No verão de Blumenau, maioria das fontes e chafarizes das praças está seca
Prefeitura aposta em lei que permite a empresas adotar espaços públicos para reativar equipamentos desativados
A menina se desvencilha da mão da mãe e corre em direção ao chafariz. O desafio é tentar encostar nos pingos d’água que caem dos jatos que sobem com força. Os braços pequenos impedem a missão, mas não acabam com a diversão do momento. A cena dura pouco. É hora de voltar a dar as mãos e caminhar pela Praça Fonte Luminosa, na área central de Blumenau.
Episódios como esse eram frequentes (e continuam na memória de muita gente) nos anos posteriores à década de 70, quando a fonte foi construída na Praça Mascarenhas de Moraes. Os tempos são outros. As depredações e a falta de orçamento público, aos poucos, secaram fontes como a que deu nome ao terminal de ônibus.
Atualmente, de oito praças com chafarizes em pontos de alta circulação visitados pela reportagem do Município Blumenau, cinco estão desativadas. Das três ainda em funcionamento, só duas jorram água com frequência e ajudam a aliviar a sensação de calor no verão blumenauense.
Solução à vista
O Diretor Municipal de Serviços Urbanos, Michel Maiochi, conta que uma alternativa já existe para solucionar o problema. Uma das diretrizes do Programa Cidade Jardim, criado há quase um ano, é permitir a concessão e manutenção de praças e jardins da cidade à iniciativa privada.
A ação tem o intuito de reduzir em R$ 1,1 milhão os custos da Secretaria de Conservação e Manutenção Urbana e melhorar os serviços prestados. Desde então, das 97 praças da cidade, 22 já foram adotadas por empresas. Porém, nenhuma delas têm fontes.
A exigência é que o adotante faça apenas as roçadas e deixe a jardinagem em dia. Mesmo que um lugar como o da Fonte Luminosa seja adotado, não é garantia de que as águas voltarão a embelezar a praça – tudo vai depender da boa vontade e do orçamento dos novos responsáveis.
Segundo Maiochi, a expectativa é de que até a metade deste ano 60 praças sejam concedidas às instituições privadas. Ele explica também que a prefeitura fará um levantamento do dinheiro necessário para revitalizar os principais chafarizes de Blumenau e buscará apoio empresarial para que os trabalhos possam ocorrer.
Em ao menos um caso, a fonte em frente ao Castelinho da XV, melhorias já estão ocorrendo. Confira a situação caso a caso.
Praça Victor Konder
Há quase 90 anos há duas grandes fontes em frente à prefeitura. Ambas funcionam de acordo com Maiochi. Passaram por uma reforma recentemente, com a ajuda da iniciativa privada, mas são ligadas apenas de tempos em tempos (ou quando há algum evento).
Quando estão vazias é sinal que a Diretoria de Patrimônio está realizando alguma manutenção.
Praça da Paz
O Rotary Clube de Blumenau inaugurou a fonte, atrás da prefeitura, em 2006 em comemoração aos 100 anos da organização. As águas que saem de quatro pontos, representando os pontos cardeais, banham o Globo com as mãos abertas, simbolizando a união com todos os povos da terra. Os jatos só funcionam vez ou outra por causa de um constante vazamento que compromete a fonte.
As manutenções, que são feitas pelo município, ocorrem regularmente. A despesa da bomba é paga pelo Rotary.
“Esse vazamento está em algum lugar que a gente só vai descobrir se quebrar a fonte inteira. Vaza água só quando a bomba está ligada. A gente já reformou, passou fibra de vidro dentro, mas não adianta, não descobrimos onde está o vazamento. Como ela liga de tempo em tempo sozinha, a cada uma ou duas semanas passamos lá para completar de água”, explica Maiochi.
