Moradora de Blumenau presencia violência doméstica e aciona PM, mas nenhum policial aparece
PM reconhece que houve falha na comunicação; caso será investigado
Momentos de angústia e sensação de impotência. Assim foram algumas horas da noite de um domingo, dia 10 de novembro, para a advogada Ana Carolina Alves. Ela presenciou cenas de violência doméstica a uma vizinha e acionou a Polícia Militar. Porém, ninguém apareceu.
Ana estava no apartamento dela com o namorado, na área central de Blumenau, quando ouviu os gritos da vítima e agressor. O homem, descontrolado, berrava em frente a casa que iria bater na esposa.
A advogada, por coincidência, havia conversado com a mulher há poucos dias. Ela relatou que o marido bebe e possui uma arma. Sabendo da gravidade da situação de violência, Ana ligou imediatamente para a PM. A atendente falou que uma viatura seria enviada.
Vinte minutos se passaram. Preocupado, o casal ligou novamente. Uma hora depois, a rua já estava silenciosa.
“O silêncio pode significar muitas coisas. Por isso liguei novamente, uma hora e meia depois da primeira chamada”, conta Ana.
Nessa nova tentativa, a atendente transferiu a ligação para outra policial. Após uma espera de 20 minutos, Ana foi questionada se o problema era com ela e o motivo do pedido de ajuda. A policial teria dito que a advogada deveria entrar em contato com a vítima e não com a instituição. Ela desligou o telefone antes que Ana pudesse reagir.
“Se com a gente, que viu acontecer a violência e tem instrução, esse tipo de grosseria absurda acontece, imagina com as outras pessoas”, lamenta Ana.
Ela chegou a ligar para o Conselho Tutelar, já que os vizinhos possuem uma criança, mas ninguém atendeu. O número de telefone foi encontrado na internet.
“Houve uma falha”
O major da PM, Ciro Adriano da Silva, confirmou que houve uma falha na geração da primeira ocorrência. Ela não foi adiante, ou seja, não chegou no policial que deveria enviar a viatura ao local.
“Vamos ter que verificar se foi erro do sistema ou do atendente. Na segunda ligação, o atendente, por equívoco, achou que a viatura já havia sido mandada”, explicou.
Sobre o tratamento dado pela policial, apenas após uma denúncia formal de Ana é que será possível investigar o caso. Ele conta que as chamadas deveriam ter sido gravadas, mas isso não tem ocorrido nas últimas semanas devido à saída da empresa que realiza o serviço.
O problema ainda não tem data para ser solucionado, mas o major garante que será “em breve”, assim que houver a contratação da nova responsável.
“É uma situação que merece ser apurada. Se nós tivéssemos acesso às gravações, nem precisaríamos da reclamação da solicitante, mas como estamos com esse problema técnico, precisamos ouvi-la para verificar se de fato houve uma transgressão dos militares”, afirmou Silva.
Ana formalizará a denúncia. Após o encerramento das investigações internas é que a PM terá uma resposta sobre a possibilidade de punição aos envolvidos.
A assessoria do Conselho Tutelar explicou que o número de plantão da instituição é o 47 9 9977 9866. Ana não conseguiu contato porque ligou no número que encontrara na internet era diferente do enviado à reportagem.