Mães seguem protestando por guarda de filhos em frente ao Fórum de Blumenau

Mulheres relatam dificuldade em dialogar com assistência social e Justiça

Quem passa em frente ao Fórum de Blumenau encontra todas as tardes um grupo de mães protestando pela guarda dos filhos. Dentre os relatos estão relatórios com informações deturpadas, dificuldade em serem ouvidas pela Justiça e atendimento falho da assistência social municipal.

Entre elas está Yurelis, venezuelana que quer voltar ao país de origem, mas segue no Brasil para tentar recuperar os dois filhos mais novos. Um deles foi levado antes mesmo de completar um mês, assim que o casal chegou em Blumenau, em janeiro deste ano.

“Não posso voltar pra Venezuela, porque querem dar meus filhos para adoção. Estou há cinco meses sem poder ver eles, porque quando reclamei de como eles estavam sendo tratados no abrigo me tiraram esse direito”, conta.

Carla Melo relata que desde 24 de fevereiro tenta resgatar a convivência com os filhos. O relatório dela é similar ao da maioria, citando uso de drogas e negligência como os motivos da decisão. Todas negam ambas acusações.

“Nossos advogados trazem provas e a promotora nem olha. Até eles estão estranhando essa situação. Eles simplesmente tiraram meus filhos de mim e colocaram direto na adoção. As avós e tias tentaram a guarda, como a lei permite, mas foi negada sem motivo”, alega.

Mãe de um menino de 1 ano e 3 meses e outro de 4, ela questiona o tratamento da promotora. Segundo ela, enquanto a assistência social tem voz, as mães são tratadas de forma áspera e têm poucas oportunidades de se manifestarem.

Outras mães, que há meses aguardam retomar contato com os filhos, sequer conseguiram passar por uma audiência. Elas se uniram após alguns casos de filhos sendo retirados das mães se tornarem manchetes na cidade.

“Cada dia aparece uma diferente aqui. Há mais de uma semana começamos a nos reunir aqui no Fórum. Todas sentimos que o ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] não está sendo respeitado”, ressalta Carla.

Alice Kienen/O Município Blumenau

Ao todo, o grupo conta com 11 mães que lutam pela guarda de 15 crianças. A maioria está na faixa etária entre 1 e 4 anos. Entretanto, alguns chegam a ter poucos meses. “Se a gente tá sofrendo tanto assim, imagina nossos filhos”, desabafa uma delas.

Outro relato comum, é de que as crianças após abrigadas perderam peso ou sofreram regressões no desenvolvimento da fala ou da socialização. Uma das mães chegou a relatar que o filho de 3 anos estaria sendo medicado para ficar mais calmo.

“Ele era muito elétrico e quando chegamos ele nem falava com a gente. Estava dopado. Estou grávida de quatro meses e já estão ameaçando tirar o bebê de mim. Tenho provas de que ele sempre foi bem cuidado, que o pré-natal está em dia e de que ele tomou todas as vacinas”, reclama Vitória Carolin.

Segundo ela, a denúncia de maus tratos teria vindo de uma tia que é sua vizinha e queria a guarda da criança. A parente teria alegado que Vitória usava drogas, se prostituía e agredia o filho, o que ela nega.

“Meu filho não tinha marca nenhuma, o laudo médico comprovou isso. Já no relatório usaram meu passado na adolescência para tentar me prejudicar. Sinto que tratam nossos filhos pior do que cachorro, tirando eles da família assim”, desabafa.

Contraponto

Em resposta, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Blumenau afirmou que não pode se pronunciar sobre os atendimentos, por se tratarem de casos que correm em segredo de justiça.

Os processos envolvendo crianças seguem em sigilo, portanto não é possível fornecer mais informações sobre o caso. Todos os casos que estão em acolhimento nos abrigos são acompanhados judicialmente, as decisões partem do Judiciário.

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