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Maicon Tenfen: “Há décadas se discute diversidade em sala de aula”

Em artigo, professor e escritor defende evento organizado pela Escola Elza Pacheco

Na última terça-feira, a Câmara de Vereadores de Blumenau aprovou uma moção de repúdio contra um festival de cinema planejado para o dia 14 de novembro no Colégio Estadual Elza Pacheco, sediado no município. O público-alvo do evento são os estudantes do Ensino Médio.

De acordo com a programação do festival, serão exibidos filmes como O Pagador de Promessas (1962), Paradise Now (2006), Moolaadé (2004), Xingu (2011) e Tomboy (2011). O objetivo é promover rodas de conversa sobre, respectivamente, religião, Oriente Médio, África, indigenismo e diversidade sexual.

O motivo da moção é o tópico “diversidade sexual”, imediatamente relacionado à expressão “ideologia de gênero”, algo que não deveria ser discutido nas escolas por se tratar de uma teoria doutrinária. Segundo os vereadores, o tema teria sido retirado dos planos nacional, estadual e municipal de educação.

Durante a sessão de ontem à tarde, manifestantes a favor e contra a moção ocuparam a câmara para protestar. Enquanto o lado esquerdo do auditório foi ocupado por defensores das discussões sobre gênero nas escolas, o direito contava com a presença de membros do Movimento Brasil Livre (MBL).

O clima de torcida organizada logo se instalou. Após a fala de cada vereador, os coros se alternavam entre expressões como “ignorante” e “me representa”. Alguns vereadores citaram os casos do Museu Queer de Porto Alegre e do Peladão do MAM como exemplos de ataques a Deus e à família brasileira.

Os professores do colégio afirmaram à imprensa que o evento não será cancelado.

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Existe uma frase famosa — normalmente atribuída ao iluminista Voltaire — que acaba de cara com essa lenga-lenga sem sentido: “posso não ser a favor de nenhuma palavra que dizes, mas defenderei até o último instante o direito que tens de dizê-la”.

Está claro que o festival não propõe a discussão de gênero como ideologia, mas como diversidade, algo que é feito há décadas em sala de aula e que está, sim, em conformidade com os planos estaduais de educação.

Os filmes são ótimos, os adolescentes só vão ganhar em vê-los e não há nada melhor do que um bate-papo depois da sessão. Ah, os convidados são negros, índios, brancos, hetero e homossexuais? Finalmente, não? Se o evento é sobre diversidade, nada melhor do que a própria diversidade.

Quanto aos vereadores de Blumenau, por que não param de dar vexame? Ninguém aí tem o mínimo senso do ridículo? Moção de repúdio é coisa de criança mimada. Mas podem ficar tranquilos, ok? A família brasileira está muito bem sem a proteção de vocês.

Que venha o próximo assunto, ou os próximos vereadores. Discutir censura em 2017 — ainda mais na educação — é mesmo o fim da picada.

Este artigo foi publicado originalmente no blog de Maicon Tenfen na Revista Veja e reproduzido aqui com autorização do autor.