Museu da Água
A fonte foi inaugurada em 1999 junto com o museu. As chuvas em maio do ano passado danificaram o reservatório da ETA 1, que está em manutenção desde então e, por consequência, houve o desligamento da fonte. Segundo a autarquia, o Samae estuda uma manutenção geral no Museu e no reservatório e, até isso sair do papel, a fonte permanecerá desligada.
Praça do Teatro Carlos Gomes
A fonte na Praça do Teatro Carlos Gomes existe desde 1996. Uma vez por mês ou quando o lixos jogado por pedestres (como pontas de cigarro) entope a tubulação, o teatro realiza a manutenção. A limpeza e o cuidado com os jardins é de responsabilidade da prefeitura.
Praça dos Músicos (Gaitas Hering)
A ideia é um refresco para os dias de calorão blumenauense. Os inúmeros jatos d’água saem do chão e atingem quem passa. Porém, muitos não sabem dessa possibilidade que existiu na Praça dos Músicos. Há quem duvide que um dia a fonte mais divertida da cidade, que esse ano completará uma década, chegou a funcionar. A estrutura, inclusive, parece ter sido montada em um lugar inapropriado.
“A concepção talvez não foi a mais adequada para o local. Ela está em uma cota bem baixa, tem o problema de esgotamento sanitário, um conflito nos canos. Para mexer nisso tem que abrir a praça e a gente não conseguiu fôlego e recurso para fazer isso ainda”, lamenta Maiochi.
Praça Marechal Mascarenhas de Moraes (Praça da Fonte Luminosa)
Aqui, o problema é mais crítico que o da Praça dos Músicos. Na enchente de 2008 as águas danificaram as bombas, que ficavam enterradas no solo. Uma opção é colocar os equipamentos em um local mais alto ou substituir todo o sistema por um novo. Qualquer uma das ações exige estudo e, claro, dinheiro.
Além do problema estrutural, Maiochi conta que o local é alvo constante de vandalismo. Na gestão do prefeito João Paulo Kleinübing houve uma grande reforma nos chafarizes. Mas as “águas dançantes” duraram pouco tempo. A fonte foi depredada.
“A gente perde o desejo de querer fazer. O município tem obrigação de fazer, sim, mas parece que a gente faz para quebrar. É difícil conseguir as coisas na prefeitura, tem que licitar, tem que comprar, tem que empenhar, esperar chegar, fazer a mão de obra… Tudo demora. Para quebrar é tão fácil”, lamenta Maiochi.
Praça João Mosimann
A praça em frente ao Castelinho da XV é um dos lugares preferidos por aqueles que desejam assistir aos desfiles da Oktoberfest. Após os dias de folia, o cenário geralmente é de destruição. É por isso que a fonte normalmente é desativada e a manutenção no jardim só ocorre depois da festa – algo feito pelo dono do bar e restaurante Tunga, Silvio Mário Nuhs.
Porém, no ano passado, problemas na tubulação fizeram a fonte ser desligada já no início de 2017. Nuhs, mais uma vez, decidiu resolver a questão. Acionou a prefeitura e se comprometeu a pagar todo o material, desde a bomba d’água até o gesso para reformar os anjos que enfeitam os dois chafarizes.
A Fundação Cultural localizou a artista plástica que se voluntariou a fazer o restauro. Com a ajuda do Samae, a Secretaria de Serviços Urbanos vai trocar o encanamento e a bomba. A ideia é que neste primeiro semestre tudo volte a funcionar:
“Não custa ajudar, deixar bonitinho. Eu fico feliz em ver tudo funcionando”, comenta Nuhs.
Praça Juscelino Kubitschek de Oliveira (Prainha)
A fonte que encantava o público, principalmente à noite, não existe mais. Com as reformas ocorridas após a sua inauguração, no início dos anos 80, ela foi retirada para dar mais espaço ao pátio. O novo projeto de restauração prevê um espelho d’água no local, mas para isso se tornar realidade a prefeitura aguarda a liberação do recurso do governo do Estado.