Na década de 1980, nosso antigo sítio no Vale do Ribeirão Selke, em Pomerode, cortado por uma rede de alta tensão, tinha uma de suas torres metálicas localizada sobre a pequena pastagem, numa encosta relativamente suave da propriedade. Num belo dia não tão belo, foi usado um trator para “melhoria” do acesso para manutenção daquela torre.
Como “melhoria”, a empreiteira a serviço da concessionária de energia elétrica simplesmente deu umas laminadas para tornar a estradinha novamente trafegável. Manutenção feita, aqueles 100 metros dentro do terreno ficaram abandonados ao deus-dará, com solo exposto e sem qualquer cuidado de controle da erosão. Depois de desistir de exigir a recuperação por parte da empresa, resolvi fazer um experimento por conta própria.
Sabíamos que aquele acesso ficaria abandonado por vários ou muitos anos. O que foi feito, então? Sabendo que não adiantaria plantar nada sobre aquele solo quase estéril, aproveitamos grande parte da vegetação proveniente das roçadas de manutenção ao redor da pequena casa de madeira e do pomar para formar uma cobertura de biomassa sobre o mesmo.
Como a quantidade não era suficiente para cobrir todo o solo exposto, depositamos a matéria orgânica em faixas transversais à declividade daquele acesso, onde já se observava o início de sulcos de erosão provocados pelo escoamento das águas das chuvas.
Para evitar que as águas levassem tudo caminho abaixo, o material vegetal ali depositado foi fixado com pequenas estacas de bambu espetadas no solo, principalmente dentro dos sulcos de erosão.
Para enriquecer o processo de decomposição e ao mesmo tempo “fertilizar” o solo, aquelas faixas transversais de capim e outros vegetais roçados eram regados ao anoitecer com urina coletada durante o dia, misturada com água, para o que, a família inteira, inclusive alguns visitantes colaboraram, “doando” material. Como resultado, passados apenas dois meses de verão, a vegetação desenvolvida a partir das sementes que estavam dentro do material roçado passou a cobrir aquela faixa de solo degradado. Vários meses depois, quando as estaquinhas de fixação de bambu apodreceram, a nova vegetação já estava bem enraizada e a erosão completamente zerada.
Às vezes ouço risadas quanto conto essa história. O fato é que foi mais um experimento de controle de erosão que deu certo e, o mais importante, foi feito a partir de materiais obtidos ali mesmo no local: capim roçado, estaquinhas de bambu e … uréia em forma de xixi!
Não chegou a ser um PRAD, ou seja, Projeto de Recuperação de Área Degradada, mas, serviu para demonstrar mais uma vez que, com criatividade e um mínimo de embasamento científico, muita coisa pode ser feita para melhoria do meio ambiente mesmo com escassos recursos financeiros.
Houve tempo em que os rios eram o destino de todo e qualquer dejeto doméstico ou industrial, caso desse grande volume de serragem proveniente de uma serraria em Bom Jardim da Serra (SC), causando sérios problemas de poluição das águas.
Uma canaleta, passando por sobre a estrada (em cima e à esquerda da foto), foi construída para jogar o material no rio. Poluições como essa, hoje, felizmente, são bem mais raras de serem observadas. Foto Lauro E. Bacca, em 1980.
Assista agora mesmo!
Prepare em casa um delicioso risoto de camarão com o limão siciliano: