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Mais de duas mulheres foram agredidas diariamente em Blumenau em 2021

Confira dados de agressões e feminicídio da cidade

Em comparação a 2020, o ano passado apresentou uma redução de 11,57% nos casos de violência contra a mulher em Blumenau. O índice foi de 1.089 para 963. Ainda assim, o número representa uma média de mais de 2,6 mulheres sendo agredidas por dia na cidade.

Para o comandante da 7ª Região de Polícia Militar, tenente-coronel Jefferson Schmidt, o dado não é necessariamente positivo. Ele acredita que muito se deva ao fato de diversos casos de agressão não serem registrados.

“É excelente que numericamente está diminuindo. Todavia, é uma realidade que ainda não podemos comemorar. Pode dar uma falsa ideia de que a violência contra a mulher está diminuindo quando, na verdade, ainda não chegamos nesse patamar. Ainda temos muito a trabalhar, para que as mulheres tenham coragem de denunciar e para que os homens deixem de ser covardes”, avalia.

“Não podemos mascarar uma possível melhora porque entendemos que ela ainda não está sanada. Está havendo um número de registros menor do que no ano anterior. Não podemos nos enganar, continuamos tendo agressões às mulheres”, ressalta o comandante.

Apesar da redução perceptível no número de registro de ocorrências, ele ressalta que o número de agressores com medidas protetivas vigentes segue o mesmo. Uma das possibilidades que ele levanta é de que as mulheres desistem de denunciar reincidências.

“Durante a pandemia muitas mulheres perderam emprego e passaram a ser dependentes dos companheiros. Imagina uma mulher dessa que está apanhando e não pode falar nada porque fica sem moradia e com filhos para criar. O medo de não ser aceita, o preconceito que ela sofre da sociedade, de ser agredida novamente”, denuncia.

Schmidt ressalta que, caso a diminuição prossiga no próximo ano, poderá ser considerada um sinal de melhoria. Porém, por enquanto, o dado segue preocupante.

“Mesmo se tivéssemos apenas uma única agressão registrada, ainda não poderíamos baixar a guarda. É um crime tão repugnante que nunca será possível comemorar os dados”, conclui.

Redução em crimes violentos

No geral, a Polícia Militar de Blumenau registrou uma queda de 15% em crimes violentos comparando 2021 a 2020. Roubos também apresentaram uma queda, mas mais tímida, de 4%.

“O balanço positivo é decorrente de um trabalho conjunto. Em especial, a promoção de estratégias de prevenção desenvolvidas por todas as modalidades de policiamento do 10º BPM”, afirmou o comandante da unidade, tenente-coronel Márcio Alberto Filippi.

Em Santa Catarina o resultado também foi positivo, com o menor índice de crimes violentos desde 2008, quando os dados começaram a ser levantados. A maior queda foi nos homicídios, que caíram 8,6%.

Neste caso, Jefferson Schmidt ressalta que é possível ligar o trabalho da Polícia Militar à redução. “Já na redução na violência contra a mulher precisamos prestar mais atenção. Muitas deixam de registrar quando são agredidas pela primeira vez. Continuamos pedindo para que as mulheres registrem e acreditem nas instituições de segurança. Só assim podemos manter nossos programas preventivos”, reforçou o tenente-coronel.

Feminicídio

O ano de 2021 quase encerrou sem nenhum feminicídio em Blumenau. Entretanto, no fim de novembro, Deniza Soares Kukul foi esfaqueada pelo companheiro. A mulher de 29 anos foi morta na frente da mãe, que estava no carro com o casal.

Alessandro Pereira, de 37 anos, se entregou na Delegacia de Proteção à Mulher três dias depois afirmando que foi tomado por um ataque de fúria e não lembrava do crime. Eles estavam voltando de uma festa de aniversário, onde teriam bebido.

Deniza foi a única vítima de feminicídio em Blumenau de 2021. | Foto: Facebook/Reprodução

Durante a briga, Alessandro parou o carro na rua Theodoro Passold, no bairro Fortaleza Alta, e esfaqueou Deniza no pescoço. Em seguida, ele fugiu a pé e deixou a companheira sem vítima ao lado da sogra.

Deniza era natural de General Carneiro, no Paraná, mas morava em Blumenau com a mãe, dois filhos e o companheiro.

Diferença está nas medidas protetivas

Para a delegada Juliana Tridapalli, da Delegacia de Proteção ao Adolescente, Mulher e Idoso, também não há o que comemorar nos dados de Blumenau. Apesar de nos últimos dois anos apenas uma mulher ter sido vítima de feminicídio, ainda é uma vida perdida.

“Se compararmos 2019, a diferença é de 50%. Mas na realidade é de apenas uma vítima. Uma morte ainda significa muita coisa. E nos números de violência doméstica não percebo grande diferença”, comenta.

Leia também: Moradora de Blumenau vítima de feminicídio em 2020 já havia chamado polícia duas vezes por violência doméstica

Ainda assim, a delegada acredita que a evolução na área está no fato de que as mulheres estão mais conscientes dos seus direitos e denunciando mais as violências que sofrem. Um dado que aumentou muito nos últimos anos foi o de pedido de medidas protetivas.

“Nesse ponto vem aumentando bastante. Talvez o número esteja se mantendo porque mais mulheres estão denunciando. Outra diferença é que antes as mulheres procuravam a delegacia, agora fazem muitos boletins de ocorrência pela internet”, conclui.


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