De Dona Emma, vale do rio Itajaí Norte, em fevereiro do ano passado, recebo um “uat-zap” do amigo, professor Nélcio Lindner, relatando como sua casa foi atingida por uma enchente/enxurrada. Nélcio, 74 anos, se criou naquela localidade onde seu pai e avô foram pioneiros e por isso pode testemunhar com certeza: “isso nunca aconteceu aqui antes!”.

Já em novembro último, outro “uat-zap”, com imagens de violenta enxurrada, chegou de Vidal Ramos, Alto Vale do rio Itajaí-mirim, enviado pela amiga e ex-aluna Cleusa Boeing. Assim como Nélcio em Dona Emma, Cleusa é moradora antiga de Vidal Ramos e grande conhecedora da região. Por isso, comentou com autoridade: “isso nunca aconteceu aqui antes!”

“Isso nunca aconteceu aqui antes” é expressão que se ouve da boca de muitos entrevistados na TV, moradores de diversas localidades atingidas por eventos climáticos extremos. Notícias de chuvas torrenciais da ordem de mais de 100 milímetros em pouco tempo, antes ocasionais, agora tornam-se frequentes.

Assim foi no vale do ribeirão Revólver, que deixou um triste rastro de 18 mortos em Presidente Getúlio em dezembro de 2020, em diversos outros lugares nos últimos 3 anos e recentemente (há poucos dias), em Jaraguá do Sul e em Joinville, só para lembrar alguns exemplos. Isso para não falar da tragédia do Morro Baú, com seu violento rastro de mais de 135 mortos e destruição jamais vista, em novembro de 2008.

Pelo Brasil e mundo afora pipocam muitas notícias semelhantes.

Tragédias de enchentes, inundações, enxurradas e deslizamentos de encostas historicamente sempre aconteceram. Foi assim em outubro de 1961, quando o bairro Garcia em Blumenau e o município de Brusque, no vale do Itajaí-mirim, quase foram varridos do mapa por uma violenta enxurrada.

Em 14 de outubro de 1990 a tromba d’água se abateu sobre o Garcia novamente, deixou destruição e 21 mortos, entre outros casos históricos. Qual a diferença, então?

A diferença, como todos já perceberam, está no AUMENTO DA FREQUÊNCIA e o surgimento desses eventos em lugares onde “isso nunca aconteceu antes”. Coisas das tais mudanças climáticas, potencializadas pela ação devastadora do ser humano sobre a natureza.

Nossas autoridades, que nunca se revelaram realmente capazes de enfrentar e resolver adequadamente esse problema, agora, têm pela frente essa batata quente se agigantando e ficando cada vez mais quente. O desafio a enfrentar é enorme, mas, tem que ser enfrentado, deve e PODE ser enfrentado.

Neste fim de janeiro vimos os trabalhos de desobstrução do leito do rio Dona Emma, solução que a maioria das autoridades adota. No entanto, voltei preocupado com o que vi, pois, ali, se repete um padrão de obra emergencial, que, na prática vira obra definitiva, centrada no problema de um único lugar, sem levar em conta uma visão de conjunto e de futuro. Assunto para explicar melhor numa das próximas colunas.

Margareth Guenther, numa das excursões da Acaprena, subiu num caminhão estacionado para posar ao lado de enormes toras de árvores vindas dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Foi assim, que nossa civilização “inteligente” começou a “resolver” o problema da escassez de madeira na região Sul, motivado pelo desmatamento irracional e criminoso de nossas florestas. Depois de termos destruído as florestas do Sul e de quase toda a Mata Atlântica, partimos para a destruição das florestas do Centro-Oeste (caso desta imagem) e agora ataca-se violentamente a grande Floresta Amazônica. Até quando?


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