. Estudos revelaram que quase 90 por cento dos deslizamentos ocorridos na região do morro Baú na terrível tragédia de 2008 aconteceram em áreas que sofreram desmatamento. É possível que estatística semelhante seja válida para o recente caso de Rodeio, Ascurra e Benedito Novo, atingidos por violentos temporais.

3) Solos agrícolas mal manejados também são fonte de intensa erosão mesmo sob ação de chuvas normais. Apesar de pouco considerado pelas autoridades esse assunto é velho conhecido. Já constava no meu velho livro de Geologia da Faculdade no distante ano de 1971. Nesse livro, uma tabela demonstra como a perda anual de solo por hectare (medida de 100 x 100 metros), pode aumentar com a atividade humana, como segue:

Na mata nativa as chuvas removem 4 kg por hectare (ha) por ano; bastou explorar essa mata e a erosão salta de 4 para 220 kg/ha/ano; numa pastagem ela mais que triplica, vai para 700 kg/ha/ano; num cafezal aumenta para 1.100 kg/ha/ano e num algodoal pode chegar a incríveis 38.000 kg/ha/ano, ou seja, neste caso, 9.500 vezes mais erosão que na mata nativa original!!!

A erosão, naturalmente, vai depender do tipo de solo, clima, declividade do terreno e outros fatores. Com modernos e inteligentes métodos de cultivo, como, plantio direto, drenagem preventiva adequada, preservação onde deve ser preservado, etc. esses dados assustadores tendem a diminuir significativamente, em benefício de toda a sociedade. No entanto, sabemos que, em pleno século 21 esses cuidados ainda não acontecem em muitos lugares, aqui no Estado inclusive, o que contribui para tornar nossos solos cada vez mais pobres e nossos rios cada vez mais barrentos.

A atividade do ser humano não precisa ser, necessariamente, tão danosa ao meio ambiente. Os japoneses provam que isso é possível, como veremos numa próxima oportunidade.

Com a natureza não se brinca. Três meses depois da tragédia de março-abril de 1974 que assolou o vale do rio Tubarão no Sul de SC, o montículo de tijolos que alguém juntou foi o que restou de uma casa que havia neste local e o que parece ser uma cerca, na realidade é a pesada estrutura dos trilhos e dormentes da estrada de ferro, que a forte torrente levou de roldão pela planície.

Foto: Lauro Eduardo Bacca, em 09/07/1974.


– Assista agora:
André Espezim comenta sobre carreira, política e próximos projetos