Mamãe empreendedora: a história de mães de Blumenau que encaram os desafios da jornada dupla

Nascimento dos filhos motivou mudança de carreira

A vontade de passar mais tempo com os filhos incentiva muitas mães a empreender. Em Blumenau, não é diferente. Muitas das pequenas empreendedoras da cidade tomaram esse rumo após verem suas vidas serem transformadas pela maternidade.

A carioca Daphne Segal, de 38 anos, já acumula 15 anos de experiência como modelista em grandes empresas e até marcas próprias. Porém, após se mudar para Blumenau e engravidar, ela percebeu que precisava combinar a vontade de ficar perto da filha com a necessidade de manter a renda familiar.

Atualmente Hagnes tem 4 anos e meio e está sempre perto da mãe no espaço da Zuzu Paranã, marca pensada para mães sustentáveis. Daphne produz fraldas de pano, slings e mochilas ergonômicas para ajudar na conexão entre mãe e bebê.

Hagnes na mochila ergonômica produzida pela mãe. | Foto: Instagram/Reprodução

“Como meu marido trabalhava fora, eu precisava levar a bebê para todo o lado. Comprei um tecido e fiz um sling, no qual ela passava o dia todo. Se eu ia comer, no banheiro ou pegar ônibus, ela ficava grudada em mim. Outras mães começaram a pedir e passei a costurar para elas”, conta a empreendedora.

Para Daphne, o empreendedorismo foi a melhor escolha por flexibilizar os horários e permitir que ela acompanhasse o crescimento da Hagnes, que tinha 4 meses quando ela começou a Zuzu Paranã. Porém, ela reforça a dificuldade em ser dona do próprio negócio e ainda dar conta da maternidade.

“Sempre achava que seria fácil continuar trabalhando sendo mãe, mas é muito difícil. Seja fixo ou empreendendo. Eu consegui acompanhar os primeiros passos e palavras da Hagnes, mas quando ela fica doente não posso entregar atestado para as encomendas. Fisicamente é muito desgastante”, desabafa.

Apesar da pressão social que sofre como mãe empreendedora, Daphe prefere tornar o trabalho o mais leve possível e mostrar isso para Hagnes. A menina é incluída nos processos quando quer passar tempo com a mãe e ajuda na produção de algumas peças.

“Ela vem e pede pra trabalhar comigo, senta na máquina de costura, sempre arranjo algo pra ela fazer. Independente do que eu fizesse, tentaria inserir ela nesse contexto. Não quero que ela cresça vendo o trabalho como algo que nos separa ou que deve ser encarado como algo negativo”, compartilha

Hagnes se diverte ajudando a mãe Daphne a produzir os itens da Zuzu Paranã. | Foto: Alice Kienen/O Município Blumenau

“As pessoas precisam ter mais empatia com as mães e com as crianças. E as mulheres precisam ter menos expectativas de que a vida voltará ao normal após o bebê nascer. Eu achava que voltaria a trabalhar dias depois, mas não é uma ideia realista. O fluxo com as crianças é totalmente diferente”, aconselha.

Oliva Acessórios

Natural de Lages, Natalia Astigarraga Fernandes, 25 anos, veio para Blumenau após a mudança do pai e acabou tendo Bento, 3, na cidade. O primogênito nasceu em dezembro de 2019, meses antes da pandemia do coronavírus mudar a rotina de todo o país.

Com experiências que vão desde trabalhar como babá até mecânica de motos, a jovem nunca se adaptou à jornada de trabalho formal. Com o lockdown e o nascimento do filho, ela decidiu se dedicar a uma carreira que não a impedisse de acompanhar a primeira infância do filho.

Bento e Natalia. | Foto: Arquivo pessoal

Foi aí que nasceu a Oliva, marca de acessórios de cerâmica plástica feitos à mão. Como a primeira do segmento em Blumenau e região, Natalia vê o fator artesanal do produto como um diferencial da marca.

“O mais desafiador foi aprender duas coisas ao mesmo tempo quando comecei. Era mãe e empreendedora de primeira viagem. Foi uma adaptação muito desafiadora, especialmente para entender que meu filho e o trabalho terão demandas e precisarei encaixar elas”, relata.

Esgotamento

A carreira já chegou a levar Natalia a um burnout no fim de 2021. Para ela, a pressão que recai sobre as mulheres, especialmente as mães, foi o principal fato que a levou ao esgotamento mental. Na época, além de ser responsável pela marca e pelo filho, ela atuava freelancer em uma agência de marketing.

