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“Parque Nacional da Serra do Itajaí tem potencial para preservação, proteção, defesa e geração de emprego e renda”

O potencial do Parque Nacional da Serra do Itajaí

De manhã bem cedo, um grupo de aventureiros entra na floresta partindo do Alto Encano para fazer uma fantástica trilha de 24 quilômetros, subindo o Vale do Ribeirão Espingarda, em território indaialense. Em espraiados de margens de córregos e em pequenos trechos de lama observam, extasiados, por pegadas, que o puma e outros bichos raros também andam por ali.

Antes de chegar na lendária Terceira Vargem são alcançados por um grupo de ciclistas fazendo o mesmo trajeto. Depois encontram-se com quatro grupos que fazem o sentido inverso. Curtem a natureza e o trajeto, longe de qualquer sinal de civilização e olham para a altura do sol para garantir a chegada ao destino ainda com folga sob luz do dia, onde uma viatura os espera para trazê-los de volta à cidade.

Grupos de idosos ou de jovens menos motivados para tanta pernada ou pedal, passeiam na Segunda Vargem e percorrem parte dos três quilômetros de trilhas suaves e quase totalmente planas. Atravessam três pinguelas sobre os rios Garcia e Garcia Pequeno e chegam até a foz do Ribeirão Garrafa onde encontram incríveis vestígios de uma antiga serraria debaixo da floresta que voltou a ocupar o lugar. Piscinões naturais formados por ruidosas cachoeiras de cristalinas águas quase potáveis do rio Garcia são o grande atrativo de verão logo na entrada do Parque, sendo o piscinão da cachoeira da Garganta o ponto que atrai os jovens mais afoitos por aventura.

Vários visitantes preferiram subir até os deslumbrantes mirantes do morro do Sapo, onde tudo o que se vê são dezenas de morros cobertos pela mais pura mata nativa, exceto uns minúsculos pontinhos claros que os binóculos revelam ser alguns poucos prédios que se deixam mostrar numa brechinha da paisagem por entre montanhas no distante Norte, no Centro de Blumenau.

Outros ecoturistas escolhem fazer o Circuito Garcia Pequeno-Chuva metendo o pé na água em seis travessias do ribeirão, enquanto um grupo de observadores de aves percorre a tranquilidade da Trilha do Oito em busca da melhor foto das espécies ainda não fotografadas. Ao mesmo tempo, há os que trilham pelas matas das encostas até o mirante da Serra da Sibéria, onde, pilotos que ali acessaram vindos de Guabiruba saltam de parapente.

Alguns quilômetros a sudoeste, visitantes resolvem conhecer por dentro das galerias abandonadas os mistérios das Minas de Prata, na Nova Rússia, cheias de história que antecede em 20 anos a própria história de Blumenau, enquanto quatro quilômetros ao norte dali algumas centenas de pessoas resolvem enfrentar 6,5 km de subida para apreciar o espetacular panorama em 360 graus do alto do mirante construído nos 914 m de altitude do topo do morro Spitzkopf.

Enquanto essa movimentação de ecoturistas locais, nacionais e internacionais acontece no município de Blumenau, atrações similares são apreciadas e vividas em Indaial, Apiúna, Presidente Nereu (pico do morro Bicudo ou Pontudo do Thieme), Vidal Ramos (boia-cross, canoagem pelo rio Itajaí-mirim), Botuverá (parada nas grutas calcáreas, belíssimas paisagens), Guabiruba (saltos de parapente) e Gaspar (histórica primeira igreja adventista construída no Brasil).

Tendo como ponto central o “camping” selvagem do Faxinal do Bepe, este pode ser acessado a partir de Blumenau, Apiúna, Encano e Warnow em Indaial, Botuverá e Guabiruba, formando, somente aqui, 15 diferentes opções de trajetos.

Numa dessas opções, neste caso acompanhados obrigatoriamente por guia qualificado, seguindo por uma trilha magnificamente desenhada pelo antigo proprietário na década de 1960, os visitantes passam pela maior das experiências ecoturísticas que é apreciar a mais intocada de todas as florestas que restaram no Vale do Itajaí, uma raríssima floresta virgem com espécies hoje raríssimas pelo porte que ainda sobrevivem nas cabeceiras do rio Garcia em Blumenau.

Sem contar a volta ciclística de contorno, não pelas matas, mas, sim, seguindo pelas tortuosas rodovias vicinais, já totalmente mapeado e projetado, pronto para repetir o sucesso do já bem-sucedido circuito ciclístico do Vale Europeu.

Milhares de visitantes por dia deliciando-se com os atrativos do parque sem prejudicar a preservação, na maioria das vezes sem a sensação de aglomero, num potencial de quase dois milhões de visitantes/ano a longo prazo, é assim que sonho o futuro glorioso do Parque Nacional da Serra do Itajaí, no médio Vale do mesmo nome em Santa Catarina.

Para que o sonho se torne realidade, ele precisa ser implementado, começando pela obrigatória justa indenização das terras dos legítimos proprietários. Se o governo fizer sua parte, priorizando a implementação dos Parques Nacionais com maiores potenciais de visitação, como o Serra do Itajaí, estes Parques mais atrativos passarão a gerar renda que facilitará a implementação de outros parques mais distantes, com menor potencial de visitação e logo todos os atuais 74 Parques Nacionais estarão implementados e funcionando. Difícil? Não, se houver a mínima vontade política.

Diz-se, extraoficialmente, que quase 30 milhões de reais já estariam enterrados em algum cemitério da burocracia de Brasília, reservados ao Parque Nacional da Serra do Itajaí. Já é um bom começo. Cinco milhões, por exemplo, só por conta das compensações ambientais decorrentes das obras de duplicação da BR-470.

Cabe ao governo e aos nossos representantes públicos – deputados estaduais, federais, senadores e outros, atuar no sentido de “desenterrar” estas e conseguir outras verbas, para que o sonho acima torne-se uma feliz realidade, propiciando preservação da natureza, proteção de preciosos mananciais de água, defesa contra enxurradas e outros desastres naturais e absorção de carbono da atmosfera dentre outros tantos benefícios que por si sós já justificariam a total preservação da área.

A geração de emprego e renda para as populações vizinhas a este Parque Nacional e alavancamento verdadeiramente sustentável da economia regional seria apenas um bem-vindo efeito colateral positivo.

Até a ocorrência da tragédia de 2008, era possível fazer os 24 quilômetros de travessia Alto Encano (Indaial) – Segunda Vargem (Blumenau) em um único dia, caso desta foto obtida quando nosso pequeno grupo a pé foi alcançado por um grupo de cerca de 15 ciclistas, liderados pelo saudoso Wilberto Boos, que não aparece nesta foto.

A recuperação e reabertura desta e de várias outras trilhas é perfeitamente viável, bastando interesse das autoridades na implementação do Parque Nacional da Serra do Itajaí e do Parque das Nascentes nele inserido. Primeiro à esquerda, veterinário e ambientalista Vanderlei Schmitt. Foto Lauro Eduardo Bacca, em 30/04/2006.


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