Morador de Blumenau, sósia de Ronaldo na infância relembra viagens e campanhas ao lado do Fenômeno
Atualmente com 32 anos, Bruno atuou em comerciais, viajou à Europa e teve oportunidades no futebol como poucos
Imagine se tornar uma celebridade aos nove anos. Ser estrela de comerciais, participar de programas de TV, ser capa de revistas e jornais, viajar à Europa e conhecer os seus ídolos. Tudo isso foi vivido pelo hoje morador do bairro Itoupava Norte, em Blumenau, Bruno Aparecido Lima Alves, atualmente com 32 anos.
Ele é natural de Registro, em São Paulo, cidade que fica a mais de 200 quilômetros de distância da capital paulista. Foi lá que começou a brincar de futebol – e muito bem, segundo ele. Lá também foi quando os colegas e amigos começaram a chamá-lo de Ronaldinho, que era como Ronaldo era conhecido na época.
“Eu nem sabia quem era o Ronaldo. Pra falar a verdade eu raspei o cabelo por causa do Fernando Scherer, o Xuxa. Depois que meus amigos começaram a falar que eu era igual ele, eu fui pesquisar e descobri quem era”, conta Bruno.
E essa semelhança tão grande com o atleta, naquele momento em negociação do Barcelona para o Internacional de Milão (1997), fez com que o pai, João Aparecido Alves, o inscreve-se em um concurso de sósias mirins do Ronaldo, para um comercial da Parmalat. Foi aí que tudo começou.
“Meu pai ligou e uma mulher chamada Andreia atendeu. Ela até disse que nem adiantava ele viajar 200 km pra eu participar, porque eles já tinham achado o sósia. Mas meu pai foi teimoso e me levou. Quando cheguei, eles se assustaram, pararam tudo e me fizeram fazer teste com câmera, aí ganhei o comercial”, relembra.
Com a Parmalat foram dois comerciais, que foram ao ar no Brasil e na Itália. Durante a carreira de sósia mirim de Ronaldo ele ainda participou de um outra propaganda televisiva com uma nova marca, a Reiplas.
O sucesso de um desses comerciais, aliás, foi o que levou Bruno à Itália para participar de um prêmio de melhores propagandas de TV da época. Lá, foi onde conheceu pela primeira vez Ronaldo, que segundo ele, foi muito simpático.
“Eu estava lá, de repente ele chegou por trás, colocou a mão na minha cabeça e falou to sabendo que tá batendo um bolão, né, garoto? Aí fiquei lá com ele, e tudo deslanchou”.
Bruno conta que ver Ronaldo, participar de eventos juntos e sair com ele se tornou algo muito comum na época. Tanto, que nunca teve uma camisa autografada pelo ex-jogador, pois para ele, era alguém muito próximo, nem fazia sentido fazer este pedido.
“Eu tenho várias camisas autografadas de vários jogadores. Tenho do Pelé, enfim, várias. Mas dele não. Na época, eu criança, ele sempre comigo, nem pensava em pedir”, relatou.
A fama
As aparições na telinha não foram apenas por comerciais. Bruno participou de incontáveis programas de TV da época, em sua maioria de auditório, como “H” de Luciano Huck, na Band, e também programas do Sérgio Mallandro, onde foi jurado mirim por diversas vezes ao lado do filho do Tiririca e atualmente humorista, Tirulipa.
Bruno também era convidado para inúmeros eventos, sejam desfiles, inaugurações, premiações, entre outros. A criança se tornou uma celebridade, por onde passava tirava fotos e era reconhecido, até por outros artistas.
Ser capa de revistas e jornais se tornou algo corriqueiro. Seja para reportagens sobre a sua semelhança com Ronaldo, sobre o sonho de se tornar jogador de futebol – assim como o “seu eu mais velho”, ou qualquer outra situação, sempre tinha alguém com uma câmera atrás do menino. Enfim, Bruno conta que foi uma celebridade infantil por cerca de cinco anos, mais ou menos.
