Loja on-line com quiosque em shopping de Blumenau é acusada de golpes milionários por clientes

Mi Store Brasil teria apagado site e todas as redes sociais sem entregar produtos vendidos

A loja on-line da Mi Store Brasil, que conta com um quiosque no Shopping Norte, em Blumenau, está sendo acusada de golpe por diversas pessoas pelo Brasil. Após realizar vendas on-line no fim do ano, principalmente durante a Black Friday, as redes sociais e o site da empresa sumiram da internet em janeiro de 2020, sem realizar centenas de entregas.

Em um grupo no Telegram denominado “Vítimas da MiStoreBrasil”, 194 membros falam sobre a situação que passaram e como estão tentando reaver os pagamentos. Todos compraram via Paypal, PagSeguro ou Mercado Pago. Os poucos que fizeram a reclamação mais cedo, já conseguiram ter o estorno, porém, a maioria segue em busca de soluções.

Jon Borgström é morador de Ilhabela, em São Paulo, e comprou um celular no dia 27 de novembro, com entrega prevista para o dia 16 de dezembro. Como o produto atrasou, ele começou a buscar informações sobre a entrega e confiabilidade do site.

“Só abri a disputa no PagSeguro quando visualizei inúmeras reclamações no Instagram, porque até então eu confiava na mensagem deles dizendo que haveria um atraso devido a logística”, contou Borgström.

Porém, o problema não parou por aí, segundo ele. Após tentar reaver o dinheiro pelo PagSeguro, ele recebeu e-mail com a confirmação de que havia adquirido o direito, mas sem o reembolso.

“Optei por ligar para a central de atendimento, e lá a atendente me informou que havia sido direcionada a repassar a informação que o PagSeguro irá ressarcir os clientes lesados caso haja saldo na conta do vendedor”.

Nossa equipe entrou em contato com a assessoria da PagSeguro, porém, não recebemos resposta até a publicação desta reportagem.

Já o Mercado Pago informou em nota que “cabe ao vendedor MiStore o reembolso dos clientes, uma vez que a empresa é beneficiária dos pagamentos. Como plataforma de processamento de pagamentos, o Mercado Pago apenas viabiliza a devolução dos valores aos clientes, a partir de recursos existentes na conta do lojista”.

O Mercado Pago informou ainda que “em razão do descumprimento dos Termos e Condições de Uso, o vendedor MiStore foi inabilitado na plataforma de processamento de pagamentos”.

Má avaliação no Reclame Aqui

Além do grupo no Telegram com diversos relatos, várias reclamações e denúncias foram publicadas no site Reclame Aqui. Atualmente são 151 reclamações não respondidas, sendo muitas delas de não entrega e não estorno financeiro.

“Registrei um boletim de ocorrência e fiz uma denúncia no Procon. Aconselho que procurem os seus direitos, não vai ser fácil reaver o dinheiro perdido, porque uma vez o dinheiro depositado na conta o banco não consegue fazer nada, só por meio de ordem judicial” diz a publicação mais recente.

Outras denúncias mais antigas confirmam o recebimento do produto, porém sem nota fiscal, ou sem resposta para a garantia, por conta de algum problema.

Novo site e nota oficial

Com as contas nas redes sociais e o site oficial excluído sem dar explicações prévias aos clientes, um novo site da Mi Store Brasil foi criado com outro domínio. O site possui apenas com um comunicado oficial de encerramento. Na nota, a empresa aponta que por forças maiores precisou fechar em 2020, mas não explica os motivos. Além disso, informa que está tentando realizar o ressarcimento de quem fez compras na black friday e não recebeu os produtos.

Outro destaque é para a informação de que a loja on-line nada tem a ver com lojas físicas ou quiosques da Mi Store Brasil.

Confira a nota oficial que consta no site na íntegra:

Loja on-line e lojas físicas

No antigo site da Mi Store Brasil – que só foi possível ser acessado por cópias de cache na internet – na aba “Quem Somos”, a empresa em novembro de 2018 se apresentava como um domínio criado pela JCell Celulares, situada em Timbó, com centro de distribuição em Blumenau e São Paulo, e que era gerida pela Action Sales Companhia Digital.

