“Mando matar todo cão encontrado no meu pasto”; veja fatos curiosos publicados em jornal de Blumenau em 1917
Gazeta que circulou por quase dois anos registrou o dia a dia da época em Blumenau
Por Iáscara Zultanski- 25/05/2022
- 9:25
“Fica expressa e policialmente prohibido a publicação de boatos alarmantes, que se referem a guarra actual, sob pena de prisão. Eu, Carlos Gruner, escrivão o escrevi. Por: O Delegado de Polícia, Jacob Schmitt”.
Esse é um dos avisos presentes no jornal Gazeta Blumenauense, de 1917, que segundo seu slogan, era um “órgão em prol dos interesses econômicos do Município de Blumenau”.
Tendo surgido durante o fim da Primeira Guerra Mundial, a Gazeta Blumenauense veio como uma substituição de outros jornais que circulavam na época em Blumenau, que precisaram encerrar suas atividades devido à guerra.
Surgimento da Gazeta
Com a declaração de guerra entre o Brasil e a Alemanha, em 26 de outubro de 1917 – durante a Primeira Guerra Mundial – uma das medidas de emergência tomadas pelo governo federal da época foi proibir a publicação de jornais, livros e periódicos na língua alemã em todo o país.
Os dois jornais que circulavam na época em Blumenau não tiveram outra opção a seguir se não encerrar suas atividades ou passar a redigir seus jornais em português. Foi dessa forma que o jornal Blumenauer Zeitung, periódico que era editado no município, precisou encerrar suas atividades.
Como forma de substituição, no dia 1º de novembro, surge a “Gazeta Blumenauense”, no mesmo formato. O slogan do novo jornal trazia o objetivo do novo produto: ser um jornal focado nos interesses econômicos do Município de Blumenau. Em todas as suas publicações não haviam indicações de responsáveis e nem de redatores das notícias.
Na primeira edição da Gazeta, o veículo justificou o aparecimento do novo jornal, publicando um comunicado oficial na editoria Notícias Locais. “Aos nossos leitores. Estando declarado o estado de guerra entre Brasil e Alemanha, o governo brasileiro decretou, imediatamente, a suspensão dos jornais publicados em idioma alemão em todo o território nacional. Acatamos prontamente desta determinação do nosso governo, não deixando sair a edição de terça-feira, que já se achava pronta”.
A Gazeta Blumenauense
A primeira edição da Gazeta Blumenauense surgiu com apenas duas páginas, passando, nas edições seguintes, a circular com quatro páginas. Em suas páginas era possível encontrar notícias de acontecimentos que chamassem a atenção do mundo inteiro, principalmente atualizações sobre o conflito mundial que estava acontecendo na época.
Haviam também alguns artigos de análise dos acontecimentos na Europa e no país, que eram, geralmente, extraídos de outros jornais brasileiros, principalmente do Rio do Janeiro. Contudo, também era possível encontrar anúncios de leilões de cavalo, de quem se casaria nos próximos meses, venda de produtos como velas, sorteios de clubes, venda de terreno de casas e até mesmo ameaças de tiro caso houvesse invasão de privacidade.
“Como já ha annos me desappareceram vitellos e potros recem-nascidos e da idade de um a dous annos, e tendo se verificado que os mesmos foram comidos por cães, mando portanto matar todo cão encontrado no meu pasto cercado da “Villa Reuter”. Como tambem me foram causados graves damnos devido incendios, prohibo a qualquer pessoa a entrada nos mesmos pastos e terrenos, sem a minha especial licença, prohibido tambem caçar nos mattos das minhas propriedades do Rio Mosquito e Donna Luiza. Os contraventores serão processados. Indayal, outubro de 1917”, diz um dos avisos publicados na Gazeta.
Na gazeta ainda é possível encontrar os avisos referentes a situação de Blumenau durante a guerra e sobre o fechamento das escolas particulares alemãs da cidade. “Satisfeitíssimos contamos não terem sofrido alteração alguma nem por um momento a tranquilidade e a ordem em Blumenau, apesar da mudança na política exterior; a população, com toda calma, acatou de bom grado as determinações novas dadas pelo governo em virtude do estado de guerra”.
Com o fim da Primeira Guerra Mundia, a Gazeta, que custava 6$000 réis na época em Blumenau, Itajaí e Brusque, foi publicada semanalmente e interruptamente até 20 de agosto de 1919, quando a última edição, de número 33, foi publicada. Foi assim que o “Blumenauer Zeitung” voltou a circular, sendo publicado às segundas e quintas-feiras, redigido totalmente em alemão, com alguns anúncios e os atos oficiais que continuaram em português.
Colaborou Eduardo Luciani.
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