O pernambucano que começou guardando carros em restaurante de Blumenau e agora é autor dos drinks do local
Lucas Oliveira de Moura começou cuidando do estacionamento do restaurante
Com o coração repleto de coragem e com o dinheiro adquirido a partir da venda de uma motocicleta, Lucas Oliveira de Moura, de 30 anos, saiu do interior de Recife, no Pernambuco, e veio construir sua vida em Blumenau.
Há cinco anos ele tomou a decisão de deixar sua cidade natal e se arriscar em outro local. No início, estava triste, tinha muita saudade de casa e vontade de ir embora. Porém, um tempo depois, Lucas se encontrou e, na cidade, descobriu a sua vocação.
De Recife para Blumenau
O principal motivo que levou Lucas a vir para Blumenau foi a dificuldade de encontrar emprego em Recife, e os comentários que escutava sobre as vagas que existiam em Santa Catarina.
“No primeiro ano eu tava tão triste que comprei uma bicicleta para mim e só fazia chorar, passei uma semana chorando. Uma saudade de casa e vontade de ir embora. Mas deu certo. No fundo, eu sabia da minha força de vontade, mas quando você está sozinho em outro estado complica demais, você não tem apoio de ninguém”, lembra.
O desafiador início
O primeiro trabalho que Lucas conseguiu em Blumenau foi em um supermercado. Contudo, um tempo depois, ele fez entrevista para trabalhar no estacionamento do restaurante Nonno Nico, do Grupo Martins, e conseguiu.
Comunicativo por natureza, Lucas comenta que costumava cumprimentar e tentar conversar com os clientes e com quem passava na frente do estabelecimento. Porém, lembra que nem sempre os blumenauenses recebiam a atitude tão bem.
“O pessoal daqui não abraça muito você, né? No começo aqui. Porque eu sempre ficava na frente do restaurante dando boa noite para quem passava, falando com todo mundo e o pessoal não recebia isso tão legal, achava estranho uma pessoa estar dando boa noite ali”.
A partir do bom trabalho que executava, Lucas cultivou uma forte amizade e parceria com os donos do restaurante: “eles foram muito gente fina comigo”, afirma o pernambucano. Contudo, ele sempre quis atuar dentro do estabelecimento.
Descobrindo uma vocação
Por fim, após 1 ano e 4 meses no estacionamento, ele começou a trabalhar dentro do restaurante. Lá dentro, Lucas descobriu um sonho e uma vocação. No início, ele lavava copos e ajudava no que fosse preciso. Observador e ágil, passou a auxiliar o barman quando tinham muitas comandas.
Um tempo depois, um dos donos percebeu a atitude e o chamou para ser barman durante o período matutino. Conforme Lucas, o novo cargo deu super certo. Motivado com a nova função, decidiu que iria se dedicar aos estudos para se aperfeiçoar no trabalho. Ele fez cursos de barman, mixologia e consultoria em bar. Além disso, começou a ler muitos livros sobre o tema.
Mais tarde, o barman que trabalhava no período noturno entrou em férias e pediram para Lucas ficar no lugar dele. Foi ali que ele de fato conseguiu mostrar que tinha a competência necessária para o trabalho. Atualmente, faz dois anos que Lucas, apaixonado pela função, trabalha oficialmente como barman.
“Na minha visão hoje, você tem que ser bom no que você faz, para conseguir evoluir. Você não pode ser um rapaz ruim no estacionamento, que será um barman ruim. Eu trabalhei sendo eu mesmo, atendia as pessoas muito bem”, afirma.
Olho Grego
Em janeiro deste ano, o grupo Martins abriu o Mailde Bistrô e Bar. Confiantes com o trabalho e criatividade do barman, eles deram a oportunidade para Lucas produzir de maneira autoral a carta de drinks do local. O mais pedido da casa é o intitulado “Olho Grego”.
Como todos os drinks criados por Lucas, o Olho Grego possui uma história por trás. No fim de semana antes da abertura do novo restaurante, Lucas foi à praia. Lá, sem nenhuma pretensão, ele fez a receita. Na terça-feira, o bistrô abriu já com o novo drink.
“As pessoas gostam muito do Olho Grego porque a história é muito mística, para espantar mau-olhado e coisas ruins. Ele tem uma pegada de anis, vodka, licor de curaçau blue, limão e duas espumas, uma de limão-siciliano, mais cítrica, e uma espuma azul, de gengibre com licor de laranja”, explica.
Principais criações
Além do Olho Grego, Lucas também cita outras criações das quais mais se orgulha. No cardápio do Mailde, um dos mais pedidos é o Provencia, feito com figo macerado com vodka, limão, licor de laranja, xarope de laranja e alecrim.
Outro que os clientes gostam muito é o Veneza, feito com morango e com borda de canela. O drink Sardenha, feito com abacaxi, mirtilo e rum, também é um queridinho do local.
Processo criativo
Sobre o processo de criação, o pernambucano afirma que muitas ideias vêm através de sonhos. Depois, ele procura os significados do que sonhou e estuda a história daquilo. Uma das coisas que Lucas se orgulha é de conseguir contar para os clientes, caso se interessem, qual é o motivo de cada ingrediente e a explicação da escolha de determinado nome.
Se tornando mixologista
Após sua primeira criação de carta de drink autoral, o barman vem trabalhando em novas produções. No momento, ele está fazendo a carta de drinks do Aikau Poke.
“Cara, eu não tinha nada e agora já tenho um apartamento que vou pegar em dezembro, um carro meu mesmo. Uma coisa que eu comecei de bicicleta, um desespero da bexiga, uma vontade de desistir e ir pra casa”, relembra Lucas.
Cultivando sonhos
Lucas acredita que a palavra que o define é “sonhador”. Ele conta que seu objetivo é virar o mixologista do grupo Martins. Ou seja, o profissional que trabalha exclusivamente na criação de bebidas para os restaurantes.
Outro sonho que Lucas cultiva é participar do Bar Convent Brasil, que acontece em São Paulo. Durante quatro dias, o evento sedia vários concursos e palestras. “Tem que sonhar para poder realizar”, defende.