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Mamonas Assassinas em Blumenau: 25 anos do show que colocou 42 mil pessoas na Prainha

Especial traz histórias e bastidores do show realizado no dia 22 de outubro de 1995

A banda Mamonas Assassinas foi um dos maiores sucessos relâmpagos que a música brasileira já produziu. Dinho, Bento Hinoto, Júlio Rasec, Samuel Reoli e Sérgio Reoli tiveram apenas um álbum lançado, que, no entanto, vendeu mais de três milhões de cópias e fizeram praticamente todas as faixas estourarem Brasil afora.

Pouco menos de cinco meses antes da tragédia de avião que matou os cinco integrantes da banda, no dia 22 de outubro de 1995, eles estiveram em Blumenau e fizeram aqui um dos maiores shows da breve carreira. Cerca 42 mil pessoas lotaram a Prainha para acompanhar a apresentação. Hoje, 25 anos depois, o jornal O Município Blumenau traz uma reportagem especial sobre este dia.

Público lotou a prainha para acompanhar a banda. Foto: Caio Santos

O show fez parte da segunda edição do Skol Rock, evento público realizado em Blumenau, em 1994, 1995 e 1996. Aliás, os Mamonas Assassinas nem faziam parte da lista de bandas do evento antes dele iniciar. Mas o sucesso estrondoso nas rádios fez a organização do Skol Rock trazê-los, até utilizando helicóptero.

Essa história quem conta bem é Fabrício Wolff, que ao lado do irmão, Nico Wolff, eram os idealizadores do Skol Rock. Fabrício conta que em primeiro momento, antes de anunciar todas as bandas que participariam do evento, eles até chegaram a sondar quinteto.

“Foi um outro irmão meu que morava em Porte Alegre, que me ligou um dia e me perguntou se eu já tinha ouvido Mamonas Assassinas, porque tava tocando direto na rádio. E eu fui ouvir e, mesmo, tocava coisa de seis, sete vezes por dia. Pensei, vou ligar pros caras! Descobri o empresário e liguei, eles me pediram R$ 8 mil, valor que na época eu podia trazer Capital Inicial, Ultraje a Rigor, entre outras bandas consagradas”, conta Fabrício.

Fabrício então relata que “deixou quieto”, e fez o line-up daquele ano com outras bandas nacionais, como Barão Vermelho, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso, Banda Sol e Magia, Leoni, Nenhum de Nós e Camisa de Vênus.

Cartaz do evento com as bandas não contava com Mamonas Assassinas. Foto: Caio Santos

Porém, na primeira semana de evento, com ele já fechado, a banda Mamonas Assassinas bombou ainda mais com “Pelados em Santos”, a música da Brasília Amarela.

“Tinha muita gente que ficava ao redor da Prainha com o porta-malas aberto e tocando música, fazendo um esquenta. De 10 carros, oito tocava Mamonas. Aí eu pensei, tenho que dar um jeito de trazer eles”.

Cerca de um mês após a primeira ligação, Fabrício entrou em contato novamente e ouviu que o novo valor era de R$ 19 mil. E mais, com a agenda do evento já fechada, teve que “inventar” um último dia que não existia.

“O Skol Rock acabava dia 21 de outubro, um sábado. Aí não tinha como entrar, aí pensei na hora e enfiei um novo dia, domingo, dia 22. Mas aí eles já tinham show naquele dia. Eu insisti, e aí me falaram que o show era em Florianópolis, então convenci eles a virem e fazerem apresentação á tarde, e a gente buscava eles no Aeroporto Quero-Quero e levava lá de novo, tudo de helicóptero, e deu certo”.

Mamonas chegou de helicóptero na prainha. Foto: Caio Santos

O Skol Rock era um evento público. Organizado pela Assessoria de Assuntos para Juventude, no qual Fabrício era o responsável, com patrocínio da cervejaria Skol, que queria entrar em Blumenau naquela época, em que a Oktoberfest era patrocinada pela Brahma. Esse interesse da cervejaria fez com que a empresa bancasse tudo “até o prego dos taludes ao redor na Prainha”, aponta Fabrício.

O evento acontecia durante a Oktober, e por isso, os turistas acabavam aproveitando também os shows e faziam uma espécie de “esquenta”, para depois irem aos pavilhões. No primeiro ano, o evento foi totalmente gratuito.

Porém, isso fez com que não houvesse bilheteria, o que trazia um risco, com a possibilidade das pessoas entrarem com objetos impróprios e etc. Pensando nisso, em 1995, o Skol Rock começou a cobrar o valor simbólico de R$ 1, para então criar a bilheteria e a partir daí realizar as revistas.