“Eu sempre dei tudo de mim em tudo que eu faço. Como mãe e empreendedora não foi diferente. Quis abraçar o mundo ao invés de pedir ajuda. Tentava de toda forma trazer renda pra minha casa, mas aí eu me cobrei demais e surtei. A terapia me permitiu voltar a me enxergar como mulher”, aconselha.

Brinco produzido por Natalia com os dizeres MOM PWR, relacionado ao poder materno. | Foto: Arquivo pessoal

Ao começar a vender as peças, Natalia acabou tendo contato com outras mães empreendedoras e conseguiu formar um novo ciclo de amizades. Atualmente Natalia também atua como corretora autônoma, mas mantém os horários flexíveis. Para ela, apesar das dificuldades, a carreira permite que ela aproveite pequenos momentos com Bento.

“Mesmo meu marido sendo super presente na vida do Bento, ele trabalha fora. Às vezes é difícil explicar pro Bento que eu preciso trabalhar. Já cheguei a ouvir ‘você só trabalha, eu queria brincar com você’. Sei que o dia de hoje não vai se repetir e logo ele não vai ser mais criança”, lamenta.

Mãe que fomenta o empreendedorismo

A blumenauense Jane Maria Ramos, 32, possui uma empresa de gestão empresarial e contabilidade e criou o Movimento Empreender Mulher, que desenvolve empreendedoras na cidade. Porém, a trajetória dela foi árdua para chegar até aqui.

Vinda de uma família pobre, ela não tinha expectativa de estudar e acabou se casando aos 18. Em poucos anos ela percebeu que não estava feliz no relacionamento, mas acabou engravidando de Guilherme, atualmente com 10 anos. Mesmo com um bebê recém-nascido, ela decidiu se separar e começou a estudar.

Guilherme e Jane. | Foto: Arquivo pessoal

“Entrei na faculdade de Direito aos 23. Precisei largar tudo, até meu emprego, já que trabalhava com meu ex-marido. Recomecei minha vida sozinha com meu filho. Comecei a trabalhar na área financeira, porque sempre sonhei em ser auxiliar administrativo e estudava pela internet”, conta.

Ainda com Guilherme pequeno e cursando Direito, Jane começou a faculdade de Ciências Contábeis. Vista como “louca” pelos amigos e familiares por passar o dia todo estudando e trabalhando, ela mal via o filho nesse período.

“Me culpava muito como mulher e mãe por não estar com ele. Deixava ele na creche 6h e quando ia buscar na casa da minha mãe ele já estava dormindo. Mas se hoje consigo ficar com ele e dar uma vida melhor é porque abri mão desses 5 anos”, reflete.

O dinheiro era curto, e Jane lembra que dividia o pastel com a colega de Direito, atual sócia, pois elas não tinham dinheiro para comprar um lanche para cada durante o intervalo. “Hoje temos uma empresa com seis funcionárias. Mas porque na época mal tinha dinheiro pra comer e comecei uma segunda faculdade”, relembra Jane.

Volta por cima

A blumenauense começou a atuar como consultora financeira para amigos, como uma renda extra. Com o tempo foi recebendo mais pedidos e trabalhava durante horário de almoço, madrugadas e intervalo da faculdade. Pouco antes da pandemia, em 2019, ela começou a empreender.

“Eu tinha um salário muito bom e já era gerente financeiro. Mas não estava mais tão à vontade na empresa e guardei dinheiro para encarar esse desafio. Em um mês já tinha fechado contratos que chegavam ao meu salário como CLT”, comemora.

Essa trajetória também permitiu que Jane visse a dificuldade das mulheres empreendedoras no ramo financeiro. Os grupos de networking eram pagos e ela não tinha como bancar. Por isso, em novembro de 2020 criou o Movimento Empreender Mulher.

“O meio empresarial é predominantemente masculino. Em uma empresa na qual eu fazia consultoria financeira, não podia participar das reuniões por ser mulher. Só ganhamos espaço num lugar usando salto alto, enquanto um homem de tênis é escutado por todos. Sofro esse preconceito até hoje, então quero que as mulheres conquistem muito mais espaços”, defende.

Jane trabalhando com o Movimento Empreender Mulher. | Foto: Arquivo pessoal

Em poucos meses ela já reuniu 40 mulheres para falar sobre o tema e, desde então, as quase 400 integrantes já participaram de eventos, palestras, rodas de negócios e cursos online. Atualmente Jane está noiva, planeja engravidar em breve e celebra a nova fase da vida.

“Sempre fui vista como louca. Primeiro por me divorciar, depois por estudar e, em seguida, por empreender tendo estabilidade profissional. Fui bastante julgada. Questionaram muito o que eu faria se não desse certo, mas ninguém ofereceu ajuda”, relembra.


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