“Para interromper o empobrecimento das nossas paisagens deveríamos ter tolerância zero aos solos expostos”
Erosão, mal que pode ser enfrentado
Nas colunas anteriores tratamos do terrível impacto ambiental causado pela erosão do solo e de alguns prejuízos que esse mal pode causar ao meio ambiente e à sociedade. O assunto ainda está incompleto, mas, para não cansar os leitores, vamos agora mostrar que esse mal pode, sim, ser controlado e, pelo menos, minimizado.
Em primeiro lugar, grande parte da solução do problema está no rigoroso cumprimento da lei. Respeitar as sábias recomendações do Código Florestal Brasileiro já é um bom começo. Ali estão previstas as matas ciliares, as áreas de preservação permanente, as reservas legais e outros aspectos.
Temos ainda boa legislação sobre proteção ao solo, combate à erosão, temos a Lei da Mata Atlântica entre outras. A Sociedade Brasileira de Recuperação de Áreas Degradadas tem dado boa contribuição ao assunto. Já nos manuais de boas práticas agrícolas, o que não falta são técnicas de conservação dos solos.
Com tudo isso e muito mais, por que, então, a maioria dos nossos rios apresenta águas extremamente barrentas, um aspecto feio, desagradável de se ver e que denunciam uma verdadeira hemorragia de perda e empobrecimento dos solos das paisagens que drenam para esses rios? A resposta é simples: não estamos sabendo fazer o dever de casa e as ações dos órgãos públicos responsáveis ou não existem, ou são absolutamente ineficientes.
Se formos resumir a solução do problema em meia linha, poderíamos dizer: TOLERÂNCIA ZERO AOS SOLOS EXPOSTOS! Nenhum metro quadrado, salvo quando da execução de uma obra ou em curtas fases do ciclo agrícola, e mesmo assim, com todos os cuidados, deveria ficar exposto.
Tive a felicidade de poder observar isso no Japão há muitos anos. Mesmo sendo um país muito montanhoso e com mais de 40 por cento dos seus solos em encostas de origem vulcânica, portanto facilmente erodíveis, ainda assim o controle da erosão por lá é impressionante.
Visitamos a então maior barragem do mundo destinada a abastecimento público de água, com seus 90 metros de altura, construída no estreito e íngreme vale do rio Tama, mais íngreme que as cabeceiras da maioria dos nossos rios.
Percorremos todo o vale acima da barragem em estreita e tortuosa via asfaltada cruzando pelas cabeceiras para retornar a Tóquio. Sem tirar o olho da paisagem, NÃO VI UM METRO QUADRADO SEQUER DE SOLO EXPOSTO.
Ou tudo era densa floresta preservada, ou área bem vegetada com grama, ou relva densa, ou era área construída e pavimentada. Na barragem, perguntei ao coordenador do nosso curso: “e aquele homem ali embaixo pescando, isso é permitido?” – “Sim”, respondeu o Sr. Motoyama: “mas, se ele for pego jogando o resto das iscas na água recebe uma pesada multa!”.
Por aqui, muitos seriam capazes de rir e achar ridículo tamanho exagero da legislação japonesa. Enquanto isso, a barragem projetada para o rio Itajaí-mirim em Botuverá tem a vida útil de seu volume morto previsto para 30 anos, quando então estará completamente entulhado de sedimentos e detritos de toda ordem. No Japão do “ridículo” controle que chega aos mínimos detalhes, a vida útil da barragem do rio Tama está prevista para 900 anos. Como se vê, precisamos ainda aprender muito e rápido, antes que seja tarde demais.
“Pessoas no deserto” foi a descrição automática que o computador deu a essa imagem. Trata-se, porém, de um terreno com enorme terraplenagem exposta às chuvas nas proximidades do município de São João Batista. Se pensarmos bem, a interpretação do computador está certa. É o ser humano insistindo em querer transformar em deserto o exuberante verde de nossas paisagens.
Foto Lauro Eduardo Bacca, em 25/12/1974.
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