O que explica a queda de 75% no número de acidentes com bicicletas em Blumenau
Expansão das ciclovias e campanhas educativas surgem como hipóteses para o aparente aumento na segurança
Esta reportagem foi produzida por estudantes do curso de Jornalismo da Furb. Ela integra o jornal laboratório aParte, publicado neste mês de novembro pela universidade.
Por Odair José da Silva e Anna Clara Uliano
Andar de bicicleta em Blumenau parece estar mais seguro ultimamente. É o que mostram os números do Seterb. Entre 2005 e 2016 houve uma queda de 75% nos índices de acidentes envolvendo ciclistas – de 265 ocorrências para apenas 65 no ano passado.
A tendência de diminuição não é exclusiva dos acidentes com ciclistas. O número total de ocorrências, considerando também carros, motos, caminhões, entre outros, também teve redução, só que menor: 58%.
Márcia Pontes, especialista em trânsito e representante do movimento Maio Amarelo em Santa Catarina, afirma que é difícil dizer por quais motivos há queda no número de acidentes. “É preciso fazer um estudo detalhado, tentar buscar indicadores de confiança”.
Uma hipótese levantada por várias fontes é de que o número de acidentes caiu porque a Guarda de Trânsito mudou a metodologia de registro de acidentes em 2014. Os agentes deixaram de se deslocar até as ocorrências em que não há feridos. Isso provocou uma redução de 48% um ano após a medida ser tomada. Porém, a redução havia começado bem antes (veja gráfico).
Além disso, o número de acidentes com vítimas – que continuam sendo registrados normalmente pela guarda – também caiu: 13%. Ou seja, a mudança de metodologia não explica o fenômeno. Para Giovani Seibel, vice-presidente da ABC Ciclovias, os números apresentados pelo Seterb precisam ser verificados, pois muitas pessoas não registram o boletim de ocorrência. No entanto, isso também ocorria em 2005, quando o número de acidentes era bem maior.
Para o Seterb, o principal motivo da diminuição é a legislação mais efetiva, a melhora na formação dos condutores e a conscientização de motoristas, ciclistas e pedestres em relação ao trânsito. As pessoas estariam mais cientes de que para se ter um trânsito menos violento e mais seguro depende da atitude de cada um.
Mais ciclovias, menos acidentes
Nos últimos onze anos houve uma queda de 75% no número de acidentes com ciclistas. Esse período coincide com a ampliação do sistema cicloviário da cidade. Essa é uma das hipóteses da redução de acidentes, levantada por quem pedala pela cidade.
Em 2010, eram 44 quilômetros de ciclovias, ciclofaixas e passeios compartilhados, segundo dados da ABC Ciclovias. Em 2013, Blumenau já tinha 58 quilômetros, de acordo com os dados da Prefeitura. E neste ano os ciclistas dispõem de 82 quilômetros. Não há dados de todo o período à disposição, mas é certo que desde 2005 a ampliação é gradativa.
Larissa Rachor, 20, utiliza a bicicleta para ir à faculdade todos os dias. Ela já sofreu um acidente de bike, mas não sente medo de sair pedalando pela cidade. “Eu acho cada vez mais seguro, pois têm mais ciclovias e ciclofaixas”, afirma a estudante.
O arquiteto e urbanista e especialista em planejamento cicloviário, Fabrício José Barbosa, propõe que seja feita uma avaliação de onde os ciclistas pedalam e o risco envolvido na estrutura. Só assim para avaliar se as ciclovias e ciclofaixas têm influência na queda dos acidentes.
“Um dado consagrado em países europeus é o de que, se as mulheres e idosos consideram totalmente seguro pedalar numa estrutura cicloviária, é porque ela realmente é segura”, afirma.
Ciclistas ainda morrem no trânsito de Blumenau
Os dados mostram queda no número de acidentes com vítimas envolvendo bicicletas (veja gráfico), mas eles ainda acontecem e, para algumas famílias, transformam-se em tragédia. Foi o caso de Paulo André Braga.
Tudo aconteceu por volta de 5h da manhã de domingo, 31 de janeiro de 2016. O jovem de 18 anos voltava para casa pedalando pelo acostamento da BR-470, após sair de uma festa. Foi atropelado por um motorista embriagado. Morreu após ficar internado onze dias na UTI.
Paulo teve traumatismo craniano e foi diagnosticado no hospital com morte cerebral. Era o caçula de três irmãos. O pai dele, Glaucio Gil de Souza Braga, afirma que poucas horas após o ocorrido o condutor já havia sido liberado.
O estudante do Instituto Federal Catarinense (IFC) tinha saído do Ensino Médio há pouco tempo e já pensava na faculdade. Usava a bicicleta com frequência para se locomover ao Parque Ramiro Ruediger e até a casa de amigos.
O último ciclista morto pedalando em Blumenau foi Gercindo de Souza, 54, em outubro passado. Ele foi atropelado quando pedalava no acostamento da rua Pedro Zimmermann, no bairro Itoupava Central, e morreu no local do acidente.
Controle das ocorrências
Delério Anselmo Oechsler, economista do Seterb, explica como são contabilizados os dados de acidentes na cidade: “Segundo a Organização Mundial da Saúde, são contabilizadas as mortes de vítimas que tenham ido para o hospital até 30 dias após o acidentes”, afirma. Geralmente, esse acompanhamento é feito por meio da imprensa ou de contatos com os hospitais.
Acidentes sem vítimas, em que a Guarda de Trânsito não vai até o local, são computados quando os motoristas fazem boletim de ocorrência no Seterb.
As informações do Seterb desconsideram acidentes em rodovias que cortam Blumenau. Para a especialista em trânsito, Márcia Pontes, é importante prestar mais atenção a esses dados. “Nas áreas lindeiras às rodovias estaduais e federais que cortam Blumenau é onde se registra com frequência acidentes com ciclistas”, destaca.
Medidas de segurança para o ciclista
Mesmo com essas vias destinadas aos ciclistas, são indispensáveis algumas medidas de segurança, tanto da parte de quem usa a bicicleta, como dos motoristas de automóveis, para a harmonia no trânsito.
1. Bicicletas devem circular no mesmo sentido dos motorizados, quando não houver ciclovia, ciclofaixa ou acostamento.
2. Os veículos de maior porte são responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e pedestres.
3. Itens obrigatórios dos ciclistas: campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais, e espelho retrovisor do lado esquerdo. O capacete não é obrigatório, mas recomendado.
4. Quando o ciclista não estiver sobre a bicicleta é visto como pedestre, ou seja, tem os mesmos direitos e deveres.
5. Antes de entrar à esquerda ou à direita, para outra via ou lotes ás marginais, o condutor deve ceder a passagem para pedestres e ciclistas.
6. O ciclista pode levar multa quando conduzir a bicicleta em local que não seja permitido ou de forma agressiva.
7. O motorista pode levar multa quando:
a)Não manter a distância lateral de um metro e meio da bicicleta ao passar ou ultrapassar o veículo.
b)Deixar de dar preferência de passagem a pedestre e a veículo não motorizado:
– Que se encontre na faixa a ele destinada;
– Que não tenha concluído a travessia mesmo que ocorra sinal verde para o veículo;
– Quando houver iniciado a travessia mesmo que não haja sinalização a ele destinada;
– Que esteja atravessando a via transversal para onde se dirige o veículo.