Mário Hildebrandt: “Não estou empurrando o Napoleão para fora da prefeitura”
Em entrevista a O Município Blumenau, vice-prefeito fala sobre possibilidade de assumir a administração a partir de abril
Mário Hildebrandt não quer ser chamado de prefeito. Não importa se ato falho ou brincadeira, quando alguém o invoca citando o cargo ele interrompe a conversa:
“Prefeito, não. Eu sou o vice”.
Desde que virou colega de chapa de Napoleão Bernardes (PSDB) nas últimas eleições municipais, Hildebrandt (PSB) tem precisado fazer o esclarecimento com frequência crescente. O colega tucano nunca escondeu o desejo de disputar as eleições de 2018, deixando dois anos e meio de mandato em aberto. Em paralelo, o vice ocupou espaços na administração e passou a responder pelas maiores obras em planejamento ou execução, como as pontes do Centro e o prolongamento da rua Humberto de Campos. Recentemente, participou de uma reunião para discutir o Mercado Público.
Agora, a um mês do prazo (7 de abril) para que Napoleão decida se deixa a prefeitura para concorrer em outubro ou permanece na cadeira até 2020, a reportagem do Município Blumenau conversou com Hildebrandt sobre expectativa, futuro político e como seria uma administração chefiada por ele. Acompanhe:
O Município Blumenau: Por que não quer ser chamado de prefeito?
Mário Hildebrandt: Porque o prefeito é o Napoleão. Isso é absolutamente pacifico. Eu e o Napoleão nos damos muito bem, nossa relação e sintonia são finas, todas as questões que eu discuto aqui eu converso com ele antes e aquilo que eu acho necessário eu levo para ele. Então, se eu for prefeito, vai ser de acordo com a decisão tomada por ele no momento que tiver que tomá-la. Até lá, eu sou o vice-prefeito e estou muito bem, muito feliz e resolvido com isso.
Não estou empurrando o Napoleão para fora da prefeitura, vou até sentir falta se ele sair. Por conta do modelo da nossa relação. Quando fui para a chapa, já coloquei uma condição de que não seria um vice-prefeito de prateleira, eu vim aqui para trabalhar, falei que não queria secretaria ou presidência da Pró-Família. Estou absolutamente tranquilo, e não gosto que me chamem de prefeito, porque o prefeito é o Napoleão. Ele participa de todo o processo, de todos os projetos, e de todas as discussões. Às vezes, ele até é acusado injustamente por não estar participando do governo. Muito pelo contrário: ontem (segunda-feira) tivemos reunião, hoje (terça) tivemos agenda juntos e reunião. Às vezes nós usamos o carro para discutir assuntos.
O senhor tinha expectativa de ser prefeito, imaginou isso lá no início (2005), quando assumiu a Secretaria de Assistência Social?
Não (pausa). Eu sou um sonhador, mas às vezes eu sonho mais para os outros do que para mim mesmo. Talvez quando eu fui presidente da Câmara, ali que começou a surgir a possibilidade de eu me candidatar a prefeito ou participar de uma chapa majoritária. Então, eu nunca fui de atropelar, de passar, eu acho que eu sou fruto daquilo que Deus me presenteia. Estou nas mãos de Deus nesse processo. Entro com a minha parte, que é trabalho, trabalho, e trabalho, e muita fé naquele que é o meu criador, e meu salvador.
Como você enxerga a carreira política do Napoleão neste momento. Essa condição de ascensão, você torce por isso?
Se ele for, eu acho que tem que ser um cenário positivo pra cidade e uma condição de conquista pra Blumenau e para região. Ele representa renovação, competência, o perfil que eu acho que a cidade precisa para um cargo majoritário, seja como senador, como ele tem gostado de afirmar, seja para governador ou eventual vice. Eu acho que ele tem o perfil para estar nesses espaços, e a cidade e a região merecem isso. Mas, é como eu falo: eu vou ficar triste porque vou perder um parceiro. Até estávamos brincando no carro sobre essa questão, pois hoje nós temos essa condição do desabafo. Eu vou lá e desabafo com ele, e vice-versa, porque às vezes, no dia a dia da gestão, nós temos grandes alegrias, mas também grandes frustrações que a gente nem pode falar lá pra fora. A gente tem essa cumplicidade nos desabafos.
Na última eleição vocês chegaram a discutir essa possibilidade de candidatura (em 2018)?