Mas como para o show do Mamonas Assassinas o orçamento aumentou em R$ 19 mil, dessa vez, a Skol não quis pagar, ainda mais em cima da hora. Mas Fabrício não desistiu, e juntamente com uma empresa de promoção de eventos – AS Produções – bancaram tudo. Para não sair no prejuízo, cobraram R$ 3 o ingresso, ou R$ 5, para ganhar uma camiseta do evento.

Nico Wolff (organizador), Dinho, Fabrício Wolff (organizador) e Bento, nos bastidores. Foto: Arquivo pessoal

Com mais de 42 mil pessoas na Prainha, sem dúvidas muita gente ficou marcada pelo show, sendo já adultas, adolescentes ou ainda crianças. Uma delas é Rafael Moser. Com 12 anos na época, ele lembra de ter acompanhado no local mais próximo do palco possível o seu primeiro show nacional.

“Eu gostava muito deles, era fã, então quando teve o show, eu vim com meu pai. Fiquei bem na frente da grade, do palco. Foi sensacional”, conta Rafael, que vive da música atualmente.

Moser era uma das 42 mil pessoas que lotaram a Prainha em 1996. Foto: Jotaan Silva/O Município Blumenau

Aliás, o episódio foi uns dos influenciadores na carreira de Rafael. Em 1996, ele já tocava teclado, mas a primeiro projeto musical na carreira dele foi “Os Mamoninhas”, que era uma banda cover dos Mamonas Assassinas, montado para uma apresentação de fim de ano na escola.

Por uma coincidência enorme do destino, no mesmo dia dessa apresentação especial, a banda de sucesso nacional pousou pela segunda vez em Blumenau – em novembro de 1995 – pois faria vários shows pela região nos dias seguintes. Eles chegaram de avião no aeroporto Quero-Quero e na companhia de Fabrício Wolff, foram almoçar no restaurante Moinho, que fica ao lado da Prainha.

Fabrício conta que eles quando chegaram lá, perceberam que tinha uma excursão de adolescentes que estava no mesmo restaurante, e que deram trabalho para os integrantes da banda.

“A gente foi num horário que normalmente já não tem mais ninguém. Mas para nossa surpresa, tinha um ônibus de turismo lá e cheio de adolescentes, maior público da banda. Lembro que o Dinho perguntou quanto tempo ia demorar a comida, e quando ouviu que teria uma certa demora, foi atender todos os fãs, com fotos e autógrafos”.

O pai de Rafael é Artur Moser, ex-fotógrafo do Jornal de Santa Catarina. Por trabalhar na imprensa, soube da presença da banda em Blumenau e de uma entrevista que seria realizada com eles, e teve a ideia de levar o filho para conhecê-los.

Vestido e caracterizado como Bento, por conta da apresentação na escola que tinha acontecido minutos antes, Rafael foi até o restaurante e lá ele conheceu pessoalmente e conversou todos integrantes da banda, que até deram dicas para a futura carreira.

“Como eu tocava teclado, conversei com o Júlio, que foi sensacional. Ele me disse para me dedicar bastante, porque eu poderia ir longe, já que ele também foi. O Dinho deu entrevista comigo no colo também, tirei fotos com eles, foi incrível”, descreve Rafael.

O conselho do integrante a ele foi seguido a risca. Rafael continuou na música, aprendeu a tocar guitarra, que era sua vontade maior, e participou de diversas bandas. Além disso, escreveu e segue compondo canções e dá aulas de música.

Uma das bandas atuais que Rafael participa é a blumenauense Vox 3, famosa por paródias, principalmente durante a Oktoberfest. O próprio Rafael foi quem sugeriu que eles começassem a tocar também algumas músicas do Mamonas Assassinas durante os shows, já que o estilo de músicas e letras das duas bandas são semelhantes.

A relação entre Mamonas Assassinas e Blumenau foi breve devido ao acidente em março de 1996. Porém, os dois encontros foram tão marcantes, que, logo após a morte do quinteto, uma missa em homenagem a eles foi realizada no palco do show: a Prainha.

Nesse evento, além da fala de padres, de cânticos cristãos, também aconteceu um show dos “Mamoninhas”, que era a banda de Rafael. Eles não tocavam, apenas dublavam e faziam as coreografias, mas perfeitamente.

“Como no primeiro show um colega do meu pai filmou, eu tinha os VHS e por isso ficava decorando e aprendendo a fazer igual a eles no palco. Tudo que faziam, eu imitava, e cobrava que meus colegas também fizessem igual. Se eles faziam algo que não era semelhante, eu brigava até que eles corrigissem”, conta Rafael.

Essa apresentação foi a maior que eles tiveram, já que tinham cerca de duas mil pessoas na Prainha. Após aquilo, se apresentaram mais alguns meses, em eventos na região, mas logo depois se separaram.


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