Número de acidentes de trabalho cai, mas de mortes aumenta em Blumenau e região

Dados comparativos mostram mudanças nos últimos anos

Na última década, os acidentes de trabalho registrados Centro de Referência em Saúde do Trabalhador da Macrorregião de Blumenau (Cerest) tem caído ano a ano. De 2010 a 2021, por exemplo, a queda foi de quase 60%. Entretanto, ainda assim, o número de óbitos na região tem aumentado.

Os dados do ano passado colocam Blumenau como a 4ª cidade a registrar mais acidentes de trabalho em Santa Catarina, com 1.871 notificações. As três primeiras são Joinville (4.512), Florianópolis (2.425) e Chapecó (2.311).

Considerando todo o Brasil, a colocação blumenauense é de 41º lugar entre os 5.570 municípios e distritos levantados. Os dados consideram apenas a população com vínculo de emprego regular.

Dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho mostram a série histórica de acidentes de trabalho notificados em Blumenau. Enquanto houve uma crescente entre os anos de 2007 e 2010, a redução foi significativa na última década.

Os acidentes habituais de trabalho, especialmente de trajeto e dentro das empresas, deram uma amenizada. Porém, os fatais estão aumentando. Especialmente com trabalhadores que não usam equipamento de proteção”, cita Juliana Rigo, coordenadora municipal de Vigilância Sanitária Ambiental e Saúde do Trabalhador.

Como exemplos, ela citou o trabalhador de Itapema, que caiu de 14 andares em uma construção, e Diego Machado, de 22 anos, que morreu após cair de uma altura de 10 metros enquanto trabalhava em Indaial.

Fonte: INSS (2000-2017, AEAT; a partir de 2018, CATWEB) | Tratamento e análise: SmartLab

Em 2020 também é possível observar como o isolamento social e a parada de alguns serviços fez com que o número de acidentes de trabalho reportados caísse. Ainda assim, dois óbitos foram registrados naquele ano.

“A pandemia contribuiu, mas não foi só ela. Além do trabalho de prevenção que fazemos, sabemos que as obras ficaram paradas por muito tempo, empresas reduziram o número de funcionários e algumas escaladas foram reduziras”, comenta Juliana.

Como explica a coordenadora, o trabalho deles vai desde a prevenção, orientação e conscientização dos trabalhadores dentro do seu local de serviço. Além disso, o Cerest também fiscaliza as empresas quando acionado pelo Ministério Público do Trabalho.

Trabalhadores da saúde são os mais afetados

No ano passado, 2021, o destaque dentre os setores foi o de atividades de atendimento hospitalar, representando 13,5% do total. Entretanto, isso não tem relação com a pandemia. Historicamente, desde 2012, eles são os mais afetados.

Em seguida vem a fabricação de artefatos têxteis para uso doméstico, o comércio varejista de alimentos, a fabricação de geradores, transformadores e motores elétricos e a coleta de resíduos não-perigoso.

Dentre as ocorrências, os destaques são para esmagamentos, fraturas, cortes, escoriações e distensões. Duas das 1.871 notificações envolviam menores de 18 anos.

Subnotificação

Apesar dos mais de 1,8 mil casos notificados em 2021, o Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho calcula que mais de 30% dos acidentes não são notificados. O levantamento aponta que cerca de 582 ocorrências deixaram de ser reportadas em Blumenau.

Essa estimativa é feita a partir de afastamentos previdenciários. Afinal, muitos registros de acidentes são oficializados no momento da concessão do benefício, sem emitir a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT).

“Muitas vezes isso acontece porque, no atendimento no hospital, o médico nem sabe que o acidente foi de trabalho e o CAT não é emitido. Normalmente não se trata de ma fé, mas sim no fato de que o foco no pronto socorro não é este”, explica Juliana.

Isso sem contabilizar todo o universo de trabalhadores autônomos, que não são registrados e, portanto, não entram na conta. “Os dados, na realidade, são bem maiores“, alerta a coordenadora.

Mortes em Blumenau

Apenas neste ano, cinco trabalhadores registrados morreram após sofrerem acidentes de trabalho em Blumenau. Em março, o pedreiro Salvador Raiser, de 65 anos, morreu após cair do telhado de uma construção no bairro Tribess.

Outros dois óbitos envolvendo quedas de altura na construção civil foram notificados ao Cerest de Blumenau. Entretanto, as identidades das vítimas não foram divulgadas.

Em abril, Josmar de Sene Lima foi esmagado por um elevador de serviço no supermercado Giassi. De acordo com a perícia, o equipamento nem poderia estar funcionando. Poucos dias depois, Otavio Henrique Teles Boaventura morreu eletrocutado em uma obra no Itoupava Central.

Em 2021, a cidade registrou três óbitos, dois deles na construção civil. Ou seja, o número quase dobrou antes mesmo da metade de 2022.

 

Fonte: INSS (2000-2017, AEAT; a partir de 2018, CATWEB) | Tratamento e análise: SmartLab

“Sempre que temos um registro óbito fazemos uma parceria com os dados epidemiológicos para investigar o que realmente ocasionou o óbito. Queda, esmagamento ou acidente de trabalho convencional. É feito todo um estudo”, esclarece Juliana.

Os únicos anos sem morte por acidente de trabalho foram 2019, 2008 e 2007. Ainda assim, 2007 e 2008 foram os que registraram maior número de ocorrências, com 4.747 e 4.939 respectivamente.

Cerest

O Centro de Referência em Saúde do Trabalhador da Macrorregião de Blumenau (Cerest) atende mais de 50 municípios das regiões do Alto Vale, Médio Vale e Foz do Rio Itajaí. Ele é responsável por coordenar a política municipal de saúde do trabalhador.

Dentre as responsabilidades estão dar assistência ao trabalhador, fiscalizar as condições de trabalho e garantir a vigilância da saúde deles. Com 25 anos de atuação, a estrutura de Blumenau conta com mais de 20 profissionais.

Dentre eles estão enfermeiro do trabalho, fisioterapeuta, psicólogo, assistente social, fonoaudiólogo, técnico em segurança do trabalho e técnico em vigilância sanitária e saúde ambiental.

A unidade conta ainda com um ambulatório municipal de referência em saúde do trabalhador. O atendimento no local está disponível para moradores do município ou pessoas que atuam em uma empresa situada em Blumenau, que sejam vítimas de acidentes ou doenças de trabalho, mediante o encaminhamento médico de um hospital ou uma unidade básica de saúde.

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