Carreira no futebol
Não era apenas nos comerciais que Bruno sabia o que fazer com a bola nos pés. No campo o garoto também criava jogadas de impressionar e garantia seus gols. Somando isso à semelhança física com Ronaldo, muitas portas se abriram em grandes clubes do Brasil, ainda na base. Isso deu a ele a oportunidade de ficar onde gostasse mais. Mas ele não sossegou.
“Eu não tinha que fazer teste. Eu chegava, eles viam quem era e eu entrava. E eu era bom. Eu era novinho, mas jogava sempre com os de dois anos a mais. E se os grandões faziam quatro gols nos treinos, eu fazia oito”, conta orgulhoso.
O problema é que, como ainda muito criança, Bruno não soube administrar essa facilidade em conquistar as oportunidades que quase ninguém tinha no futebol. A fama somada à habilidade com a bola o fizeram, mesmo adolescente, ter uma espécie de soberba futebolística.
“Mas era tudo de mão beijada, sabe? Eu sabia que eu podia ir embora porque estava cansado, porque amanhã iriam me aceitar de volta, ali, ou em outro clube. Eu fiz isso muitas vezes, até eu ver que passou meu tempo e não conseguir mais”.
Foi assim que ele não seguiu a carreira no futebol e nem chegou a jogar como profissional. Aliás, até jogou, uma partida, e foi aqui em Blumenau, pelo Metropolitano, em um amistoso contra o Coritiba.
“Nem lembro que idade eu tinha, mas eu fui lá porque conhecia algumas pessoas. Eu estava totalmente fora de forma, aí entrei no segundo tempo, e ainda assim fiz o gol do empate daquele jogo. Mas depois acabei não querendo ficar. Não queria ser jogador cigano, que fica indo pra lá e pra cá, com risco de lesão e perder o pouco que eu podia ganhar”, relata.
Último encontro com Ronaldo
Apesar da proximidade muito grande com Ronaldo na infância, quando cresceu, Bruno se afastou – como era imaginável – já que a semelhança física com o jogador não era mais a mesma.
Entretanto, numa última tentativa de ser um atleta profissional de futebol, Bruno foi para São Paulo, em 2010, encontrar Ronaldo – que estava no Corinthians. Eles se falaram, tiraram fotos juntos e combinaram um segundo encontro, para aí falar da carreira futebolística.
“Ele me pediu pra ir no outro dia lá, depois do jogo, que ele ia me colocar pra falar com o Vampeta, que era técnico de um time paulista na época. Eu voltei, mas ele não me atendeu, teve que sair corrido do estádio, porque o Corinthians perdeu um jogo naquele dia”.
Aquele dia foi 5 de outubro de 2010, quando o Corinthians foi eliminado da Libertadores da América pelo Flamengo, mesmo ganhando por 2 a 1. Desde então, Bruno e Ronaldo nunca mais se viram.
Vida em Blumenau
Como já havia crescido e a semelhança com Ronaldo praticamente desaparecido, na juventude Bruno teve que se tornar “alguém normal”. Foi aí que ele, de uma hora pra outra, sem planejamento, resolveu vir para Blumenau.
“Uns amigos meus me perguntaram se eu queria vir pra Santa Catarina, em Blumenau. Eu só conhecia pela Oktoberfest, mas aceitei. Vendi um aparelho de DVD que tinha, botei R$ 300 no bolso, peguei uma mochila e vim, aí comecei minha vida aqui”.
Bruno está na cidade há 12 anos, desde os 20. Aqui conheceu a esposa, com quem está junto há 10 anos.
Quando chegou, o primeiro emprego foi como funcionário de um supermercado. Em meio a isso tentou o futebol, mas ficou apenas em uma partida amistosa pelo Metropolitano, e depois trabalhou em cooperativas e foi proprietário de uma loja de toner.
Atualmente é empresário, dono de uma loja que fica no Centro Comercial da Fortaleza. Da vida de celebridade, ele relembra as vezes com as fotos, páginas de revista e jornais e as histórias que tem pra contar, que são muitas.