“A ‘lei’ da oferta e da procura também vale para a cultura?”
Colunista comenta sobre a visão comercial da cultura e como o tema gerou repercussão após publicação sobre Bacurau
Começo a coluna de hoje relacionando cultura à “lei” da oferta e da procura, elaborada por Adam Smith, considerado por muitos o “pai” da economia moderna. A teoria de Smith associa a indicação do preço de um produto com sua demanda e oferta no mercado. Em outras palavras, quando há muita oferta, os preços diminuem, e quando há muita procura, os preços aumentam.
Já a cultura, sendo material e imaterial, torna este cálculo complexo. Como mensurar, em números, algo tão abstrato e plurifacetado como a cultura? Como pensar unicamente pela lógica do mercado, este conjunto, artístico, de conhecimentos, valores, símbolos, crenças e costumes, vinculado às práticas e realizações de um povo ou grupo social?
Talvez o momento mais oportuno para discutir esta questão seja agora, dada a repercussão da não-exibição do filme Bacurau em Blumenau, pelos exibidores. Desde que escrevi minha crítica, abordando a existência desse problema, Blumenau está debatendo sobre o assunto e colhendo frutos. Com isso, podemos tirar alguns aprendizados.
Ficou mais do que claro que a cidade tem demanda para filmes como Bacurau, algo que os cinemas de Blumenau não acreditavam. Quando um grupo de amigos e eu decidimos trazer a obra de forma independente, os ingressos acabaram em pouco mais de uma hora.
Ainda, para aquela parcela da população que acredita que os cinemas da cidade devem passar apenas filmes que gerem lucro, como se a arte estivesse à mercê da lógica neoliberal, o longa também se mostrou um sucesso de bilheteria.
Graças ao esforço da organização independente e do apoio da Unisociesc, uma conquista de muitas mãos, conseguimos trazer o filme para a cidade, a ser exibido pela primeira vez, na quarta-feira, dia 4 de dezembro, na Unisociesc, centro de Blumenau.
Esta sessão, oficial e gratuita, foi concedida pela Vitrine Filmes, e contará com uma cópia trazida direto da distribuidora de Bacurau pela atriz e cineasta Paula Braun, que estará presente no debate. Além disso, no dia da exibição teremos vídeos do elenco e dos diretores Kleber Mendonça e Juliano Dornelles, com mensagens voltadas diretamente ao público blumenauense.
Quem não conseguiu um ingresso terá outra chance de assistir ao filme na Universidade Regional de Blumenau (Furb). A primeira sessão, dia 9 de dezembro, já teve as inscrições esgotadas. Uma segunda sessão foi pensada, e ocorrerá no dia 13 de dezembro, às 18:00, apenas com mulheres no debate e mediação. Participam, além de mim (Jéssica Frazão/ECA-SUP), a prof. Dra. Carla Bento (CCEAL-EDU) e a prof. Érica Monteiro (PPGE). Fiquem ligados nas redes da universidade.
Está acontecendo uma reação em cadeia pelo cinema nacional. Uma reação independente, que torna explícito nossa carência de bons filmes, de bons eventos, aqueles que geram debate e trazem reflexão. Valorizem os eventos da cidade, tem vida acontecendo agora e coisa sendo pensada para 2020. Aprendamos que cinema não é só indústria! Cinema é arte, cultura, política e bem-estar social.