Número de denúncias por maus-tratos aos animais cresceu seis vezes em Blumenau nos últimos anos
Delegado Egidio Ferrari explica dimensão dos casos
Nos últimos quatro anos, o número de denúncias de maus-tratos em Blumenau cresceu mais de 550%. Em 2022, os policiais foram acionados 6,5 vezes mais do que em 2018. De lá pra cá, o número só subiu, chegando a 176 registros no ano passado.
Não são poucos os casos divulgados pela mídia na região. Dentre eles, estão animais em situações precárias, desnutridos, amarrados e sem água. Até 2018, o número até poderia parecer “baixo”, com menos de 30 denúncias. Porém, o aumento tem sido espantoso.
Entretanto, para o delegado Egídio Ferrari, responsável pelo movimento Cadeia para Maus-Tratos em Santa Catarina, o aumento de registros não se deve necessariamente a mais crimes. Para ele, a divulgação é o que motiva as denúncias.
“Percebemos que toda vez que divulgamos um caso, aparecem mais denúncias. A pessoa vê ali, entende que aquilo é crime, percebe que o vizinho está fazendo a mesma coisa e faz a denúncia”, explica.
Os vizinhos, inclusive, tendem a ser os principais denunciantes. O motivo é que eles acompanham os casos a longo prazo. Além deles, familiares e amigos também estão entre os que registram denúncia.
“A grande maioria dos crimes acontece dentro de uma residência. Dificilmente alguém vai até à rua fazer mal para um cão, porque sabe que pode ser flagrado. Dentro de casa ele acha que pode fazer o que quiser. Amarra o cão, prende gato na gaiola, não alimenta os animais direito. São os vizinhos que percebem o estado crítico que eles estão”, justifica.
Bairros mais afetados
O bairro com maior número de denúncias é o Itoupava Central, que acumula 56 registros desde 2018. Em seguida vem o Progresso, com 43, Garcia (39), Velha Central (34), Escola Agrícola (33) e Água Verde (31).
Apesar de que é necessário levar em consideração a população de cada bairro, o delegado Egidio Ferrari destaca que é perceptível que a maioria das denúncias são registradas em regiões com menos condições financeiras.
“Não é incomum chegarmos no local e percebermos que a família passa dificuldade. Às vezes o cão está magro, mas as crianças também estão. Às vezes são idosos acumuladores que resgatam animais das ruas, mas vivem em situações insalubres. Por isso a importância de políticas públicas multidisciplinares”, destaca.
Falta conscientização
Nas ocorrências que atende, o delegado busca orientar os tutores. Muitos não compreendem que certas atitudes são consideradas maus-tratos. Até por isso, têm dificuldade em assumir o crime.
“A grande maioria dos casos é de omissão. Não fornecer o básico, deixar acorrentado por anos, fazer com que o animal sofra a vida inteira. Como qualquer outro autor de crime, eles negam. Dizem que não foi bem assim. Dificilmente assume o que fez”, comenta.
Entretanto, com a orientação e, especialmente, com a exposição nas redes sociais, o delegado aponta que a reincidência é baixa. Um exemplo foi o caso do motorista que arrastou um cachorro amarrado um carro em Indaial.
“Ele já tinha sido condenado por maus-tratos contra um cavalo em 2017. Ainda nem tinha pagado a cesta básica que devia. Como agora passou uns meses preso e foi exposto, a reação é outra”, conta.
Para Egidio, é necessário levar o tema às escolas. Onde as crianças podem absorver o conhecimento e levar para dentro de casa. Assim, quem não tem consciência do que são maus-tratos, pode tomar iniciativas antes que seja tarde.
Cadeia para Maus-Tratos
O movimento Cadeia para Maus-Tratos, pelo qual Egidio Ferrari é responsável em SC, teve início com outro delegado. Entretanto, nem todos os representantes estaduais são da polícia. A proposta é divulgar casos nas redes sociais e organizar palestras para conscientizar as pessoas.
“Cobramos para que os casos sejam apurados e fiscalizados. Como estou dentro da polícia e conheço muitas pessoas do meio, tenho mais facilidade. Até porque todos os dias, várias vezes, recebo ligações de casos de maus-tratos no estado”, alerta.
Diferente da Polícia Civil, que irá receber a denúncia, instaurar um inquérito, ouvir testemunhas, juntas imagens e investigar o crime, como faria com qualquer outro. Apenas o delegado pode representar por uma prisão preventiva ou busca e apreensão.
“Como delegado atuo na minha comarca, em Brusque. Porém, como recebo ligações de todo o estado, oriento as pessoas a registrarem um boletim de ocorrência e peço o protocolo. Assim consigo cobrar a diretoria de bem estar animal, por já ter esse relacionamento com as pessoas”, explica.
Como denunciar maus-tratos animais
Há cerca de um mês, a Ouvidoria da Prefeitura de Blumenau passou a contar com um canal exclusivo para o atendimento de denúncias de maus-tratos a animais domésticos e atendimento médico veterinário a animais errantes.
As denúncias podem ser feitas pelo telefone 156, escolhendo inicialmente a Opção 1 e depois a Opção 2. O atendimento está disponível de segunda a segunda, das 8h às 18h.
Já a Polícia Civil da cidade inaugurou uma delegacia especializada na invesigação de crimes do gênero também no mês passado, a Delegacia de Delitos de Trânsito e Crimes Ambientais (DTCA).
Boletins de ocorrência podem ser realizados presencialmente na DTCA, ou em qualquer outra delegacia, além da delegacia virtual da Polícia Civil de Santa Catarina e do disque denúncia 181.
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