A Ventana, marca brasileira de upcycling, apresenta a coleção “SUTURE” durante a Semana de Moda de New York, no sábado, 9, no Canoe Studios.
A Ventana desfilará junto à multimarcas Flying Solo, conhecida por abrir espaço para novos designers e marcas ainda não estabelecidas.
A coleção “SUTURE” fala sobre como é possível criar a partir das sobras e representa uma mistura de tudo que a Ventana já apresentou até o momento.
As peças são únicas e foram feitas a partir de sobras de materiais cedidos por marcas como Dod Alfaiataria, Aluf, Class, Torus, BCrew, Aguiar, Erente, Katsukazan e Teray ou garimpados em bazares e brechós.
“Eu acho incrível a grandeza que a gente tem de pensar em como podemos mudar o modo no qual fazemos moda e isso tudo é um processo. Anos atrás não servia nem o questionamento das condições em que as peças são produzidas e agora a gente vê um ativismo de parte da população que não aceita mais vestir uma peça a qualquer custo”, declara Gabrielle Pilotto, fundadora e diretora criativa da Ventana.
“Mas lógico que é uma longa caminhada pra gente conseguir ir melhorando as coisas, fico pensando como seria a moda se o mais importante fosse o impacto da produção e as condições em que tudo é feito, ao invés de se as pessoas estão usando a cor tendência da estação. Me incomoda tentarem nos colocar em caixas a todo momento, ditando o que é elegante e o que é ultrapassado”, finaliza a fundadora.
SUTURE
A “SUTURE” é formada por nove peças e começou a ser desenvolvida em junho deste ano. Gabrielle explica que na contramão do processo criativo de uma coleção convencional, criar a partir das sobras pode ser um pouco mais complexo.
“O processo de trabalhar com as sobras é cada dia uma surpresa, você pode ter em mente uma peça incrível, mas se não tiver o material adequado nas mãos ela não vai nascer, por aqui isso já deixou de ser uma frustração e faz parte do processo: deixar nascer o que for pra nascer com o que se tem”.
O processo de criação é longo e minucioso, existem peças que foram costuradas a mão, outra que levou mais de 60 horas para ser finalizada, como explica Gabrielle.
“Comecei a modelar uma das peças no ateliê, foram oito dias para chegar na modelagem desejada, em seguida veio as férias da escola do meu filho e fomos viajar, levei a blusa comigo para costurar toda a mão, mas obviamente não consegui finalizar. Passei a peça para Michele que trabalha com a gente e ela levou alguns dias para terminar. E entre criança curiosa querendo costurar e vai e vem de peça, foram mais de 20 dias no processo. Sempre que alguém questiona o valor de alguma peça, conseguimos explicar sem nos sentirmos ofendidas: não é só uma peça feita com material descartado, é uma história recontada que passou pela mão de várias pessoas.”
Junto a isso, a Ventana convidou as marcas Katsukasan, Aguiar e Erente para criar acessórios em colaboração. A bolsa Cidade Mágica, em parceria com a Katsukazan, utiliza a técnica de patchwork e retalhos da produção da marca nas cores preto e off-white. A bolsa é inspirada em uma brincadeira em que Tom, filho de Gabrielle, faz com seus amigos.
“Dentro da cidade mágica das crianças cabe um mundo inteiro de possibilidades, assim como dentro da bolsa, que é bem grande e tem como ideia principal ser uma bolsa para mães e pais carregarem tudo que precisam levar dos seus filhos ao longo do dia”, explica Gabrielle.
Os calçados utilizados no desfile foram criados em parceria com a Aguiar, também utilizando a técnica de patchwork com sobras de corte de outros calçados da marca. Com a Erente, focada em jóias, surgiu a bolsa Delírio totalmente feita por colares, correntes e acessórios de metal de segunda mão encontrados em lojas da região e parte do acervo das marcas.
As peças feitas de crochê nasceram a partir da junção de squares feitos a partir das sobras de linha da artesã Gladys Pilotto, tia de Gabrielle. As embalagens de todas as peças ganharam uma assinatura única que marca o início do voo internacional da Ventana, com arte em stencil desenvolvida pelo artista Matheus Lanzetta que trabalha a técnica há mais de dezoito anos.
Sobre a Ventana
Nosso trabalho é totalmente focado no reaproveitamento de peças de segunda mão, retalhos e materiais que seriam descartados. Nosso objetivo é através do nosso processo criativo desacostumar o olhar ao óbvio e transformar peças e tecidos do nosso cotidiano em arte. A fundadora da marca Gabrielle Pilotto é gaúcha e mãe do Tom.
Desde muito nova tem contato com costura e moda. Com avó costureira e mãe que transformava cortinas em vestidos para festa, Gabrielle viu na criação da Ventana a chance de colocar no mundo a moda que acreditava.
A marca começou como brechó em 2012, mas foi em 2020 que se transformou na marca brasileira de upcycling que conhecemos hoje.