“O cruel destino das bitucas de cigarro jogadas nas ruas e nos rios da região”
Onde se juntam as bitucas
Ademar é um simpático profissional autônomo do bairro Glória, na cidade de Blumenau. Encontrei-o na rua, defronte ao seu estabelecimento, fumando. Largou a bituca na sarjeta e entrou para me entregar um serviço encomendado.
Todos os dias, dona Jaci vai ao trabalho dirigindo e fumando. Outro dia, por coincidência, eu dirigia atrás do carro dela, na Avenida Beira Rio. Aquele braço estendido para fora da janela do carro segurando um cigarro em estágio final de tragadas prenunciava a cena previsível que viria logo a seguir e vapt! – a xepa da Jaci, que não usa o cinzeiro do carro, estava atirada na rua.
Na distante Presidente Getúlio, o Sr. Schmitt seguia a pé pelo bairro Revólver, o mesmo da tragédia climática acontecida em dezembro de 2017 e não deu outra: última tragada e vupt!, guimba na rua. De volta a Blumenau, Anselmo, que gosta de fumar enquanto pesca de cima da ponte sobre o rio Garcia, retribui a dádiva dos peixes conseguidos no dia com umas três ou quatro baganas atiradas direto nas águas do rio.
A chuva de verão arrasta a bituca do Ademar para a sarjeta, que dali segue para o canal do ribeirão da Glória que deságua no rio Garcia que recebeu as baganas do Anselmo que por sua vez deságua no Itajaí Açu por onde horas antes passou a xepa da Jaci levada pela correnteza.
A viagem mais longa foi da guimba do Schmitt que a chuva arrastou para o ribeirão Revólver que a levou para o ribeirão dos Índios que a entregou ao ribeirão Krauel, que a deixou no rio Itajaí do Norte que desaguou no rio Itajaí Açu. Resistiu a todas as correntezas e cachoeiras e chegou, como muitas milhões, melhor, bilhões de outras pontas de cigarro no mar. Das bitucas que ficaram no meio ambiente, muitas causando incêndios, deixemos para falar noutra oportunidade.
No mar a bituca do Ademar, a xepa da Jaci, a guimba do Schmitt e a bagana do Anselmo foram todas reunidas, junto com várias outras pontas de cigarro de tantos nomes num só lugar: o estômago de um peixe que as confundiu com alimento. Entupido com bitucas, assim como milhares de outros, o peixe morreu.
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