“Manifestações de professores e estudantes serão teste democrático para o governo”
Colunista critica cortes orçamentários na educação e discute protestos marcados para esta quarta
Jair Bolsonaro (PSL), ao longo de sua carreira política, construiu em torno de si a imagem de apoiador da ditadura de 64, das torturas e de crítico das universidades. Quando deputado, incentivava os alunos a filmarem seus professores. Após eleito, em um vídeo na sua página no Facebook, afirmou que parte considerável das universidades é dinheiro jogado fora.
Segundo ele, as instituições são ninhos de comunistas e do marxismo cultural. Uma miragem ideológica que em nada tem a ver com a realidade acadêmica brasileira. Porém, rendeu ao presidente plateia e legitimidade política.
No seu governo, a gestão da educação é um desastre. Nos três primeiros meses, o Ministério da Educação (MEC), ainda sob a gestão do ministro Ricardo Vélez Rodriguez, girou em torno da guerra ideológica entre olavistas e militares.
Uma série de trapalhadas fez o ministro cair, e no seu lugar, ascendeu ao cargo Abraham Weintraub, até então um desconhecido na área, que tem como foco de sua formação a previdência privada. O resultado é a tragédia já anunciada.
Em pouco mais de um mês na gestão, Weintraub conseguiu a proeza de unir contra ele e o governo Bolsonaro, políticos da esquerda e da direita, como também setores da produção, reitores das universidades, intelectuais e entidades científicas. E o que é mais revelador, o movimento estudantil.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e a União Nacional do Estudantes (UNE) estão chamando para esta quarta-feira, 15, um dia paralisação nacional. As manifestações serão contra a reforma da previdência e os cortes de verbas na educação infantil e superior promovidos pelo MEC.
O anúncio de corte na ordem de 30% das despesas não obrigatórias das universidades federais não só paralisa as atividades de ensino como também inviabiliza pesquisas científicas. O “contingenciamento”, palavra utilizada pelo ministro para suavizar o corte, leva ao cancelamento de centenas de bolsas para mestrado e doutorado.
Quem conhece o ambiente acadêmico sabe que, no Brasil e no mundo, as inovações tecnológicas são promovidas por estudantes pesquisadores de pós-graduação. O corte promovido pelo governo não só paralisa, como também inviabiliza a ciência e a tecnologia brasileiras. Em Blumenau, o impacto dos cortes atingem as duas instituições federais que possuem campus na cidade: a UFSC e o IFC.
Na quarta, Bolsonaro vai encontrar nas ruas o adversário que escolheu ao longo de sua carreira como político: os estudantes, os professores e as universidades. As manifestações servem não apenas para demostrar o desacordo da sociedade com as medidas do governo Bolsonaro. Será também um teste democrático para o governo.
Bolsonaro, que fez carreira elogiando a ditadura, enfrentará os jovens e professores que protestarão pelo direito à educação e pela liberdade de expressão.
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