Não, nós não chegamos a ventilar essa discussão, esse debate. As perguntas vieram, e nós falávamos das perguntas que vinham. Fomos muito transparentes um com o outro, e nosso objetivo é cuidar da cidade, e pronto.
A que se deve o papel destacado que você teve nesse um ano e pouco de mandato?
Mário: A minha formação. O pessoal me via como o Mário secretário de Assistência social, que trabalhou no Cerene, que ajudou o pessoal na tragédia de 2008, então me viam sempre na questão de estar com as pessoas que mais precisam, que é o que me motiva, na vida política. A minha atuação enquanto vereador também se deu dentro desta mesma linha. Então, a presidência da Câmara, me deu essa condição de demonstrar para fora o meu perfil de gestor. Poucos sabem que a minha primeira formação é Contábeis, sou técnico em Contabilidade, sou administrador, tenho pós em Contabilidade, e a minha outra formação é Serviço Social. Eu sou a consequência de todo esse processo de amadurecimento.
O senhor pretende implementar algo diferente do governo do Napoleão?
Não pensei nisso porque ainda não se tem a decisão do Napoleão, então eu não parei para pensar. A minha linha de ação vai começar a se desenhar a partir do dia em que, se eu eventualmente pensar em assumir, mas grande parte será a continuidade das ações e obras.
O senhor tem uma atuação junto ao segmento religioso, vem do trabalho com as comunidades terapêuticas. Nesta semana começa o Festival da Cerveja, a cidade é a Capital Nacional da Cerveja. Pessoalmente, o senhor teria alguma dificuldade em liderar a cidade, que hoje é referência no país quando o assunto é cerveja?
Eu consigo separar as questões. Uma é minha visão: eu sou abstêmio desde 1994, não bebo nenhum tipo de álcool, desde que fui voluntário, antes de ser funcionário do Cerene. Então, abstinência está na minha casa, na minha família, onde pregamos isso como uma perspectiva. Podemos evoluir e trabalhar a cidade como Capital Nacional da Prevenção. Também sei da importância da Capital Nacional da Cerveja hoje como questão de renda, pra questão da indústria e inclusive eu participei do lançamento da Oktoberfest. Tenho discutido isso muito com o Ricardo (Stodieck, secretário de Turismo). A Oktober tem um papel fundamental de geração de emprego e renda, a questão hoje do Festival Nacional da Cerveja também. Ao mesmo tempo, a gente pode complementar isso em questão da nossa responsabilidade social. Eu não sou contra o bebedor, aquele que bebe socialmente. Eu entendo que as pessoas precisam saber que o consumo de bebida em excesso, ou de modo inadequado, pode ter consequências. Sento à mesa com qualquer um, ele pode tomar sua cerveja, eu tomo minha água com gás com absoluta tranquilidade, sem problema nenhum. Se alguém me pergunta por que, eu digo: ‘por convicção e amor àqueles que precisaram de mim e ainda precisam’. Hoje eu tenho pessoas que frequentam a minha casa, que são ex-internos do Cerene. Meus amigos. Eu tenho isso como uma questão de missão. Com as conversas que eu tive com o Ricardo, ele amadureceu muito nesse processo. Por exemplo, o chope na rua distribuído é sem álcool, o chope em metro é sem álcool.
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, viajou durante o Carnaval e foi criticado. O senhor participaria normalmente da Oktober ou por essa convicção pessoal preferiria não participar?
Eu já fui, participei enquanto era secretário, o João Paulo (Kleinübing) estava lá. Então, acho que posso dosar aquilo que entendo de responsabilidade. Este ano fomos lá, inclusive, com o Ricardo. Participei um pouco e olhei a questão do Concurso Brasileiro de Cervejas. Claro, a pessoa tem que ter a responsabilidade de saber quando bebe, tem que ter o cuidado no dirigir e a bebida traz as suas consequências. Essa é a minha preocupação.
Como vão ser esses próximos 30 dias? Não tem um friozinho na barriga?
Evandro, assim: Deus tem o melhor pra mim, e dito isso ele vai me usar para fazer o melhor para a cidade. Se ele quiser ele vai abrir as portas para o Napoleão. Se ele não quiser, ele vai fechar as portas para o Napoleão e, em consequência, para mim também. Se Deus me colocar lá, eu vou trabalhar efetivamente para fazer o melhor para cidade.