 

Reprodução

O CNPJ apontado na publicação está em nome de Jorge Juarez Krause. Em 2019 estre trecho foi alterado, e apenas citou a sede em Timbó.

Em Blumenau, no Norte Shopping, também existe uma loja JCell. Nossa equipe conversou com a gerente, que também gerencia o quiosque da Mi Store e um quiosque da Huawei – que usam o mesmo sistema de vendas. Ela contou que o proprietário da JCell em Timbó era sócio dos proprietários dos quiosques no Norte Shopping, mas que não existe mais associação, e cada um toca o seu próprio negócio, sem qualquer vínculo.

Os CNPJs impressos nas paredes dos estabelecimentos confirmam que os donos são diferentes. Entretanto, as sacolas que são entregues aos clientes no quiosque da Mi Store por exemplo, estampam o site e as redes sociais da Mi Store Brasil, que foram excluídas.

Além disso, na parte de televendas, o telefone que constava no site excluído é o mesmo do quiosque no Norte Shopping. Nossa reportagem tentou entrar em contato por telefone, mas não fomos atendidos. Quando fomos até o local, os funcionários informaram que o número não era o mesmo.

Telefone apresentado no site excluído é do quiosque de Blumenau / Foto: Reprodução

Huawei Store Brasil

A loja Huawei Store Brasil também era gerida pela Action Sales Companhia Digital, e utiliza o mesmo sistema. Assim como a Mi Store Brasil, o site e as redes também foram excluídas. A gerente do quiosque da Huawei no Norte Shopping – mesma da JCell e Mi Store Brasil -contou que não há ligação entre site e estabelecimento físico.

Ex-funcionário afirma que o proprietário é o mesmo

Nossa reportagem conseguiu conversar com um ex-funcionário da JCell, que não quis se identificar, mas afirmou que Julio César Hintemann Filho era o dono de toda a rede.

“Trabalhei na JCell do Norte Shopping entre 2018 e 2019, mas a loja, os quiosques e o site são todos do Júlio no caso. Ele é o dono de tudo na operação”, contou.

No CNPJ da empresa que contratou e pagava o funcionário havia o nome de Jorge Juarez Krause, que segundo ele, é “um dos principais laranjas no caso. Ele que dava nome na JCell”.

O ex-funcionário destacou também que o site e as lojas tinham equipes diferentes, por isso não teria detalhes sobre o funcionamento.

Contrapontos

Nossa equipe tentou entrar em contato com Júlio Cesar Hintemann Filho e Jorge Juarez Krause. Hintemann até chegou a conversar com nossa reportagem, mas não respondeu aos questionamentos.

Porém, o advogado da Mi Store Brasil, Franklin José de Assis, nos contatou e informou que a empresa já está trabalhando para resolver a situação. Segundo ele são dois pontos cruciais: o primeiro é que o site foi excluído por conta da perda judicial de domínio, ou seja, eles não seriam mais donos da página, mas não deu mais detalhes de como isso aconteceu.

O segundo é que criaram um canal para conversar com todos os clientes para realizar a devida devolução do dinheiro. “Ninguém vai perder absolutamente nada, até porque todas as vendas que foram feitas foram mediante intermediação de PagSeguro e Paypal. Então basta somente as pessoas se habilitarem que os valores serão restituídos”.

O canal para conversar com os clientes também não foi informado. O advogado finalizou explicando que as mercadorias não serão entregues, pois o foco agora é tentar restituir o site para seguir o trabalho.

Loja não é a oficial da Xiaomi no Brasil

A marca Xiaomi cresceu muito nos últimos anos no Brasil. Ela esteve presente oficialmente entre 2015 e 2016 no país retornou apenas em 2019, em parceria com outra empresa brasileira. Durante o período ausente, muitos brasileiros que queriam comprar celulares ou aparelhos eletrônicos da marca encontraram na Mi Store Brasil a forma de fazê-lo.

Isso até gerou confusão, já que a loja oficial da marca é “mi.com”, e a loja brasileira não oficial era “mistorebrasil.com”, ou seja, nomes semelhantes.

Mesmo não sendo uma loja oficial, durante todo esse tempo até dezembro de 2019 a Mi Store Brasil estava realizando as vendas e as entregas sem denúncias.

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