Nascidos na pandemia: conheça a experiência de mães que tiveram bebês durante a quarentena
Para pediatra, recém-nascidos foram beneficiados
Bebês nascem todos os dias, aos montes. Durante a pandemia – que no Brasil já alcançou sete meses – não é diferente. Mas como é a experiência de passar pela gestação e ter uma criança em meio a esse mundo modificado? Duas mulheres que viveram essa situação e estão atualmente criando filhos nascidos na pandemia relataram ao jornal O Município Blumenau.
Cristina Menegazzi é uma delas. Com 33 anos, a primeira gravidez aconteceu durante a pandemia – foi descoberta em dezembro – e com gêmeos. Leonardo e Bernardo Menegazzi Borghezan fizeram parte de uma gestação bem atípica.
Sabendo dos riscos para os bebês e em meio a pior parte da pandemia, Cristina passou grande parte da gravidez em casa, “não saindo para praticamente nada”, como ela mesmo diz. E essa situação foi a mais complicada, já que era um sonho se realizando e ela não podia dividir o processo de gestação com praticamente ninguém, além do marido – Fábio Borghezan, de 39 anos.
“Minhas tias, nossos pais, nossos avôs, praticamente não tiveram contato com a barriga. Demorou para eu visitá-los e quando fui, era mais distanciado, por eles ter mais idade. As vezes do portão, da janela”, conta Cristina.
O tradicional chá de bebê precisou ser surpresa, organizado por amigas e da forma que foi o padrão da pandemia, como “charreata”. Elas vinham de carro, deixaram os presentes na garagem e acenavam, diziam as palavras de carinho, sem o contato físico.
Mas também há o lado positivo. A possibilidade de ficar e trabalhar em casa, tendo maior tempo de descanso, uma alimentação mais regrada, deu mais segurança para Cristina durante a gestação. Porém, essa tranquilidade não foi a mesma após o nascimento.
Três dias na UTI
Os gêmeos nasceram no dia 6 de agosto, com apenas 34 semanas e num parto induzido, devido a uma situação de pressão alta de Cristina. Ela ainda teve uma hemorragia e precisou ficar três dias em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Quando tudo passou, ela foi pra casa para ficar com os bebês. Mas ela conta que o medo de deixar que qualquer coisa acontecesse com os filhos, fez com que ela fosse mais rígida em relação ao contato externo.
Por isso, as visitas demoraram, iniciaram apenas com os pais dela e o marido, mas só depois de todos realizarem o teste de Covid-19. Os colegas até vieram depois, porém, vendo a distância, pela janela.
“Agora a gente já está começando a planejar mais as visitas, porque é importante. Eu e meu marido já estamos discutindo como vamos fazer pra ser algo mais seguro. Mas por enquanto mesmo eles ficam mais comigo, a gente até desse pra passear e tudo mais, mas sempre cuidando muito”, relata Cristina.
Primeira filha
Outra mamãe que passa por essa experiência é Bruna da Silva Ramos. Ela é advogada e com 31 anos é mãe de primeira viagem da Sophia Remos, filha também de Júnior Remos.
Bruna conta que tudo começou na virada de 2019 para 2020, quando descobriram a gravidez. A partir daí, iniciaram essa experiência normalmente, como todo mundo.
Porém, em março a situação começou a mudar, a pandemia chegou ao Brasil e a quarentena iniciou. O primeiro problema – e muito sentimental – foi que na consulta de descoberta do sexo do bebê, o pai não poderia estar presente, devido à necessidade de isolamento social.
“Ele não podia entrar comigo. Então pedimos pra médica anotar num papel o sexo e a gente abriu só em casa, juntos, só nós dois. Foi muito emocionante, mas o momento que queríamos mesmo era no ultrassom, vendo juntos, que é mais especial, né?”, lamentou Bruna.
Como ela é advogada e trabalha sozinha em escritório, apesar de ficar em casa, como a maioria das pessoas, ela precisava sair algumas vezes. Porém, sempre tomando os cuidados necessários, que traziam a segurança pra ela, e consequentemente pro bebê, que ainda estava na barriga.
Após o nascimento, no dia 17 de agosto, a situação mudou um pouco. Segundo Bruna, foram ao menos 15 dias em que não houve visita e ninguém, além dela e marido, viram Sophia. Apenas após esse período mais sensível e com todos os familiares e colegas comprovando segurança, é que começaram a conhecer a nova integrante da família.
“Não proibi ninguém de visitar. Mas claro, sempre com segurança, tomando todos os cuidados. E eu também sempre estou junto, até quando vou trabalhar, que levo ela. Por sorte ela é bem tranquila, sempre dorme comigo no trabalho”, explicou Bruna.
E o que a pandemia pode representar para o bebê?
Aliás, essa proximidade, esse tempo a mais com o bebê, é o que a pediatra Marcela Barros e Sousa, aponta ser o benefício para a criança. Segundo ela, o sonho de todo pediatra é que a mãe tivesse ao menos um ano de licença maternidade, para poder dar toda a atenção para o filho.
“Até os dois anos de idade, o bebê quer ser o centro das atenções. O perfeito seria que a criança só fosse à creche com cerca de três anos. O restante, ficasse com os pais, tendo essa proximidade que pra eles é essencial”, destacou a doutora.
Ela ainda aponta que não é algo ruim nos primeiros meses as visitas serem raras, até porque, isso protege o bebê de possíveis vírus, infecções e doenças, que podem ser transmitidas pelo contato de outras pessoas, já que é normal que todos queiram tocar, beijar e pegar no colo recém-nascidos.
“O contato social, com outras pessoas além de pai e mãe, é importante a partir dos seis meses. Antes disso, é mais um benefício ela estar “mais isolada” socialmente falando”.
O risco nesta situação é o humor dos pais que estão o tempo todo com a criança. Para a doutora, o que mais se tem visto são pessoas estressadas, cansadas e com ansiedade devido à pandemia. E esse quadro é arriscado para o bebê, já que isso pode ser repassado ao filho.
Crianças maiores
Já para as crianças maiores, em idade escolar, a pandemia é um grande risco. Isso porque nessa idade é muito importante a socialização com outras pessoas da mesma faixa etária, a prática de atividades físicas, entre outras situações.
“Enquanto para os recém-nascidos foi benefício a pandemia, por tudo que já falamos, para os maiores é mais complicado. Uma criança consegue ficar jogando horas no computador, mas prestar atenção numa aula, fazer uma atividade por quatro, cinco horas, é muito mais difícil”, destaca.
Segundo ela, o ficar em casa para eles precisa ter planejamento, pois há grande risco de causar problemas como obesidade, ansiedade e até depressão.
“No início era mais complicado, mas atualmente, com todo cuidado é claro, é importante que os pais levem as crianças pra fazer atividades físicas, consigam chamar algum amigo pra casa”, conclui.