Na semana passada, entre olhares apáticos de uns e revoltados de outros, uma máquina começou a rasgar passagem pela margem esquerda do rio Itajaí Açu no Centro de Blumenau pondo abaixo a vegetação natural que havia pelo caminho. Culminância de um longo processo que gerou tanta discussão quanto imposição por parte dos idealizadores do projeto de “urbanização” daquele trecho central do rio na cidade.

Os defensores originais daquela obra começaram pensando errado a partir da própria concepção da mesma, há mais de 10 anos. Queriam que a margem esquerda fosse uma espécie de espelho da margem direita, numa visão urbanística retrógrada e anacrônica de substituição do natural pelo concreto armado. “Na Europa é tudo assim” diziam, sem perceber que a Europa citada como exemplo já caminhava há algum tempo na direção oposta a esse tipo de concepção de desenvolvimento urbano.

A estupidez foi tal que houve quem defendesse uma única espécie de árvore, exótica ainda por cima, que serviria para ornamentar e sombrear a passarela para pedestres e ciclistas prevista para a margem esquerda.

No continente de origem de nossos bisavós já não se considera mais os rios apenas do mero ponto de vista hidrológico, onde o que importava era a visão reducionista de cálculos de fluxo e vazão, onde os rios eram considerados simples calhas de passagem.

Após errar muito, voltam agora a considerar os rios como elementos importantes da paisagem, com suas formas e a variada vida que abrigam dentro e fora de suas águas. Um interessante processo de RENATURALIZAÇÃO de seus cursos d’água passou a ser praticado, mesmo em centros urbanos, em muitos casos.

A tendência de renaturalização dos cursos d’água urbanos se espalha pelo mundo e a eliminação do concreto que fechava as margens e cobria o rio Cheonggyecheong com pistas de tráfego em Seul, capital da Coreia do Sul (vide artigo aqui publicado em 03/07/2023), talvez seja o exemplo mais eloquente desse retorno do natural ao meio urbano.

A muito custo, depois do berreiro dos ambientalistas e demais pessoas sensíveis em cujos corações corre sangue e não argamassa, a prefeitura da capital do “Vale Europeu”, resolveu ceder e, de esmola, aceitou deixar algum verde natural na parte inferior, para não ficar tudo num talude de concreto tal como na margem direita, concepção dos anos 1950, quando ainda não se falava em renaturalização dos cursos d’água urbanos.

Os planejadores e projetistas das obras da margem esquerda – e agora referimo-nos especificamente à Praça Juscelino Kubitschek, na Prainha, parecem desconhecer que em Blumenau ocorrem enchentes. Se não for assim, como explicar que uma pequena enchente, que atingiu apenas 9,4 metros, em maio do ano passado, tenha derrubado postes de iluminação ali recém-instalados e curvado outros, além de causar inclinação e rachaduras nos muros ali construídos de acordo com o projeto da obra? O que teria acontecido no caso de uma enchente de porte médio, de uns 11 m e mesmo grande porte, de 14 ou mais metros?

Se existem planejadores que não sabem que em Blumenau ocorrem enchentes, como esperar que saibam que existe uma Ciência chamada Ecologia e a adoção de seus princípios através do ecologismo e do ambientalismo, além de suas aplicações práticas, como, por exemplo, Ecologia de Paisagem e desenvolvimento com minimizações de impactos ambientais?

Está na hora de Blumenau voltar plenamente ao seu protagonismo ambiental que já foi exemplo para todo o país.

 

Foto: Lauro Bacca

Um dos postes recém instalados e derrubados pela pequena enchente de maio de 2022 na curva da ex-prainha da Ponta Aguda em Blumenau.

Foto Lauro E. Bacca, em 21/05/2022.


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